Redução de acidentes justifica limites em SP, mas é preciso educar condutor
Cicero Lima
Colaboração para o UOL
27/07/2015 07h00
"Devagar se vai ao longe" é um dito popular que pode ser usado para rebater as críticas aos novos limites de velocidade nas Marginais Tietê e Pinheiros, importantes vias da cidade de São Paulo. Válidos desde a última segunda-feira (20), tais limites não permitem aos motoristas superar os 70 km/h na pista expressa. As críticas mais contundentes são para a redução de 70 km/h para 50 km/h nas pistas locais.
Defensor da medida, o arquiteto e urbanista Tadeu Leite Duarte, diretor da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego da cidade), é o responsável pelo planejamento de trânsito no município. Ele declarou ao jornal "Folha de São Paulo" que "os novos limites trarão benefícios como maior fluidez e segurança". Segundo dados divulgados pela companhia, os acidentes nas Marginais custaram a vida de 73 pessoas e deixaram 1.399 feridas em 2014.
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Mas parece que esses números não comoveram motoristas e entidades. Nas redes sociais chovem críticas alegando que tudo não passa de uma "indústria da multa". Até a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) entrou com representação na Justiça contra a medida.
Exemplos do mundo
A mesma discussão aconteceu em Staten Island, Nova York (EUA), onde a redução de velocidade também gerou polêmica. Alguns moradores apoiavam o novo limite de 30 para 25 milhas/hora -- cerca de 40 km/h na região. Outros diziam que os legisladores buscavam aumentar a arrecadação com as multas. Gostem ou não os moradores de Staten Island, em qualquer rua onde não houver sinalização de limite de velocidade, o motorista não pode superar 40 km/h.
Os moradores de Paris viram há pouco tempo o limite no anel viário -- que circunda o perímetro da cidade -- diminuir de 80 para 70 km/h. A alegação das autoridades é a redução de emissão de poluentes. Câmeras, radares e carros da polícia (sem identificação, à paisana) têm a função de fiscalizar e multar os infratores.
Na prática
Deixando a discussão de lado, usei uma moto para rodar pela Marginal Tietê e registrar, em vídeo, a mudança no tempo gasto e o comportamento dos motoristas na pista local antes e depois da instituição dos novos limites.
- 17 de julho, 70 km/h
O primeiro vídeo, captado na sexta-feira anterior à readequação de limites, mostra o tempo percorrido no trajeto de quatro quilômetros entre as pontes da Vila Maria e a das Bandeiras. Nele é possível conferir a agressividade dos motoristas rodando em velocidade mais alta. As ultrapassagens e trocas de faixas são constantes assim como as frenagens próximas aos radares. O trajeto foi feito em 3min55.
- 21 de julho, 50 km/h
O segundo vídeo, feito no sentido contrário e durante a noite da primeira terça-feira com novo limite, mostra que a sensação de segurança é maior por conta do fluxo mais lento. Os motoristas ainda tentam acelerar para burlar o novo limite, mas como não sabem a localização dos radares mantêm a velocidade dentro do limite.
É preciso atenção ao acelerador para não passar dos 50 km/h. No total, foram necessários 4min35 para percorrer o mesmo trecho.
Quais os ganhos?
Segundo a Associação Brasileira de Prevenção de Acidentes de Trânsito, um veículo circulando a 50 km/h necessita de 45 metros para conseguir parar -- levando em conta o tempo de reação do motorista. Caso esteja a 70 km/h, a distância percorrida aumenta para 70 metros. Além do maior espaço de frenagem, uma colisão a 70 km/h tem sérias consequências mais sérias e alta taxa de letalidade.
Um vídeo feito pela alemã Adac (o Automóvel Clube Alemão, entidade não governamental que auxilia no treinamento de motoristas e estudos sobre o trânsito) mostra o estrago provocado por uma colisão entre caminhão a 70 km/h (no qual o motorista teria, supostamente, dormido) e carros de passeio parados em um congestionamento, situação comum no tráfego das marginais.
Com velocidades mais baixas, principalmente na via local, é inegável que haverá uma diminuição na gravidade dos acidentes. Fato que já serve para justificar os novos limites.
Porém, cabe ao poder público assumir suas responsabilidades. É preciso investir na formação de melhores motoristas e motociclistas, executar e divulgar campanhas preventivas, projetar e manter em boas condições nossas vias e, só então, fiscalizar e punir os infratores para valer.
Cícero Lima, jornalista, é especialista em motos