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Perua de R$ 1,2 milhão: testamos carro raro que ainda resiste à extinção

Ela é tudo o que os carros estão deixando de ser. Seu segmento, o de peruas, tem raros representantes no Brasil - foi "engolido" pela categoria de SUVs. Traz motor V8, que vem sendo substituído por V6 e até quatro-cilindros mesmo nos esportivos. Além disso, não pode ser chamada de híbrida, embora tenha um leve auxílio elétrico.

Essas características fazem da nova RS6 Avant Performance uma espécie rara nas ruas. E, até por isso, o modelo é tão especial. Quando todos pensavam que automóveis como a perua esportiva estavam quase mortos, a Audi providenciou uma atualização de meio de vida para a atual geração do produto, que chegou ao Brasil em 2020.

E essa renovação investiu forte em deixar a RS6 Avant Performance ainda mais insana para acelerar e fazer curvas. O visual é praticamente o mesmo. Já o V8 recebeu modificações para ficar ainda mais potente e rápido para ir de 0 a 100 km/h.

Essa atualização com foco no desempenho surpreende ainda mais por ter sido feita em um produto da Audi. A alemã está comprometida, ainda, com a missão de tornar toda a sua linha 100% elétrica na próxima década. E, já em 2026, não lançará mais produtos inéditos a combustão - embora planeje novas gerações de carros atuais não necessariamente totalmente a bateria.

Mesmo com algumas rivais voltando atrás no propósito de só ter carros elétricos na gama, a Audi vem mantendo seus planos. Ao menos por enquanto. Por outro lado, a montadora está em uma fase em que precisa reforçar que sabe muito bem o que é um esportivo. Afinal, também em 2026, estreia sua equipe de Fórmula 1.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

E a RS6 é o maior ícone da esportividade da história da Audi entre os modelos que ainda estão em linha. Mas ela ainda tem futuro, após esta mais recente atualização? Disso falaremos mais adiante. Agora, nesta avaliação em primeira mão, vamos ver o que mudou e como acelera a perua, que tem preço sugerido de R$ 1.249.990.

O que mudou

Visualmente, a RS6 Avant Performance 2024 traz faróis mais escuros e novas saídas de escape. E só. Já o 4.0 V8 biturbo recebeu turbinas maiores, com pressão elevada de 2,4 para 2,6 bar. A Audi aplicou ainda alterações no software do propulsor.

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A potência, que antes era de 600 cv, foi elevada a 630 cv. O torque aumentou de 80,9 para 85,9 kgfm. Também foram feitos ajustes no câmbio automático de oito velocidades, que passa a entregar trocas mais rápidas, e no bloqueio do diferencial.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

A RS6 Avant Performance tem sistema de tração quattro, que é integral permanente. Traz também eixo traseiro esterçante, que permite às rodas traseiras esterçarem em um ânguilo de 5 graus. Em baixa velocidade, o sentido é oposto ao das dianteiras, o que facilita as manobras de estacionamento.

Isso é uma notícia muito bem-vinda. Afinal, em uma perua de 4,99 m de comprimento e 1,95 m de largura, toda ajuda para estacionar é válida - o modelo tem ainda câmeras 360 com função 3D e vista aérea. Já em alta velocidade, o sentido das rodas dianteiras e traseiras é o mesmo, para melhorar a estabilidade.

Outro recurso que a RS6 tem é bateria de 48V para alimentar um pequeno motor elétrico, que não movimenta as rodas. Na maioria dos carros, esse sistema, que é chamado de híbrido leve, é para reduzir as emissões de poluentes. Está se transformando em uma necessidade para que modelos como a perua esportiva com motor V8 se adequem às cada vez mais restritas leis anti-poluição da Europa.

