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Nada de Golf ou Astra: eles estão à beira de extinção e só sobrou carrões

Lembra do Golf e do Focus? Do Cruze Sport 6? Hyundai i30, Citroën C4, Peugeot 307 e 308? Fiat Stilo e Bravo? Chevrolet Astra? Esta é a lista de hatches médios que já foram vendidos no Brasil. Os modelos faziam sucesso e de vez em quando, tinham vendas até superiores às de seus equivalentes de três volumes, os sedãs médios.

Sabe quantos modelos da lista acima restaram no mercado brasileiro? Nenhum! Em 2023, saiu de linha o último sobrevivente entre os hatches médios vendidos por marcas generalistas. Trata-se do Cruze Sport6, que a Chevrolet trazia da Argentina.

Chevrolet Cruze Sport6: a última resistência
Chevrolet Cruze Sport6: a última resistência Imagem: Divulgação

Mas o Cruze Sport6 só prolongou demais uma história que já havia encontrado seu fim nos últimos anos da década passada, quando os remanescentes Focus e Golf deixaram de ser oferecidos. O último ano completo de vendas do Ford (argentino) foi 2018, pois ele saiu de linha em 2019. O Volkswagen (paranaense) resistiu até 2020.

Em 2018, o Focus teve 2.933 emplacamentos e o Golf, 3.070. O Cruze Sport6 somou 5.535. Daí em diante, mesmo sem concorrência, o Chevrolet foi apenas desabando em vendas, com 5.320 unidades em 2019, 3.181 em 2020, 1.733 em 2021, 1.399 em 2022 e apenas 205 em sua despedida, 2023.

Auge

Para se ter ideia da decadência, o auge do sucesso desses modelos foi entre o fim da década de 2000 e o início da de 2010. Naquele período, alcançaram seus melhores números. O líder i30 (importado da Coreia do Sul, mas com preço dos rivais feitos na América do Sul) vendeu mais de 35 mil unidades em 2010 e 2011.

O Focus se aproximava das 30 mil unidades, e o Golf chegava a quase 20 mil. O mercado estava em alta, com quase 3,5 milhões de unidades vendidas em 2010, número que continuaria em crescimento nos anos seguintes - e levou a VW a tomar a decisão de voltar a produzir no Paraná o Golf em dia com o oferecido no mercado europeu (sétima geração).

Volkswagen Golf
Volkswagen Golf Imagem: Divulgação
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Em 2010 e 2011, 35 mil unidades era um número e tanto, pois havia muito mais segmentos de carros do que atualmente, o que dividia mais as vendas entre as categorias. Os hatches médios concorriam, por exemplo, com monovolumes, minivans e até com alguns compactos premium. O i30, aliás, ficou entre os 25 modelos mais vendidos do Brasil em 2010.

Mas é importante ressaltar que o período em questão foi o melhor para os hatches médios em números totais de vendas, por causa do recorde de emplacamentos do mercado à época. Porém, antes, mesmo sem ter volumes tão altos, os modelos do segmento também conquistavam boa participação - e havia inúmeros representantes da categoria no Brasil.

Decadência

O maior problema dos hatches médios não foi a decadência das vendas de carros que começou em 2015 e encontrou seu auge em 2016. Porém, ele chegou no mesmo ano em que os emplacamentos gerais começaram a cair.

Renegade e HR-V foram lançados em 2015. Até então, havia dois SUVs compactos relevantes: EcoSport e Duster. Daí em diante, as demais marcas também começaram a lançar seus representantes nesse segmento. Muitas, aliás, abandonaram diversas categorias de veículos. Entre eles a de hatches médios.

Chegada de Renegade e HR-V, em 2015, marcou início da derrocada dos hatches médios
Chegada de Renegade e HR-V, em 2015, marcou início da derrocada dos hatches médios Imagem: Divulgação
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Por que não? Baseados em carros compactos, os SUVs eram mais caros que esses modelos, mas mais baratos de produzir que os hatches e sedãs médios, produtos com plataformas mais sofisticadas. Eram, portanto, bom negócio para as montadoras.

E um negócio melhor ainda porque o consumidor queria os SUVs. Por isso, o cliente também abandonou os demais segmentos: hatches médios, monovolumes, minivans, peruas. Os sedãs médios sobreviveram por mais tempo, mas passaram a se dar mal após alguns anos, a medida que os utilitários-esportivos compactos (e posteriormente os médios) ganhavam espaço.

Quais são os hatches médios agora

Os hatches médios eram um símbolo para consumidores descolados e também para entusiastas do automóvel. Eram mais sofisticados que os SUVs compactos e muito menos conservadores que os sedãs médios. Infelizmente, não resistiram, pois não dá para bancar uma produção local para modelos de nicho.

Mas o adeus do Cruze significa que o segmento morreu no Brasil? Como categoria de relevância de mercado, com chances de obter volumes significativos, significa sim. Porém, ainda há hatches médios à venda no Brasil.

Agora são modelos estritamente dedicados a entusiastas endinheirados e fãs de track days. Parte é importada por marcas premium. Os outros são trazidos por generalistas, mas em volumes limitados e preços acima de R$ 400 mil.

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Entre os que ficaram estão o Audi A3, o BMW Série 1, o Mercedes-Benz Classe A, o Honda Civic Type R e o Toyota GR Corolla. O mais em conta é o Audi, na casa dos R$ 300 mil.

Honda Civic Type R
Honda Civic Type R Imagem: Rafaela Borges/UOL

O Série 1 começa em torno de R$ 320 mil e o Classe A sai por volta de R$ 345 mil. Os das marcas japonesas, que são carros esportivos, ultrapassam os R$ 400 mil. As vendas são extremamente baixas. No primeiro semestre de 2024, o A3 somou 187 emplacamentos, e até conseguiu se destacar na categoria.

Isso porque o Civic Type R teve 45 unidades vendidas, o Classe A 33, o GR Corolla 29 e o Série 1, 23. Os dados desta reportagem são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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