Sucesso ou fracasso? Por que Fiat Titano não custa o que você pensa
Ao olharmos os números de vendas de um carro e notarmos emplacamentos baixos, logo concluímos que o produto é um fracasso. Mas essa análise é equivocada em muitos casos, pois o que determina sucesso é conseguir cumprir a expectativa traçada por sua fabricante - a partir de diversos fatores, como capacidade de produção e posicionamento de mercado.
É até por isso que a maioria das montadoras prefere não divulgar a expectativa de vendas para um veículo. Afinal, assim não será possível ninguém de fora dizer que ele fracassou. A Fiat não contou, no lançamento da Titano, qual é sua meta para o carro.
Porém, divulgou alguns números que permitiram calcular essa expectativa, que é entre 700 e 1.000 unidades por mês. Ou seja: na pior das hipóteses a meta é entrar na briga com L200, Frontier e Amarok. Na melhor, superá-las.
Até agora, foram três meses completos de vendas. E foi apenas em junho que a Titano, montada no Uruguai, começou a aparecer. Somou 677 emplacamentos, se aproximando da meta mínima traçada pela Fiat.
Ficou atrás de Amarok, Frontier e L200, mas muito próximo, pois todos esses modelos tiveram emplacamentos na casa das 700 unidades. Não dá para dizer que a Titano é um sucesso, já que esse desempenho, por enquanto, foi em apenas um mês, o de junho.
Por outro lado, ao se aproximar da meta, a Titano dá sinais de que está muito mais próxima do sucesso que do fracasso. Há um consenso de que a picape da Fiat é muito inferior às outras médias feitas sobre chassi (grupo que inclui ainda Hilux, Ranger e S10).
Ainda assim, está se dando bem. Como é possível? A resposta para isso é simples: preço.
A proposta
Antes de mais nada, é preciso entender a proposta da Titano. O Grupo Stellantis, do qual faz parte a Fiat, sabia que não tinha um produto dos mais atraentes para lançar no Brasil. A picape é a Peugeot Landtrek com algumas adaptações para a marca italiana.
A Landtrek é um projeto chinês desenvolvido há cerca de 20 anos - época em que os carros da China eram aqueles ruins, muito diferentes desses que conhecemos hoje. Desde então, até passou por atualizações, mas a essência é a mesma.
Com isso, a Titano até tem algumas coisas legais, principalmente na versão de topo, Ranch. Entre elas câmeras que auxiliam no off-road e saídas de ar-condicionado atrás. Mas é um produto essencialmente desconfortável e que vibra e faz barulho além da conta.
Algo que picapes médias feitas sobre chassi eram há 20 ou 15 anos, mas não são mais. Os produtos da categoria estão cada vez mais confortáveis e tecnológicos. O motor da Titano, um turbodiesel de 180 cv, também não chama a atenção ante os usados nos outros modelos do segmento.
Por outro lado, a Titano é um produto a diesel, com sistema de tração 4x4 temporário, reduzida e muita robustez. Além disso, tem um bonito visual nas versões Volcano, intermediária, e Ranch - a de entrada é a Endurance.
Isso por menos de R$ 190 mil, preço que, para a categoria, é surreal, de tão baixo. Mas a Titano não custa isso, certo? É só olhar a tabela lá no site comercial da Fiat. A verdade, porém, é que o preço da nova picape não é aquele que você pensa.
Alto desconto
Não precisa nem pesquisar nas concessionárias, pois os números que vou passar agora estão no próprio site da Fiat - na parte de ofertas. A Titano está, neste momento, com até 16% de desconto para compra com CNPJ.
Até existem clientes de picape que não usam CNPJ para comprar. Mas geralmente isso ocorre com as versões topo de linha - como Ranger Limited Pack, Hilux SRX e S10 High Country. É que essas opções nem sempre trazem, para pessoa jurídica, condições melhores que para física.
Mas quando olhamos para as versões mais básicas, mais focadas no trabalho, a compra é quase sempre no CNPJ, pois os descontos são altos. E a Titano até tem três opções de acabamento, mas é básica. Ela não concorre com as de topo.
O cliente só precisa decidir que nível de comodidade quer: nenhuma (Endurance), intermediária (Volcano) ou um pouco mais (Ranch). Mas o modelo da Fiat jamais será concorrente da Ranger Limited Pack, por exemplo.
Quem compra é para trabalhar, e no CNPJ. Os números provam: apenas 82 das unidades emplacadas em junho foram fora da modalidade venda direta. Para o público da Titano, preço é o maior apelo. Se o produto oferecer robustez e capacidade de carga (e isso o produto da Fiat não fica devendo), vale o valor menor.
Preço também é um apelo em tanto para quem compra em quantidade, para frotas, seja para uso pesado em uma propriedade rural ou uma grande empresa (como mineradora). Aliás, a Fiat sabe como nenhuma outra vender para frotistas.
Mas, afinal, quais são esses preços da Titano? Na tabela, são R$ 220 mil para a Endurance, R$ 240 mil para a Volcano e R$ 260 mil para a Ranch. Mas, no momento, no CNPJ, a de entrada está saindo por pouco mais de R$ 189 mil.
O abatimento é de 14,1%. A Volcano, por sua vez, tem mais desconto. É ela que chega aos 16%. Está saindo por R$ 201.600. A Ranch está com o mesmo percentual, e sai neste momento por R$ 218.400. Ou seja: a versão de topo custa, na prática, menos que a de entrada na tabela.
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Opinião
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