Mais uma saída para o abastecimento de veículos está engrenando no Brasil. Depois da difusão do GNV (gás natural veicular), a bola da vez é o GNL (gás natural liquefeito). Por enquanto, a tecnologia está restrita aos caminhões e ônibus, mas nada impede que chegue aos automóveis e dê aquela mão na hora de escapar dos aumentos recorrentes de gasolina e do etanol. A nova tecnologia já está em uso comercialmente no país, onde se destaca a atuação da Scania. O fabricante já opera caminhões do tipo, e as vantagens são muitas. A começar pela autonomia. De acordo com a marca, o GNV com cilindros de 944 litros roda ao redor de 500 km. Embora seja maior em armazenagem, com 1.100 litros, o GNL consegue chegar a cerca de 1.200 km. Olha que estamos falando em veículos com peso bruto total combinado de 53 toneladas — isso inclui o cavalo mecânico, a carga e tudo mais. Imagine só o quanto de autonomia poderia ser ampliada em seu carro. Desde que tanques menores sejam criados para a aplicação em automóveis e comerciais leves. E sem prejuízos ao rendimento do motor, há apenas diferenças maiores no abastecimento. Armazenado na temperatura de 163 graus negativos, o gás liquefeito não traz riscos maiores que o uso de diesel. De acordo com a Scania, só há explosão se o gás se expandir muito rapidamente dentro de um confinamento. Para que isso não ocorra, todos os cilindros são equipados com válvulas de segurança para detectar anomalias na vazão, temperatura e pressão, e liberar o gás para evitar uma explosão. No caso de colisão, o cilindro pode se romper, o gás será liberado e, com isso, não haverá explosão. Se fosse um caminhão a diesel, o combustível escorreria no chão, podendo se incendiar. Vale reforçar que o GNL entra na forma gasosa em caso de rompimento e vai também para atmosfera — "se não estiver em ambiente muito confinado", especifica a montadora. O conjunto mecânico está sendo importado, por ora, mas há planos de nacionalização. Em relação ao GNV, o motor não muda, dado que os dois são movidos a gás, o que muda mesmo é o estado deste. A grande diferença de ambos está em relação aos propulsores diesel, pois o projeto é mudado ao ponto de funcionar em outro ciclo (Otto, contra diesel). Há uma vantagem significativa: o conforto, uma vez que os motores a ciclo Otto são semelhantes aos usados nos automóveis, com válvulas de ignição e funcionamento mais suave. Comparado ao diesel, o ruído é 20% menor. São modificados vários sistemas, dos pneus ao sistema elétrico. Essencial para um veículo tão pesado, o elevado torque é semelhante ao do diesel, enquanto a potência opera na mesma faixa, algo que não aconteceria com um motor convencional convertido a gás. Ou seja, podemos esperar um nível de performance semelhante ao que um automóvel normal ofereceria. O abastecimento requer cuidados extras. Ter uma estrutura própria para manter o líquido a baixíssimas temperaturas é a primeira delas, foi assim com a primeira empresa a usar a tecnologia, que instalou o dispositivo na sua própria sede. Não se dá para aproveitar os equipamentos do GNV, que, por ser mais difundido, está disponível em muitos postos. Somado a isso, o processo inteiro é mais difícil do que no GNV, envolvendo baixas temperaturas. É necessário cortar a chave geral de eletricidade, prendendo logo depois o caminhão/ônibus a um fio de aterramento. As válvulas de alívio de pressão devem ser abertas antes. Ao pegar a mangueira de abastecimento, é pedido que ele seja limpo com um bico de ar de alta pressão, assim, eliminam-se as impurezas — o mesmo deve ser repetido após o uso do dispositivo. A entrada do bocal passa pelo mesmo, tudo antes de conectar a mangueira do líquido, o passo seguinte. Dada a temperatura do líquido, a mangueira fica coberta por gelo. Na hora que o abastecimento estiver completo, basta inverter a ordem: a mangueira deve ser retirada antes de reabrir as válvulas de ventilação, e, logo depois, é a hora de tirar o fio terra e seguir em diante. Um processo complicado, mas que se paga ao longo da vida do veículo. Quem sabe ele se torna tão popular quanto o GNV? Será nessa hora que você poderá aproveitar para escolher um carro com essa tecnologia. E será uma bela economia. Há uma grande vantagem logística. Sem exigir tubulações para ser transportado, o GNL pode ser levado por caminhões e embarcações, facilitando o seu transporte e a capilarização do uso. Mais ou menos como é com a gasolina, etanol e diesel. Basta criar uma rede adaptada para esse fim. ******** MAIS SOBRE CARROS E AUTOMOBILISMO: NEWSLETTER DE FLAVIO GOMES Todo domingo, Flavio Gomes escreve sobre a F1 e outras competições do automobilismo e relata bastidores de sua longa carreira como jornalista. Para se cadastrar e receber a newsletter semanal, clique aqui. PUBLICIDADE | | |