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Mercedes-Benz muda estratégia para sair da 'lanterna' do mercado de luxo

Em 2021, o Mercedes-Benz GLA chegava ao mercado brasileiro com motor 1.3 turbo de 163 cv (mais fraco que o da maioria dos concorrentes) e preços até R$ 125 mil mais altos que o dos rivais. A montadora justificava o valor extra pela presença de tecnologias ADAS (de assistência ativa à condução), que muitos outros produtos do segmento também tinham, e acabamento com detalhes de fibra de carbono (que não vale tudo isso).

A verdade, porém, é que aquele foi um dos primeiros produtos da pior fase que a marca já teve no mercado brasileiro. Nos últimos anos, a montadora vinha cobrando muito mais que a concorrência em carros semelhantes, ou até inferiores. O resultado: a ex-líder do mercado de automóveis de luxo se deu extremamente mal em vendas.

Em 2020, a Mercedes-Benz ocupava a segunda posição no segmento premium, atrás da BMW. No ano seguinte, já perdeu mais um posto, superada pela Volvo. Em 2022, nova derrota: ultrapassada também pela Audi, a alemã foi quarta colocada.

Mas o fundo do poço veio em 2023, quando Porsche e Land Rover ficaram à frente da Mercedes-Benz. A marca apareceu, portanto, no sexto lugar. É claro que há outras premium, como Lexus e Jaguar. Mas, considerando aquelas que são tradicionalmente mais relevantes no segmento de luxo, a alemã se tornou a "lanterna" (última colocada).

A Mercedes-Benz poderia alegar que as 4.041 unidades emplacados em 2023 estavam na meta, usando uma estratégia de vender menos por mais. A realidade, porém, é que, se fosse assim, a marca não teria passado, discretamente, por uma grande mudança em 2024. A boa notícia: já está colhendo os frutos desse novo posicionamento.

Nova estratégia de preços

A Mercedes-Benz está aproveitando mudanças aplicadas em seus modelos na linha 2025 para, discretamente, adequar os preços de tabela à realidade. Porque eles estavam irreais (leia mais abaixo). O mais recente movimento é o do GLB 2025, que recebeu novo motor. O 2.0 de 190 cv substitui o 1.3 de 163 cv.

Com a alteração, o produto ficou mais atraente e, ainda assim, R$ 5 mil mais em conta (na tabela de outubro, comparando-se à de setembro). Agora, o GLB parte de R$ 369.900. Utilitário-esportivo de entrada da marca, o GLA, que antes era apenas AMG Line, ganhou em julho versão Progressive, de entrada, por R$ 339.900.

Com isso, agora traz mais competitividade diante do principal nome da categoria, o BMW X1 - que tem tabela entre R$ 299.950 e R$ 368.950. Mas essas alterações são leves se comparadas à grande redução de preços aplicadas aos modelos mais caros da marca. Um dos principais exemplos é o Classe E.

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Em maio deste ano, a BMW lançou o 530e (híbrido plug-in) por R$ 574.950. Na época, custava R$ 65 mil a menos que o Classe E (híbrido leve), cuja nova geração chegou no início do ano.

Em seguida, a Mercedes-Benz mudou as coisas no Classe E para a linha 2025. Manteve a versão E 300, mas com menos equipamentos (perdeu, por exemplo, a suspensão adaptativa) e preço atualizado para R$ 578.900.

A linha GLC (SUV e cupê) também passou por adequação à realidade. A nova geração foi lançada no fim do ano passado e, na linha 2025, o modelo recebeu um pacote de funcionalidades digitais comandadas por meio de app em smartphone. Os preços caíram até R$ 70 mil (caso do cupê).

Agora, o SUV GLC sai por R$ 509.900 (nesse caso, são R$ 21 mil a menos do que na linha 2024), mas dá para conseguir descontos nas concessionárias (tenho relatos de uma compra recente por R$ 495 mil). Ainda é bem mais que a versão equivalente do X3, a R$ 433.950. Porém, o Mercedes-Benz traz como vantagem estar disponível em uma novíssima geração, enquanto o BMW está prestes a mudar (o modelo atualizado, completamente novo, já foi apresentado na Europa).

O líder do segmento é o Volvo XC60, com tabela entre R$ 449.950 e R$ 525.950. Porém, como o XC90 acaba de passar por uma grande atualização mundial (a versão renovada ainda não chegou ao Brasil), é esperado que o mesmo ocorra, em breve, com o SUV médio da marca sueca.

Carro tem de valer o que custa

O preço alto foi a principal razão da queda nas vendas dos Mercedes-Benz no Brasil? Pode haver outros vários fatores envolvidos. Porém, fato é que as reduções nas tabelas surtiram efeito imediato de recuperação no mercado.

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Em setembro, por exemplo, a Mercedes-Benz voltou à posição de vice-líder do mercado de luxo, a mesma que ocupava em 2020, antes da disparada dos preços. A marca também já mostra evolução no acumulado deste ano, na comparação com 2023. Até agora, é a quarta colocada.

Está atrás, respectivamente, de BMW, Volvo e Porsche. A melhor notícia, no entanto, é que de janeiro a setembro de 2024 a Mercedes-Benz somou 4.585 emplacamentos. Assim, já superou seu resultado do ano completo de 2023. Os dados de vendas são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

Em redes sociais, é comum as pessoas comentarem que clientes de alto poder aquisitivo, como os da maior parte dos carros da Mercedes-Benz, não se importa com o preço. Mas a realidade é bem diferente. O consumidor pode até pagar qualquer coisa por um produto, desde que ele valha o que custa.

E a melhor maneira de saber se o preço é adequado é comparar não apenas o valor, mas também o produto com o equivalente da concorrência. E, nesse ponto, a Mercedes-Benz se deu mal. Não conseguiu convencer o cliente que valia a pena pagar mais por seus carros.

Pois a verdade é que eles não são, na maioria dos casos, superiores aos de outras marcas de luxo. São, no geral, equivalentes. A solução, portanto, foi voltar atrás, mudar a estratégia e reduzir os preços.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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