Grupo Renault-Nissan e Daimler anunciam aliança para fazer carros pequenos

O Grupo Renault-Nissan, que reúne as montadoras francesa e japonesa, e a alemã Daimler, proprietária das marcas Mercedes-Benz, smart e Maybach, anunciaram nesta quarta-feira uma aliança com troca de ações, que permitirá a economia de bilhões de euros e a aceleração do desenvolvimento de novos carros pequenos, incluindo modelos elétricos.

No momento em que o setor automotivo tenta se recuperar da crise provocada pela última hecatombe econômica mundial, Renault e Nissan (sócios desde 1999) e a Daimler anunciaram que unirão tecnologia e conhecimento em uma operação que pretende gerar lucros de US$ 5,3 bilhões nos próximos cinco anos. A aliança vai se concretizar com a entrada simbólica da Daimler no capital da Renault e Nissan, com participações de 3,1%.

  • Murilo Góes/UOL

    Próxima geração do pequeno smart fortwo (acima, o modelo conversível à venda no Brasil) já deverá compartilhar peças e tecnologia com modelos pequenos do Grupo Renault-Nissan

Os dois sócios controlarão respectivamente pequenas participações de 1,55% do capital da Daimler, segundo as três empresas em um comunicado divulgado na Bolsa de Tóquio.

"O resultado será uma cooperação estratégica de longo prazo centrada no desenvolvimento conjunto de carros pequenos", anunciou em Bruxelas o presidente da Renault-Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, ao lado do colega da Daimler, Dieter Zetsche.

MOTORES CARROS
As três montadoras vão compartilhar os motores de gasolina e diesel, baseados nos modelos da Renault-Nissan, e devem se unir para a elaboração de modelos elétricos.

Entre os planos estão novas gerações do smart fortwo e Renault Twingo, que devem chegar ao mercado em 2013 já como fruto do trabalho conjunto, assim como as versões elétricas no mesmo ano. A Daimler fornecerá ainda aos novos sócios os motores para os carros da Infiniti, a divisão de luxo da Nissan.

  • Divulgação

    Aliança também beneficiará futuros modelos da Renault; acima, o atual Twingo europeu, na versão esportiva Gordini RS, não disponível no Brasil

A nova estratégia das três empresas permitirá a obtenção de lucros de US$ 5,3 bilhões, segundo Ghosn. "Os benefícios desta aliança são imediatos e duradouros. As sinergias com a Daimler têm um valor líquido atual de pelo menos 2 bilhões de euros (US$ 2,7 bilhões), em termos de custos e oportunidades de lucros durante os próximos cinco anos", declarou o brasileiro.

Para o presidente da Daimler, a operação vai gerar lucros da "mesma magnitude que a mencionada por Renault e Nissan".

A aliança também resultará na criação de empregos nas fábricas das três empresas na Europa, onde a recente crise econômica acabou com milhares de postos de trabalho no setor.

A Renault possui 44,3% do capital de Nissan, que por sua vez tem 15% da montadora francesa. O governo francês, principal acionista da Renault, aprovou na terça-feira o projeto de aproximação industrial.

As vendas combinadas de Renault, Nissan e Daimler totalizaram 7,22 milhões de carros em 2009, atrás das 8,6 milhões de unidades vendidas por Volkswagen e Suzuki, e dos 7,81 milhões da Toyota.

DAIMLER AINDA TENTA SUPERAR CRISE
A alemã Daimler encerrou em 2007 a fusão com a americana Chrysler, com a qual devia formar um gigante transatlântico. Desde então, a montadora de Stuttgart seguiu um programa de ajuste e dividiu pela metade seu faturamento.

Em 2009 sofreu com a crise mais que seus concorrentes nacionais, com perdas de US$ 3,5 bilhões e faturamento de US$ 105 bilhões. Com 256.000 funcionários e 1,09 milhão de veículos vendidos, geralmente é considerada uma pequena montadora.

Situada atrás do número um mundial dos veículos BMW, luta para conservar o segundo lugar frente à Audi (grupo Volkswagen), que a alcançou no início de 2010.

A Daimler não conseguiu ainda se impor no setor dos carros pequenos, em plena expansão desde a crise, e vendeu apenas 215.000 unidades de Mercedes Classes A e B e 114.000 smart em 2009.

Além disso, tem expansão menor que a de seus concorrentes nos países em desenvolvimento, já que vende 57% de seus veículos na Europa Ocidental e apenas 6% na China, primeiro mercado automotivo mundial.

O grupo também fabrica ônibus, furgões e caminhões, segmento em que se sai melhor -- é líder mundial na fabricação de caminhões, com 259.000 unidades vendidas em 2009. No entanto, sua imagem neste setor se encontra afetada por uma frota poluidora, com uma média de emissão de CO2 de 160 g/km no ano passado.

Por outra parte, a Daimler teve de enfrentar acusações de corrupção e, na semana passada, chegou a um acordo amistoso com o governo americano mediante o pagamento de US$ 185 milhões para fechar uma investigação por supostos subornos em mais de 22 países.

A Daimler já está envolvida em vários investimentos a nível mundial. É um dos acionistas de referência do fabricante americano de carros elétricos Tesla e possui mais de 10% do constructor russo de caminhões Kamaz. Além disso, quer desenvolver um carro elétrico com a chinesa BYD. Tudo isso enquanto conserva uma participação de 15% no grupo aeronáutico europeu EADS.

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