Obsessão por eliminar botões vira problema de segurança nos carros
A indústria automotiva passa por uma era de eliminação de botões na cabine. Há quem atribua esse fenômeno a corte de custos. Em alguns casos, é mesmo. Mas não é só isso, já que ele atinge até carros de luxo. Trata-se de uma diretriz do automóvel contemporâneo que, cada vez mais, se aproxima do conceito de smartphone sobre rodas.
A Tesla teve, no ano passado, o carro mais vendido do mundo - o Model Y. As cabines dos modelos da marca são para lá de minimalistas, sem botões e com tudo concentrado na imensa tela central que não é um multimídia, e sim o centro de comando do veículo.
Nos EUA, os jovens curtem os Tesla. Eles são, afinal, conectados, elétricos e têm tecnologias de automação que a nova geração de consumidores adoram. Fora do universo da marca americana, comandar o ar-condicionado nas centrais multimídias é cada vez mais comum.
E que tal simplificar a abertura dos vidros? No Volkswagen ID.4, por exemplo, o comando é o mesmo para os traseiros e dianteiros. Para que ter quatro botões, quando podemos colocar apenas dois?
Outro exemplo são as marcas que estão trocando os botões do volante por teclas sensíveis ao toque. Fica mais bonito e não dá ao consumidor o trabalho de ter de apertar. Ele tem apenas de tocar levemente. O que, se formos pensar, dá na mesma. Mas essa é outra história.
O problema é que essa obsessão por eliminar botões nem sempre é positiva. Por um lado, libera espaço no console central e no painel para mais porta-objetos e instalação de mais carregadores e entradas USB, por exemplo.
Só que, em muitos casos, gera problema de usabilidade. Porém, considerar comandos na tela menos intuitivos talvez seja um problema de usuários mais velhos, mas não para os jovens consumidores. Talvez.
Mas há também os casos em que a eliminação de botões gera um problema de segurança. Aqui, há alguns exemplos entre modelos lançados no Brasil este ano.
Ar-condicionado
Colocar todos os comandos do ar-condicionado na tela não é vantagem para o consumidor. Tanto que diversas montadoras que adotaram essa solução de maneira total voltaram atrás. Mantiveram sim os ajustes no monitor central, mas deixando ao menos o de temperatura sempre ao alcance, independente da página usada pelo motorista.
Algumas foram além. Mantiveram sempre à vista os comandos tanto para temperatura quanto para velocidade. Dessa forma, se o motorista quiser alterar esses parâmetros, não precisa sair da tela que está usando - como a do navegador GPS, por exemplo. Só precisará fazer isso se quiser mudar o direcionamento do ar.
O problema mesmo é quando tudo está concentrado na tela. Quem dirige o novo BYD Dolphin Mini e está usando Android Auto ou Apple CarPlay não consegue alterar nem mesmo a temperatura sem ter de dar três passos no multimídia, pelo menos. É preciso selecionar o ícone da montadora na aplicação (saindo da página do GPS) e depois procurar o do ar-condicionado.
Só então, o motorista consegue mudar temperatura, velocidade e direcionamento. Além de dar muitos passos, nessa procura pelo sistema o condutor não estará com foco no trânsito. E a distração é uma das causas comuns de acidentes. No painel central do carro, há dois botões para o ar-condicionado. Ambos só servem para ligar e desligar o sistema.
Por isso, a posição ideal para ajuste do ar-condicionado ainda é o painel central. É uma solução que aprimora a ergonomia, a usabilidade e, dependendo do carro, não exige nem mesmo que o motorista desvie seus olhos para o lado e perca a atenção no trânsito. Mas, se tiver de ser no multimídia, ao menos a mudança da temperatura precisa estar sempre na página principal.
Tudo na tela central
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Quero receberO Volvo EX30 acaba de chegar ao mercado trazendo algo que pode ser moderno para alguns, mas que ainda assim gerou muita polêmica. Até os instrumentos do carro estão na tela central, o que obriga o motorista a desviar os olhos para o lado se verificar a velocidade e outros dados.
Na prática, isso não é um problema tão grave. Claro que o ideal é ter o quadro de instrumentos à frente de olhos. Mas dá para se acostumar rapidamente com a posição adotada pela Volvo. Outros modelos, como o Toyota Etios, já investiram nesse tipo de solução no passado, sem grandes contratempos.
Em minha opinião, o maior problema é outro: o ajuste dos retrovisores externos. Para fazer isso, também é preciso ir até a central multimídia e procurar pelo componente nas configurações do carro. Já são dois passos.
Com o ícone do retrovisor selecionado, o motorista tem de escolher se quer ajustar o direito ou esquerdo. Aí, vai encontrar a posição ideal por meio das teclas sensíveis ao toque do lado direito do volante.
Porém, o que muda não é a posição do espelho, e sim da peça, que muitas vezes sobe ou desce demais ao mais leve toque na tecla. Assim, além de exigir vários passos para o ajuste, a solução deixa difícil a missão de encontrar a posição ideal.
No passado, montadoras costumavam alegar que a ausência de ajuste elétrico para os retrovisores não era um problema. Afinal, quem usa o carro é uma pessoa, que faz isso uma vez. Isso é cada vez menos verdade nos tempos atuais, ainda mais em produtos elétricos como o EX30.
Muitos clientes de elétricos são famílias que têm mais de um carro, e alternam o uso do produto a bateria no dia a dia, em centros urbanos. Além disso, em uma cidade como São Paulo, em que o rodízio municipal proíbe que veículos rodem em determinados períodos, compartilhar é bem comum.
Com o EX30, será mais complicado encontrar o ajuste ideal do retrovisor. Mas o pior mesmo é aquela situação em que saímos com um carro e, pouco depois, percebemos que o componente não está na posição ideal. Nesse caso, será necessário parar com segurança para fazer o ajuste.
Isso porque, com tantos passos e dificuldade, é impossível ajustar o retrovisor do SUV elétrico com o carro em movimento. Quem fizer isso estará desviando totalmente a atenção do trânsito e criando um grande problema de segurança. Assim, as posições ideais para o comando elétrico do componente continuam sendo as mesmas de sempre: na porta ou no painel central.
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