Mas na RS6, há uma função prática também. Entre 55 km/h e 130 km/h , o recurso é capaz de desativar o motor a combustão e manter a velocidade, se esta for constante - o que é chamado de coasting. Essa ação só ocorre quando o modo de condução eficiente é acionado.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

O resultado é uma redução drástica no consumo de combustível e maior autonomia. Isso ocorre principalmente em rodovias de pista dupla, em que é mais fácil conseguir manter a velocidade constante. Não que muita gente vá comprar uma RS6 para aplicar esse estilo manso de direção mas, como curiosidade, usando o recurso dá para obter o consumo bem melhor que o divulgado pelo Inmetro - que é de 5,9 km/l na cidade e 7,8 km/l na estrada.

Acelerando a RS6 Avant Performance 2024

Mas e na hora de acelerar? O que já era bom ficou melhor. As mudanças deixaram a RS6 Avant Performance 2024 dois décimos de segundo mais rápida. De 0 a 100 km/h, a perua acelera em 3,4 segundos, e é uma das mais rápidas da categoria. Os modelos que estão à frente da Audi são elétricos ou híbridos.

No segundo caso, híbrido de verdade, e do tipo plug-in, desses que têm imensas baterias e potência e torque extras garantidos por motor elétrico. Vencem a perua no 0 a 100 km/h a Panamera Turbo S e a Taycan Turbo S - esta 100% a bateria e dona do primeiro lugar -, ambas da Porsche.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL
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A nova BMW M5 Touring, que será lançada mundialmente ainda este ano, terá mais de 700 cv de potência e deverá atingir os 100 km/h mais rapidamente que a RS6, mas também será híbrida plug-in. O modelo da Audi, portanto, consegue ficar bem próximo dessas rivais se valendo apenas de potência e torque de seu V8, o que o faz ainda mais especial para quem admira o cada vez mais raro conceito tradicional de esportivo.

E por falar no trabalho do V8, não é apenas sobre promover aceleração insana. Ele também é assustador no ronco, principalmente quando está configurado no modo dinâmico. Mesmo abafado por duas turbinas, se faz presente com aquele típico som grave na hora de acelerar.

Ainda no capítulo sonoplastia, as reduções de marcha - também no modo dinâmico, nome dado pela Audi à sua função esportiva - são acompanhadas por um instigante "ploc-ploc" de enlouquecer qualquer entusiasta.

Mas há algo sobre a velocidade final. Agora, ela é de 280 km/h. Antes, era de 305 km/h. Por que ficou mais baixa? Na verdade, 280 km/h também era a máxima no modelo lançado em 2020, limitada eletronicamente. Mas ele podia receber, opcionalmente, freios de carbono cerâmica.

Só assim a velocidade máxima aumentava para 305 km/h. O que ocorreu agora? A Audi deixou de oferecer os freios de carbono cerâmica na perua renovada, no Brasil. O que é uma pena.

Nas curvas e no dia a dia

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Imagem: Rafaela Borges/UOL
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Carros civis preparados são para entregar esportividade, para rodar em track days e, ao mesmo tempo, para usar no dia a dia. Ainda mais no caso de uma perua que, antes de mais nada, é um modelo familiar - aliás, a RS6 Avant, versão esportiva da A6 Avant, tem 565 litros de capacidade no porta-malas.

Dá para usar a RS6 Avant no dia a dia? Com certeza! É preciso tomar cuidado com a dianteira muito baixa, que pode ralar em valetas profundas. E com as rodas pronunciadas e pouco protegidas pelos finíssimos pneus 285/30 R22. Não é difícil encostá-las em guias de rua ou de garagens, e danificá-las.

Fora isso, o modelo oferece um rodar surpreendentemente suave nos modos confortável e equilibrado de suspensão. A absorção dos impactos com pisos imperfeitos é muito boa e, ainda assim, o sistema adaptativo garante à perua uma estabilidade impressionante em curvas. Até nas serras mais travadas.

Isso nos modos confortável e equilibrado. Já no modo esportivo de suspensão, a RS6 parece um carro de corrida. Fica extremamente dura, pulando demais mesmo nos pisos extremamente regulares. É uma mudança drástica de comportamento.

