Maior coleção do Brasil tem até carros do Senna e deixará de ser 'secreta'
Cercados por plantações de morangos e outras frutas vermelhas, usadas para a produção de geleias, estão os belíssimos, bem decorados e iluminados galpões que abrigam o maior e mais importante acervo de carros do Brasil. Modelos como o único protótipo Ferrari F50 do mundo e o primeiro automóvel registrado no país ficam muito bem guardados na Fazenda Baronesa, no Alto da Boa Vista, área nobre de Campos do Jordão (SP), na Serra da Mantiqueira.
O acervo tem cerca de 400 carros raríssimos, capazes de encantar até aqueles que não dão muita bola para os clássicos. Isso porque eles não são exemplares aleatórios. A maioria tem importância fundamental não apenas para o antigomobilismo, mas para a história do automóvel no Brasil, e até no mundo.
Cerca de 40 modelos dessa coleção foram expostos a um grupo do qual fiz parte. Estavam lá alguns dos mais importantes automóveis do acervo. A má notícia é que a visitação não está aberta ao público. A boa é que, em breve, essas relíquias estarão no maior museu de automóveis do Brasil.
O museu de Campos do Jordão
A equipe responsável por apresentar a coleção e os carros no dia que visitei o local garantiu que o museu de carros clássicos com os exemplares do acervo será aberto este ano, em Campos do Jordão. O local não será a Fazenda Baronesa, no entanto ficará em uma área próxima à região.
O nome do museu também já está definido, mas seus idealizadores só vão revelá-lo mais adiante, em data ainda não definida. A estimativa é de que os cerca de pouco mais de 100 veículos da coleção sejam expostos no local de maneira rotativa.
Qual é a origem desse acervo? Parte dele é formada por carros de Lia Maria Aguiar e Luiz da Silva Goshima. Ele é diretor e conselheiro da fundação Lia Maria Aguiar, instituição sem fins lucrativos que trabalha em prol de cerca de 700 crianças e jovens de baixa renda de Campos do Jordão, investindo em pilares como educação e inclusão social. Leva o nome de sua fundadora e presidente, a empresária e filantropa que é também acionista do banco Bradesco.
Em 2018, o acervo ganhou novos integrantes, pois a Fundação Lia Maria Aguiar passou também a administrar os cerca de 170 automóveis clássicos de ninguém menos que Og Pozzoli. Falecido em 2017, Pozzoli foi um dos dos dez mais importantes colecionadores de automóveis antigos do mundo. A fundação é também criadora e investidora no museu que será inaugurado em Campos do Jordão.
Exemplares cheios de história
Os modelos mais antigos da coleção da Fazenda Baronesa são do início do século passado. Entre eles, um Cadillac 1904 e o primeiro carro registrado no Brasil. Trata-se do De Dion Bouton Vis a Vis. O automóvel, que mais parece uma carruagem, é de 1902.
Ainda na área dos carros mais antigos chama a atenção aquele que é considerado um dos mais importantes do antigomobilismo brasileiro. Trata-se do impecável Hispano Suiza 1911 resgatado do acervo de Roberto Lee, outro renomado colecionador brasileiro - também já falecido.
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Quero receberNo seção dos carros dos anos 20, 30 e 40, há luxuosos Cadillac e Rolls-Royce. Entre eles, destaque para um Lincoln de 1939 que já transportou personalidades como a rainha Elizabeth 2ª, o papa João Paulo 2º e Getúlio Vargas.
Marcas alemãs
A visita ao acervo foi promovida pela BMW. Por isso, havia uma área na qual estavam expostos apenas os modelos mais importantes da marca que a coleção da Fazenda Baronesa tem. Entre eles, chama a atenção o M3 E30, nada menos que a primeira geração do modelo, produzida de 1986 a 1991.
Ao lado, um M5 de segunda geração (E34, modelo produzido de 1988 a 1995), com direito a um belíssimo aerofólio. Há até um exemplar do Série 8, na versão 850 Ci, com motor V12. A belíssima unidade na cor branca é uma das que mais chamam a atenção na seção dedicada à BMW.
Há ainda, entre os destaques das marcas alemãs, um Audi para lá de especial. Trata-se da perua RS2 Avant azul, um dos primeiros exemplares da montadora no Brasil. O automóvel foi importado por Ayrton Senna, responsável por trazer a Audi ao País.
Senna participou de várias ações que marcaram a chegada da marca, em 1994, como a festa de lançamento e um evento em Interlagos em que rodou com jornalistas ao volante de um S4, versão esportiva do Audi 100. Mas conviveu pouco com a montadora, pois faleceu em 1º de maio daquele ano.
Um dos jornalistas que participaram do lançamento da Audi no Brasil foi Eduardo Pincigher, pela revista Quatro Rodas. Ele relembra a importância da RS2. "A Audi precisava de uma linha para concorrer com AMG (Mercedes) e M (BMW). Então, encomendou à Porsche a preparação da perua S2 (Audi 80 esportivo)."
Pincigher conta que a Porsche fez motor, suspensão e freios da perua, que se transformou em RS2. O motor saiu de Ingolstadt (sede da Audi com) com 225 cv e voltou com 315 cv. "Fez tanto sucesso que os esportivos da Audi passaram a levar o nome RS. E está aí a relevância dessa perua. É o primeiro modelo da linhagem RS."
Esportivos
O carro mais badalado dessa coleção é a Ferrari F50. Esse é um dos modelos mais lendários da história da Ferrari. Contudo o exemplar do acervo da Fazenda Baronesa tem um significado a mais. Trata-se do único protótipo F50 remanescente no mundo.
No dia da visita, ele estava ao lado de uma Ferrari de Fórmula 1 de 2012. Segundo o guia da coleção responsável pela área, esse modelo foi conduzido por Fernando Alonso. Outro destaque é um Lamborghini Countach.
Esse exemplar é especial por ser um dos poucos do mundo a trazer aerofólio, um item que o modelo não tinha. A coleção traz ainda um Diablo, um Honda NSX e exemplares raros de esportivos da Porsche.
Nem só de clássicos esportivos é feito o acervo. Há uma McLaren Senna GTR, de 825 cv, único exemplar desta versão no Brasil. Na cor laranja, o hipercarro não estava liberado para ser fotografado, pois é uma das surpresas que os idealizadores do museu querem guardar para sua inauguração.
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