Nada de hatches: SUVs serão os novos carros 'baratos' do mercado brasileiro
O fenômeno começou antes mesmo da pandemia: com a perda de capacidade de compra de brasileiros com menor poder aquisitivo, as montadoras passaram a priorizar segmentos de maior valor agregado. Modelos como Kwid e Mobi são raros, e versões mais simples de Onix, HB20 e Polo focam os frotistas.
No caso dos três últimos, o varejo investe em versões muito bem equipadas - e mais caras. Mas mesmos esses hatches compactos estão desaparecendo. Aquele que já foi o maior segmento do país tanto em volume quanto em número de modelos tem atualmente pouquíssimos representantes.
Além de Polo, Onix e HB20, há Argo e City Hatch. O Sandero saiu de linha - sobrou apenas a versão Stepway. E que produto substitui o compacto da Renault? O SUV Kardian.
Fato semelhante já havia sido observado na Volkswagen. Em 2020, a montadora lançou o SUV Nivus. O Polo passou a perder espaço até que, entre 2022 e 2023, foi reposicionado. Ficou mais simples e ganhou a versão de entrada Track para substituir o Gol.
O Polo Track, responsável por grande parte das vendas do produto, é totalmente voltado às vendas diretas, modalidade usada por frotistas. Já os antigos clientes do hatch compacto, que antes tinha uma pegada mais sofisticada, acabaram se voltando para o Nivus.
Longa vida aos SUVs
Os exemplos de Nivus e Kardian mostram um novo fenômeno no mercado brasileiro. Os antigos hatches compactos premium estão sendo substituídos por SUVs B compactos, ou SUVs subcompactos. Após o lançamento do Nivus, chegaram o Pulse, da Fiat, e o Kardian.
Os SUVs subcompactos são modelos posicionados, em suas gamas, abaixo dos compactos. No caso da VW, o T-Cross está acima do Nivus. O Duster ocupa esse papel na Renault e o Fastback, na Fiat - embora, no caso da italiana, o Pulse tenha sido lançado primeiro.
Os produtos têm algo em comum. Eles são, na verdade, hatches. Porém, trazem vão livre do solo mais altos que os de Polo, Onix e cia. Além disso, são muito bem equipados desde a versão mais simples.
Ou seja: desempenham o mesmo papel dos antigos hatches compactos premium. Agora, no entanto, levam o nome de SUV. Isso porque essa categoria garante mais status, algo desejado pelo comprador que atualmente tem poder aquisitivo para comprar um produto zero-km.
Por isso, ser SUV se tornou garantia de vender mais. E, como estratégia de marketing, é o futuro da indústria brasileira (leia mais abaixo).
Primeira tentativa
Dar mais vão livre do solo a hatches não é fenômeno novo no Brasil. Lembra do CrossFox? Aliás, o próprio Sandero Stepway é um representante daquela época.
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Quero receberPorém, no tempo do CrossFox, nem as montadoras chamavam esses produtos de SUVs, porque ainda não havia a diretriz de que, para fazer sucesso no Brasil, é preciso ser utilitário-esportivo. Por isso, os modelos não negavam o que eram na realidade: versões mais altas de hatches compactos.
Aí veio o WR-V. Aquela foi a primeira vez que uma marca lançou uma versão com vão livre do solo elevado de um hatch - o Fit, que muitos chamam de monovolume - com um nome não associado ao do produto de origem. A montadora apresentou o carro como um SUV subcompacto - abaixo do HR-V.
Deu certo? Não deu. Apesar do nome diferente, o visual era muito semelhante ao do Fit, mas com uma traseira mais feia. O posicionamento de preços também não foi dos melhores. Valia mais a pena ter versões mais básicas do HR-V.
Agora, a Honda anunciou que o WR-V vai voltar. Porém, desta vez não cometerá os erros do passado, e usará a fórmula que já se mostrou bem-sucedida com Pulse e Nivus. O visual nada terá a ver com o do City.
Trata-se do Elevate, apresentado em 2023, e que no Japão já leva o nome de WR-V. O produto será feito em Itirapina (SP) e lançado no segundo semestre de 2025. Um dos frutos do investimento de R$ 4,5 bilhões que a marca anunciou para o País, será o primeiro Honda nacional com tecnologia híbrida - associando motor elétrico a flex.
O futuro
Por ora, os SUVs subcompactos substituem os hatches premium. Mas e no futuro? Enquanto a Renault lança o Kardian e a Honda anuncia o WR-V, pouco se fala sobre o que ocorrerá com Onix, Polo e HB20. Produtos inéditos nessa categoria? Há poucos rumores, ou nenhum.
Fato é que as marcas partem para um futuro apenas de SUVs e picapes. A Renault, por exemplo, já contou que não tem planos para outros segmentos, além desses - com exceção de categorias comerciais, como vans.
Por isso, os SUVs subcompactos deverão ser os carros de entrada no Brasil a médio prazo. Pode até existir versões menos equipadas, voltadas a frotistas. Produtos mais em conta, como o Kwid - que a Renault também chama de SUV? Não dá para descartar.
Mas, ainda assim, o mercado de carros pode ficar acessível a cada vez menos pessoas, pois SUVs são mais caros - mesmo os subcompactos. As montadoras talvez vendam menos, portanto. E o que elas ganham com isso? Quanto mais equipado (e caro) o produto, maior o ganho por unidade vendida.
E as chinesas? As chinesas têm preços mais democráticos, mas estão interessadas em elétricos ou, ao menos, eletrificados. Essas tecnologias ainda levarão tempo para ter grande volume no Brasil.
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