Por isso, o melhor mesmo é usar a suspensão esportiva apenas em track days. Ou, talvez, em serras mais travadas, mas só se não houver passageiro no carro - pois, sem experimentar o prazer de direção, eles certamente vão reclamar do desconforto.

Para facilitar, há os modos RS1 e RS2, que permitem configurar diferentes respostas para os componentes - conjunto motor-câmbio, direção, som do motor, diferencial e suspensão (além de ação do ESP, no caso do RS2). Dá para deixar tudo no esportivo, e a suspensão no confortável ou equilibrado.

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Aí, na hora de exigir mais esportividade da RS6 Avant Performance, em vez de acionar o modo dinâmico, o motorista pode usar um dos RS configuráveis. Assim, terá máximo desempenho em todos os parâmetros sem deixar a perua desconfortável além da conta.

Design e cabine

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

A perua tem grade dianteira hexagonal preta, mesma cor das quatro argolas do logotipo da Audi e das inscrições "RS6" na frente e atrás. Os faróis são full-LEDs matriciais e com tecnologia a laser. Na hora de ligar o carro, a iluminação corre de um lado ao outro, formando uma bela assinatura.

Com 1,46 metro de altura, a RS6 Avant Performance 2024 tem lanternas de LEDs e duas saídas de escape traseiras em formato oval. O porta-malas tem abertura elétrica, e a RS6 não traz estepe, que deu lugar a um kit de reparos.

Os freios são a discos perfurados na frente e atrás, com pinças na cor vermelha. O exemplar das fotos desta página traz uma cor chamada de preto Sebring, com efeito cristal - brilha conforme a incidência da luz. Há também entre os destaques o vermelho, o azul Ascari (fosco e usado na série especial Legacy, exclusiva para o Brasil) e o cinza Nardo.

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Além dessas, tradicionais branco e prata estão na linha. E quem quiser uma pintura especial da divisão Audi Exclusive paga entre R$ 54 mil e R$ 85 mil. A cabine tem acabamento que combina Alcântara, alumínio, Black Piano e fibra de carbono.

Os bancos dianteiros são esportivos, com apoio de cabeça integrado ao encosto. Há três telas na frente: quadro de instrumentos personalizável, central multimídia e uma terceira, na parte de baixo do painel central. Desta, a principal função é o comando do ar-condicionado (com quatro zonas de temperatura).

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

Além das tecnologias já descritas, a RS6 Avant Performance 2024 tem carregador de smartphone, Android Auto e Apple CarPlay sem fio e teto solar dividido em duas partes. Há ainda o sistema semiautônomo de condução e o PreSafe, que prepara sistemas da perua se perceber iminência de colisão - e pode ficar um tanto confusa com as motos que rodam no corredor da cidade de São Paulo.

Tem futuro?

O presidente da Audi Brasil, Daniel Rojas, disse a esta colunista que os modelos atuais podem sim ter novas gerações, a combustão, de 2026 em diante, até a virada de chave para a gama 100% EV, na próxima década. Elétricos serão apenas os inéditos - como o recém-lançado Q6, que chega ao Brasil no segundo semestre.

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Imagem: Rafaela Borges/UOL

Isso significa que a RS6 Avant pode ter sim futuro além desta geração. No entanto, talvez não com o mesmo nome. É que a marca deve adotar, a partir de agora, números ímpares para seus modelos a combustão - a exemplo da nova geração do A5, que acaba de ser apresentada e substitui também o A4.

Assim, os números pares, como o 6, ficariam para os modelos elétricos. Isso significa que a Audi RS6 Avant, se tiver nova geração, poderá ser RS7 Avant, irmã de nomenclatura do sedã cupê RS7 Sportback? Faz todo sentido, e não é necessariamente positivo para a história da perua. Mas vamos esperar os próximos anos para conferir se este será mesmo o caminho.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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