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Tamburini: veja oito obras-primas do "Michelangelo das motos"

Arthur Caldeira

Da Infomoto

15/04/2014 07h00Atualizada em 15/04/2014 17h26

Apaixonado por motocicletas desde criança, Massimo Tamburini passou a vida dedicando-se a unir forma e funcionalidade, criando algumas das mais belas máquinas sobre duas rodas já concebidas no mundo. Em inúmeras entrevistas, fez questão de dizer que nunca teve outra vocação na vida, e foi com esse legado que o designer morreu no dia 6 de abril, aos 70 anos, no principado de San Marino, em decorrência de um câncer de pulmão.

Nascido em 28 de novembro de 1943, em Rimini (Itália), Tamburini cresceu em uma região rural, o que não o impediu de desenvolver a paixão pelas motos ainda na infância: "quando eu ouvia, de longe, alguma moto andando na estrada, corria para vê-la passar. Minha mãe reclamava que eu era obcecado", contava.

No fim dos anos 60, ajudou a fundar a Bimota, junto com Valério Bianchi e Giuseppe Morri (o nome era um acróstico das primeiras sílabas dos sobrenomes de cada um deles). Inicialmente, a empresa não trabalhava com motocicletas, e sim com sistemas de ar-condicionado. Mas não por muito tempo: impulsionada pela enorme ligação de Tamburini ao motociclismo, a companhia acabou mudando de ramo logo no início da década seguinte.

Sua primeira criação foi a Bimota HB1, de 1973, que usava um motor quatro-cilindros da Honda CB 750 e logo ganhou fama pela ciclística precisa e bem projetada. Não foi preciso muito mais para que os quadros Bimota passassem a ser solicitados por diversas equipes de motovelocidade.

Aos poucos, o italiano fez transparecer o dom para criar não apenas máquinas com elementos ciclísticos e mecânicos eficientes, como também carenagens belíssimas para cobri-las. E foi por unir tamanha beleza e excelência que Tamburini passou a ser conhecido como o "Michelangelo das motos", em referência (e reverência) ao famoso pintor e escultor renascentista. A agência Infomoto presta uma homenagem ao listar aquelas que considera ser suas oito maiores criações.

BIMOTA HB1 (1973)
Foi escolhida mais pela importância histórica, já que é o primeiro projeto de Tamburini. Nascida de uma necessidade do designer (que quebrou o quadro de sua CB 750 num acidente em Misano, e precisou reconstrui-lo), a HB1 criou a reputação da Bimota em adaptar os potentes motores japoneses a um quadro que oferecia melhor maneabilidade. Equipada com o motor quatro-cilindros de 750 cc da montadora japonesa, só teve dez unidades fabricadas. Algumas já não existem mais, e as que restam custam uma fortuna.

Bimota HB1 - Divulgação - Divulgação
Bimota HB1, primeira moto desenhada por Massimo Tamburini
Imagem: Divulgação

BIMOTA SB2 (1977)
Enfim uma empresa especializada em motos, a Bimota utilizou o motor da Suzuki GS 750 para criar a SB2, uma das superesportivas mais avançadas já criadas. Dotada de um quadro de cromo-molibidênio tubular, foi uma das primeiras motos de rua com suspensão monochoque na traseira, solução que ditou tendências entre fábricas maiores. Os traços, que parecem de outro planeta, traziam muitos elementos aerodinâmicos e permitiam à SB2 chegar a incríveis 215 km/h, muito mais do que a GS 750 original.

Massimo Tamburini e Claudio Castiglione, da Cagiva - Divulgação - Divulgação
Em 1985, Tamburini foi contratado pela Cagiva e, ao lado de Claudio Castiglione, deu o salto que faltava para se tornar um dos gênios do setor
Imagem: Divulgação
CAGIVA ALETTA ORO 125 (1985)
Depois de deixar a Bimota por "razões pessoais", Tamburini foi contratado pelo homem que faria sua carreira finalmente engrenar: Claudio Castiglione, dono da Cagiva, que mais tarde adquiriria também a Ducati e a MV Agusta. O primeiro fruto dessa união foi a Aletta Oro 125, uma vanguardista esportiva de rua projetada numa época em que quase todas as motos vendidas na Itália eram trails. Equipada com um motor dois tempos de 125 cc, antecipou diversos elementos visuais que se tornariam marca registrada de Tamburini. O sucesso foi imediato: menos de um ano após o lançamento, o modelo já representava 50% das vendas da Cagiva.

