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Em voo de fuga, Ghosn foi acompanhado por ex-agente secreto dos EUA

Mike Taylor, ex-Boina Verde, nome dado às Forças Especiais do Exército dos EUA, e que ajudou na fuga do ex-CEO da Renault-Nissan Carlos Ghosn, do Japão para o Líbano  - Divulgação
Mike Taylor, ex-Boina Verde, nome dado às Forças Especiais do Exército dos EUA, e que ajudou na fuga do ex-CEO da Renault-Nissan Carlos Ghosn, do Japão para o Líbano Imagem: Divulgação

David Voreacos, Neil Weinberg e Greg Farrell

06/01/2020 10h41

Carlos Ghosn compartilhou seu voo secreto de fuga do Japão com dois norte-americanos experientes no ramo de segurança privada. Um deles era um ex-Boina Verde — nome dado às Forças Especiais do Exército dos EUA — com vasta experiência no resgate de reféns, mas que também foi preso por fraude.

A ficha do voo de fuga de Osaka para Istambul não registra o nome de Ghosn, mas inclui dois passageiros chamados Michael Taylor e George-Antoine Zayek, segundo pessoas a par do assunto.

No caso de Taylor, a fuga acrescenta um novo capítulo a uma agitada carreira iniciada como paraquedista das Forças Especiais antes de trabalhar como agente secreto do governo dos EUA e montar uma empresa de segurança com contratos no mundo todo. Taylor surge como uma figura ao mesmo tempo obscura e raramente pública que atuou nos dois lados da lei.

Ghosn fugiu para o Líbano, onde é cidadão. O país não tem tratado de extradição com o Japão, onde o ex-presidente da Nissan estava sob liberdade condicional aguardando julgamento por fraude financeira.

Ghosn disse em comunicado do Líbano que escapou do Japão sem a ajuda da família. Segundo a Dow Jones, que cita uma pessoa não identificada e a par do assunto, a equipe por trás da fuga era composta por 10 a 15 pessoas de diferentes nacionalidades. O aeroporto de Kansai, em Osaka, foi escolhido como ponto de saída por causa de uma "enorme brecha de segurança" no local, já que o terminal para jatos particulares estava praticamente vazio e os scanners não eram grandes o suficiente para bagagem de grandes dimensões, informou a reportagem publicada na segunda-feira. A equipe fez mais de 20 viagens ao Japão e visitou pelo menos 10 aeroportos enquanto planejava a fuga.

Não está claro como Ghosn entrou em contato com Taylor e Zayek - ou se eles são os únicos que o ajudaram na dramática fuga. Mas os três homens possuem laços estreitos com o Líbano, onde Ghosn passou grande parte da infância.

Acredita-se que Ghosn, 65 anos, e os dois norte-americanos tenham deixado o Japão em 29 de dezembro a bordo de um jato fretado operado pela MNG Holding, da Turquia. O Wall Street Journal informou em primeira mão os nomes dos companheiros de voo de Ghosn. Segundo o The New York Times, Taylor e Ghosn foram apresentados por intermediários libaneses meses atrás.

Agente secreto

Como agente secreto, Taylor aparentemente tinha muita experiência na arte de compartilhar informações sigilosas. Contatada por telefone na sexta-feira, a esposa de Taylor, Lamia, disse que não sabia se o marido estava no voo de Ghosn que partiu do Japão.

"Não sei dizer", afirmou. Perguntada se o marido poderia falar ao telefone ou retornar uma ligação, ela disse que Taylor não estava disponível. "Ele está fora do país", disse.

Pouco se sabe sobre Zayek, que trabalhou com a empresa de Taylor, de acordo com perfis e documentos on-line, além de ter trabalhado pelo menos para outra empresa de segurança. Zayek faz parte de uma família de cristãos maronitas libaneses.