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Volvo 'barato' vai atormentar rivais premium? Audi parece não temer rival

O Volvo EX30 foi o grande acontecimento do mercado premium nesse primeiro semestre de 2024, por diversas razões. A principal é que o produto representa a entrada de uma marca do segmento de luxo na faixa em que nenhuma outra estava atuando até então: a de modelos abaixo de R$ 300 mil. O SUV custa entre R$ 230 mil e R$ 295 mil.

Além disso, a Volvo planeja vender mil unidades do modelo chinês por mês. Nem BMW, nem Audi, que montam veículos no Brasil, têm capacidade para entregar esse volume. Mas a China tem. O país responsável pela produção do EX30 não apenas preparou amplo volume para o SUV, como também tem eficiente estrutura logística de exportação.

Se os planos da Volvo se concretizarem, todas as marcas premium vão perder participação de mercado. Além disso, a sueca pode até mesmo ultrapassar a BMW, que já é há alguns anos líder (disparada) do segmento de montadoras de carros de luxo.

A Audi, porém, não teme a chegada do novo carro da Volvo. "O EX30 não muda em nada nossas projeções para 2024", disse o presidente da subsidiária brasileira da montadora, Daniel Rojas. De acordo com o executivo, o SUV chinês não é concorrente de nenhum dos produtos que a alemã vende no Brasil.

Concorre ou não concorre?

No primeiro mês de vendas, maio, o EX30 somou quase 500 emplacamentos. E nem foi um mês completo. O novato teve pouco mais de 15 dias de mercado. Assim, esse início mostra que as projeções da Volvo podem ser concretizadas.

Por outro lado, há possibilidade de o forte ritmo de emplacamentos ser resultado do processo de pré-venda, que começou no ano passado. Junho e julho vão mostrar um panorama melhor sobre a realidade do EX30 no Brasil.

Mas o carro, independentemente de ser ou não bem-sucedido, concorre com modelos da Audi - e também da BMW e Mercedes, entre outras? Ao olhar superficialmente para o preço dos produtos, a resposta parece óbvia é: não.

Os poucos modelos levemente abaixo de R$ 300 mil das marcas outras premium são versões de entrada, dessas que não vendem nada. Além disso, o EX30 (4,23 metros de comprimento) é menor que os SUVs de entrada dessas montadoras - como o X1, que tem 4,50 m, e o Q3.

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Inclusive, no bate-papo com Rojas, o executivo citou um Audi que tem mais a ver com o EX30. Trata-se do Q2 (4,30 metros). Esse modelo chegou a ser cotado para produção no Brasil. Porém, os planos foram abandonados, e o SUV acabou não chegando ao mercado nacional nem por meio de importação.

Mas, mesmo menor, o EX30 não poderia conquistar clientes de X1 e Q3 justamente por ser mais barato? Agora dá para pagar menos para ter um carro de marca premium. Assim, em uma análise mais profunda, não dá para descartar a hipótese de esse Volvo tirar clientes dos SUVs das marcas alemãs.

Afinal, pouco antes de sua chegada, o EX30 causou um fenômeno dentro da própria Volvo. As vendas de XC40 e C40 despencaram, pois os clientes estavam à espera do lançamento do novo produto da Volvo - conforme explicaram a esta colunistas executivos da marca sueca.

O fator elétrico

Com isso, há probabilidade de o EX30 afetar sim Q3, X1 e outros SUVs de entrada de marcas premium. Que, aliás, no geral são os modelos mais vendidos dessas montadoras no Brasil. Mas o Volvo tem uma característica que pode comprometer seu apelo entre os clientes desses produtos.

O EX30 é elétrico. X1, Q3 e outros carros do segmento são produtos a combustão. Os modelos 100% a bateria estão sim ganhando apelo no Brasil, e os BYD Dolphin e Dolphin Mini são a prova disso. Porém, têm um cliente específico: o urbano. É aquele que roda mais na cidade, ou que tem o EV como o segundo ou terceiro produto de uma família (portanto, sem intenção de cair na estrada com o veículo).

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O cliente que estava considerando Q3 e X1 para ser o carro do dia a dia na cidade pode até considerar o EX30. Já os que querem um carro sem limitações não devem colocar o Volvo de entrada na lista. Isso porque os elétricos não são ainda produtos de uso irrestrito. Aliás, a autonomia da versão de entrada do EX30, aquela de R$ 230 mil, é muito baixa: 250 km.

Mas se o EX30 fez as vendas de XC40 e C40 despencarem, não é fato que vai causar o mesmo efeito nos modelos de R$ 300 mil em diante de outras marcas? Não necessariamente. Os dois Volvo que sofreram queda também são elétricos. Portanto, têm clientes que estão à procura desse tipo de veículo.

A Audi em 2024

A perda de participação das marcas premium para a Volvo com a chegada do EX30 é inevitável - não necessariamente com redução de volume de emplacamentos. Já a queda nas vendas de produtos dessas montadoras concorrentes é uma incógnita, e a realidade ficará mais clara no segundo semestre.

Daniel Rojas, porém, traça as perspectivas para a Audi em 2024 independentemente da chegada do novo produto da Volvo. O CEO projeta que a Audi terá, este ano, vendas iguais às de 2023, que foram em torno de 6.500 unidades. Em um cenário otimista, pode chegar a 7 mil exemplares ao fim de 2024.

Essa perspectiva de estabilidade, em vez de crescimento, nada tem a ver com o EX30. É que as marcas premium não estão conquistando grande avanço em vendas em 2024, apesar da alta de cerca de 10% do mercado geral.

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A BMW até avançou um pouco. As demais estão estáveis ou registraram menos emplacamentos (inclusive a Volvo, que vendeu menos de janeiro a maio, na comparação com igual período de 2023).

Porém, Rojas prevê um grande crescimento justamente para o produto que poderia ser afetado pelo EX30. De acordo com o CEO, a expectativa é de que o Q3 venda 25% a mais que em 2023. Como é montado no Paraná, esse produto é menos dependente da conjuntura internacional - algo que vem sendo fundamental, nos últimos anos, para o sucesso da BMW, com seus carros "made in Araquari (SC)".

Em 2024, a Audi já lançou no Brasil a renovada RS6 Avant Performance e as versões quattro de A4 e A5. No segundo semestre, chega ao mercado nacional o inédito elétrico Q6.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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