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Preços nas alturas: valores cobrados pela Honda são mesmo absurdos?

Sempre que a Honda lança um modelo importado no Brasil, é comum surgir polêmica devido ao preço (o mexicano ZR-V foi exceção). Não à toa: a marca japonesa é generalista, e com produtos comparáveis aos de montadoras como Jeep, Toyota, Caoa Chery e até alguns modelos de empresas de maior volume, como Volkswagen, Chevrolet e Fiat, dependendo do segmento.

Só que esses produtos importados são lançados com preços tão mais altos que de nacionais e alguns estrangeiros de mesma categoria que chegam a ser assustadores. Mas, em uma análise mais profunda, esses valores não são absurdos. Aliás, em um contexto global, muitos são até coerentes.

Até mesmo quando semelhantes aos de alguns produtos de marcas premium - comparação feita muitas vezes pelo público brasileiro, mas não necessariamente correta, como vocês poderão ver adiante.

Nesta semana, foi lançado no Brasil o novo CR-V, importado da Tailândia em versão única, Advance Hybrid, por R$ 353 mil. O valor alto chama a atenção, por ser mais de R$ 70 mil superior ao de outro SUV médio lançado recentemente, o mexicano Volkswagen Tiguan, que é importado do México e tem sete lugares - ante os cinco do asiático.

Além disso, é mais de R$ 100 mil superior ao do Tiggo 8, da Caoa Chery - por ora trazido da China, mas que em breve deve ser nacionalizado. Ao mesmo tempo, estou testando o esportivo Civic Type R, do qual falarei mais adiante, em detalhes. O produto, importado do Japão, custa R$ 430 mil.

Nos comentários do primeiro vídeo do Civic Type R que publiquei em meu perfil no Instagram, surgiram inúmeras comparações entre o valor do esportivo da Honda e do híbrido BMW 330e. O japonês é R$ 7 mil mais caro que o alemão. Esse custo adicional foi considerado absurdo por aqueles que apontaram a diferença.

Além disso, no vídeo do CR-V, também publicado em meu perfil, foram inevitáveis as comparações de valores com outro produto da BMW, o X1. O SUV tailandês custa até cerca de R$ 50 mil a mais. O SUV BMW de entrada tem preço R$ 300 mil. O topo de linha sai por R$ 356 mil.

Mas será que é mesmo absurdo um Honda custar mais que um BMW, nesses dois casos específicos? Isso é uma diretriz da subsidiária brasileira da montadora, ou é assim no mundo todo?

Comparações pelo mundo

Fiz um levantamento de preços desses produtos em outros mercados para mostrar que isso não é uma decisão da Honda no Brasil. Mas, antes de mostrar os números, é preciso explicar um detalhe importante. O 330e, um sedã híbrido para usar em qualquer situação, tem 5 cv a menos que o Type R e não é, em hipótese alguma, rival do hatch japonês.

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O Civic Type R é um esportivo de nicho, voltado a um público que, no geral, frequenta aquelas experiências de pista conhecidas como track days. Quem de fato tem verba para esses dois carros jamais vai optar entre um e outro, pois são pegadas completamente diferentes. Podem, podem sim ter os dois: um para cada situação.

BMW X1
BMW X1 Imagem: Rafaela Borges/UOL

Assim, se fosse para fazer uma comparação correta do CR-V com um produto da linha BMW, teria de ser com o X3. Mas dá para entender a indignação de alguns em relação a essas diferenças - e semelhanças - de preço. Ela tem a ver com a percepção de marca.

Os carros da BMW (líder do segmento de carros premium) são associados ao luxo. O mesmo ocorre com Audi, Mercedes-Benz, Porsche, Volvo e Land Rover, entre outras. Por isso, ter um BMW é, na ideia de muitos, algo muito maior que ser proprietário de um Honda, independentemente do segmento.


Na prática

No mercado norte-americano, o Civic Type R e o BMW 330e são modelos com a mesma faixa de preço inicial: US$ 45 mil. Aqui, por diversas razões, fazer a conversão para a moeda brasileira é pouco importante. Isso porque o objetivo é apenas mostrar que não são modelos com valores próximos em outros mercados também.

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Além disso, nenhum dos dois é importado dos Estados Unidos - um vem do Japão e outro da Alemanha. Mas, apenas por curiosidade, são R$ 225 mil, aproximadamente - isso sem o imposto de importação e outras taxas que fazem parte da composição de preços no mercado brasileiro.

BMW 330e
BMW 330e Imagem: Divulgação

Ou seja: pelo mundo, o Civic Type R ou é mais caro, ou custa o mesmo valor inicial do 330e. E vale ressaltar uma coisa importantíssima: por ser híbrido, o BMW estava livre de imposto de importação até o ano passado. A taxa começou a ser aplicada ao produto este ano, mas vai levar tempo para chegar aos 35% dos modelos a combustão, como o Type R - até junho, será de 10%.