DUCATI PASO (1986)
Nomeada em homenagem ao piloto italiano Renzo Pasolini, que morreu num trágico acidente em 1973, no circuito de Monza, a Ducati Paso marca a "oficialização" do que Tamburini já havia feito com a Bimota DB1, primeiro modelo que projetou usando um motor da marca italiana: carenagem completamente fechada. É também um dos modelos que inauguraram a nova fase da Ducati, recém-comprada pela Cagiva. O motor é um bicilíndrico de 750 cc, com quadro tubular de seção quadrada, balança traseira em alumínio e suspensão monochoque. Tal combinação revolucionou o segmento sport-touring.

Ducati Paso 750 - Divulgação - Divulgação
Paso 750 foi primeira Ducati com carenagem fechada criada por Tamburini
Imagem: Divulgação

CAGIVA MITO (1990)
As pistas de corrida sempre inspiraram Massimo Tamburini. Depois de desenhar a Cagiva C589, pilotada por Randy Mamola no Mundial de Motovelocidade de 1989, o desenhista projetou uma quase-réplica para as ruas, denominada Mito 125. Lançada em 1990, a moto contava com um "motorzinho" dois tempos monocilíndrico de 125cc, com câmbio de sete marchas e potência em 30 cv.

DUCATI 916 (1994)
Mesmo 20 anos após seu lançamento, a Ducati 916 ainda parece uma moto atual. Não à toa, é considerada uma das melhores criações de Tamburini e também uma das superesportivas mais bonitas do mundo. Sua construção inclui quadro em treliça, um belo monobraço traseiro, que facilita mudanças rápidas de direção, e saídas de escape sob o banco, tudo para facilitar as mudanças rápidas de direção e aprimorar a penetração aerodinâmica. Tais características se tornaram marca registrada da família de supermotos da Ducati por muitos anos. Tudo isso aliado a um propulsor L2 de 916 cm³, que pela primeira vez trazia quatro válvulas por cilindro e produzia 115 cv.

Ducati 916 - Divulgação - Divulgação
Vinte anos depois, Ducati 916 continua a ser referência de superesportiva
Imagem: Divulgação

MV AGUSTA F4 (1997)
Se algumas motocicletas são simplesmente bonitas, a MV Agusta F4 é uma verdadeira obra de arte sobre rodas. Seu desenho, praticamente inalterado desde o lançamento, em 1997, mescla um deliberado sex appeal com alta tecnologia. Tudo nessa máquina de de 750 cc virou tendência no mundo do motociclismo: das quatro saídas de escapamento sob o banco às setas integradas ao retrovisor, do farol excêntrico à sua geometria. Alguns desses itens são referência até hoje.

Logo na primeira geração, Tamburini conseguiu deixar a moto com 24,5° de cáster, 104 mm de trail e uma distância entre-eixos de 1.398 mm, número que para muitos representam o “acerto ideal" em uma moto esportiva. O resultado é uma agilidade incrível e uma excelente resposta da dianteira, permitindo que o piloto deite para valer nas curvas. Se a Ducati 916 é uma das motos mais belas do mundo, pode-se dizer que a F4 foi a obra-prima de Massimo Tamburini. Pelo menos ela era assim considerada por ele próprio.

Tamanho reconhecimento levou uma unidade do modelo a ser exposta no Museu Guggenheim, em Nova York (Estados Unidos), no fim do século passado, junto com outras 113 motocicletas na famosa exposição "The Art of Motorcycle" (A arte da motocicleta).

MV Agusta F4 - Divulgação - Divulgação
Por seus traços e geometria singulares, MV Agusta F4 é considerada a obra-primeira de Tamburini. No fim dos anos 90, modelo foi exposto no Museu Guggenheim, em NY
Imagem: Divulgação

MV AGUSTA BRUTALE (2001)
Nascida como um conceito em 2000, a Brutale começou a ser produzida em 2001 em uma versão de 750 cc. Suas linhas são icônicas e únicas, a começar pelo farol excêntrico, alongado, parabólico. E eficiente. Além de prezar pela forma, Tamburini não deixava a funcionalidade de lado, e solicitou um estudo para que o feixe de luz ficasse o mais abrangente possível. Com linhas inconfundíveis, a Brutale traz quadro em treliça e o monobraço traseiro como soluções engenhosas. Devido ao sucesso, a Brutale continua em produção com novas e diferentes motorizações, embora mantendo vivos os inconfundíveis traços de Tamburini.