Quando partimos para CR-V x X1, não dá para fazer a comparação nos Estados Unidos, pois lá só é oferecida a versão 28i do BMW, com tração 4x4. Aqui, temos a 18i. Por isso, realizamos o levantamento em Portugal.

O CR-V híbrido tem apenas uma versão naquele mercado, como no brasileiro. Começa em 62.750 euros. Já o X1 18i mais de entrada é tabelado em 43.300 euros. O MSport 18i, que é o topo de linha no Brasil, sai por 66.100 euros.

Olhando para valores no Brasil, o CR-V, por ser híbrido, passou a recolher imposto de importação de 12% em janeiro (diferentemente do 330e, ele não é plug-in). Já o X1 é montado em Santa Catarina, e pode também estar sujeito a taxas alfandegárias - dependendo do índice de nacionalização. Seu valor atual é praticamente o mesmo do primeiro lote, que veio importado no início de 2023.

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Estratégia

Por todo o mundo, os modelos citados como exemplo seguem uma lógica semelhante à do Brasil. E, para ficar entre X1 x CR-V, no mercado nacional a percepção de marca faz muitos acharem mais válido pagar R$ 356 mil em um X1 MSport do que R$ 353 mil em um CR-V Advance Hybrid, mesmo com o fato de o Honda ser 20 cm maior.

Afinal, BMW é luxo, e garante mais status que um Honda - além do fato de os dois terem potências semelhantes. Em Portugal, inclusive, há uma curiosidade. O X3 básico (mesmo comprimento do CR-V) sai por 65.400 euros. O custo extra ante o Honda é inferior a 3 mil euros e as potências, também parecidas.

Já o X3 híbrido parte de 72.900 euros. Aqui, porém, a comparação é bem complicada, já que esse produto é plug-in (tecnologia mais cara que a HEV do CR-V) e com potência bem superior. Aqui no Brasil, só está disponível o X3 híbrido, por R$ 434 mil.

Os números, porém, deixam claro que o posicionamento de preço não é apenas da Honda no Brasil. Ele tem uma lógica global. Talvez, lá fora o que mude é a percepção. A BMW é premium em todo mundo. A Honda, não.

Mas, na Europa e nos EUA, com mais opções de produtos e a preços mais acessíveis para a população, é mais fácil entender que a comparação 330e x Civic Type R e CR-V x X1 não é sobre marcas, e sim sobre produtos com diferenças leves ou profundas na usabilidade e no público-alvo.

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Honda CR-V
Honda CR-V Imagem: Rafaela Borges/UOL

Só que o CR-V tem os 12% alfandegários a recolher, percentual que, em julho deste ano, aumentará para 25%. Por isso, mesmo trazendo uma versão menos equipada, seria a alta a possibilidade de o produto ficar em faixa de preço superior ao dos demais.

Assim, a Honda optou por cobrar mais, mas oferecer diferenciais como tração 4x4, tecnologia híbrida e um amplo pacote de assistência à condução (ADAS). Isso é suficiente para justificar o valor alto? O público vai dizer, mas não um público amplo, pois a marca não tem lotes de grandes volumes do CR-V disponíveis para o Brasil.

Em situações de lotes pequenos, montadoras acabam trazendo versões completas e mais caras. Não é apenas a Honda. Como principal concorrente, a montadora apontou um produto que enfrenta os mesmos problemas e tem preço semelhante: Toyota RAV4. Não há grandes expectativas de venda para o novo CR-V.

Civic Type R

O lote anual de exemplares do Civic Type R para o Brasil é de apenas 100 unidades, e o de 2023 esgotou rapidamente. Isso porque o carro tem adoradores entre um perfil específico de público, por características como a preparação de sua suspensão, o grande trabalho para redução de peso, a tocada equilibrada e seu preciso câmbio manual de seis marchas.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

O capô é de alumínio e a tampa do porta-malas usa resina, 20% mais leve que o metal. Os freios de alto desempenho são a discos ventilados na frente, mas não perfurados. As pinças da Brembo, na cor vermelha, têm quatro pistões.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

São dois os modos de condução apimentados. O Sport muda a cor do painel digital para vermelha. No R, o mais esportivo, esse tom é mantido, mas há alteração no grafismo. Essas funções também adaptam respostas de conjunto motor-câmbio, direção e amortecedores.

Por falar em motor, o 2.0 turbo entrega 297 cv e 42,8 kgfm. O 0 a 100 km/h em 5,4 segundos não é dos mais impressionantes, embora a velocidade final seja bruta: 275 km/h. Mas o maior mérito do Type R é seu absoluto equilíbrio, e o fato de ser dos raros esportivos que permitem ao piloto trocar manualmente suas marchas. Para modelos de tração dianteira, ele é o atual recordista em uma volta no autódromo de Nurburgring Nordschleife, na Alemanha, com pouco mais de 7min44.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL
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Se a Volkswagen decidir importar o Golf R, o produto alemão será outro belo representante nesse nicho. Mas isso se a montadora alemã optasse por oferecer aqui a versão manual do hatch, o que já é um pouco mais difícil.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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