Como é rodar 1.000 km com o Vectra GT
Claudio de Souza
Do UOL, em São Paulo (SP)
19/03/2008 15h24
O Chevrolet Vectra GT foi lançado em setembro de 2007 e, até o final de fevereiro último, teve cerca de 5.300 unidades vendidas em todo o Brasil, segundo dados da associação dos distribuidores. Não é muito, caso se considere a frota e o tamanho do país. Por isso, o modelo ainda atrai olhares por onde passa. UOL Carros ouviu até um "Olha que Vectra loco, meu!" enquanto o fotografava num parque perto de Jundiaí (SP).
Por ostentar o apelido GT (padrão mundial para "Gran Touring"), que normalmente designa um carro esportivo, o novo Vectra criou muita expectativa quanto a seu desempenho. Isso, apesar de ele ter como correspondentes europeu e norte-americano o Opel Astra e o Saturn Astra, carros de passeio convencionais, e derivar de um já veterano sedã nacional de "tiozão".
Certamente há razões para a General Motors posicionar o Vectra GT numa espécie de nicho dentro dos hatches médios. Uma delas é enfrentar o Volkswagen Golf e o Fiat Stilo, ambos associados a um certo grau de esportividade (até o Fiat Punto é um inimigo perigoso, devido ao fator novidade). Outra razão é não canibalizar o Astra, que pôde ficar mais barato que seu "primo" recém-chegado. Em busca da verdadeira vocação do Vectra GT, UOL Carros rodou 1.000 quilômetros com um exemplar de transmissão manual (que vende mais), cujo valor parte de R$ 60.590.
Verdade seja dita: o visual do carro é agressivo. Sua dianteira é idêntica à do sedã, mas recebeu um toque engenhoso: o conjunto óptico foi escurecido, espantando a mansidão da versão três volumes. A traseira, igual à dos modelos lá de fora, parece a de um Peugeot 307 que tenha se armado para uma briga de rua.
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Até aí, bola dentro da GM: o design é um ponto alto do Vectra GT. Pena que a paleta de cores do modelo tenha sido resumida ao convencional: no "monte seu carro" do site da marca não há a opção dourado claro do exemplar testado, nem o laranja metálico da época do lançamento (são "cores conceituais").
Certinho
Isso é por fora. Por dentro, o Vectra GT é conservador. O acabamento é correto: tudo se encaixa bem, os materiais são agradáveis ao olhar e ao toque. Mas há inadequações aos dias atuais, como a escassez de porta-objetos. Não há onde alojar um celular de modo conveniente. O único porta-copos, na tampa do porta-luvas, é raso demais.
No exemplar testado, um espaço sobre o rádio era o único local para colocar coisas que devam ficar ao alcance da mão direita do motorista. Mas, como o console do Vectra GT é inclinado para dentro (o que, aliás, dificulta o acesso aos comandos do ar-condicionado e do rádio), o conteúdo do dito espaço saltava longe a cada arrancada ou freada mais forte, ou mesmo em aclives. Um isqueiro foi parar sob o trilho do banco do passageiro, de onde só saiu após muita luta. E uma caneta simplesmente não foi encontrada. Ficou de brinde para a GM.
Mas há méritos no interior do carro e nos equipamentos, alguns deles não disponíveis de série no GT. O ar-condicionado digital, por exemplo, é eficiente e facílimo de usar. O desembaçamento do pára-brisa é comandado por uma tecla específica, e ocorre rapidamente. O sensor de chuva (opcional) funciona ao menor sinal de garoa, ao contrário de carros mais caros testados aqui -- e o retrovisor interno tem sensor de luminosidade para ativar o anti-reflexo.
O painel, embora não disponha de computador de bordo (ausência inexplicável no GT até mesmo como opcional; mas de série no GT-X), é de fácil leitura. A posição de dirigir se beneficia do banco e do volante reguláveis em altura e distância (mas a perna direita de alguns vai encostar no console), e a visibilidade é excelente à frente e para trás. E há também o navegador de GPS, exclusivo do modelo, e que um dia ainda deve funcionar melhor (leia sobre o dispositivo em quadro nesta página).
GPS ALTERNA ACERTOS E ERROS | |||||||||
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Quanto ao espaço interno, é bom para quatro pessoas, mas não mais. Se o entre-eixos de 2,61 metros (o carro mede 4,28 metros, comprimento comum nos hatches médios) garante que ninguém passe aperto, um eventual quinto passageiro terá as costas pressionadas contra o apoio de braço embutível.
Com o motor ligado
Dos 1.000 km rodados com o Vectra GT, cerca de 600 km foram em rodovias e 400 km em trânsito urbano, quase todos na cidade de São Paulo. As impressões obtidas foram bem distintas.
O motor Flexpower 2.0 de oito válvulas, 121/128 cavalos de potência (gasolina/álcool, a 5.200 rpm) e torque de 18,3/19,6 kgfm (gasolina/álcool, a 2.600 e 2.400 rpm, respectivamente), exatamente o mesmo que equipa todos os Vectra sedã (à exceção do Elite 2.4) e a configuração GT-X, não causa espécie na estrada. Vindo de um sedã destinado a um público mais velho, o propulsor nem poderia mesmo ser particularmente "nervoso". Na estrada, ele leva o carro com eficiência, mas sem empolgação, à velocidade de cruzeiro desejada.
A 100 km/h o conta-giros apontou 2.500 rpm; a 120 km/h, cerca de 3.000 rpm. Verdade que, embalado, o Vectra GT tende a procurar seu limite em velocidades e rotações acima dessas. Então o motorista é convidado, pela lei e pela prudência, a sossegar o pé direito.
A suspensão "gostou" bastante do bom asfalto das estradas percorridas, garantindo conforto e uma impressão geral de controle pleno sobre o carro (mas na buraqueira urbana o Vectra GT dá seus pulinhos, especialmente com os pneus cheios).
Preso ao chão
A estabilidade chama a atenção positivamente. Posto à prova na rodovia SP-360, que liga São Paulo às estâncias hidrominerais próximas a Minas Gerais e é notória pelas seqüências de curvas, o Vectra GT se mostrou totalmente preso ao chão, passando muita confiança. Os freios com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica de frenagem (EBD), quando solicitados com vigor, detiveram o Vectra GT sem sustos e desvios -- o ABS pareceu menos "áspero" que em outros modelos. Mas, pasmem, o sistema antitravamento é opcional (os airbags frontais são de série). Com ele enfiado num pacote de opcionais, o Vectra GT passa a custar R$ 62.590.
Quanto à força: na mesma e sinuosa SP-360, que possui longos trechos em aclive, a terceira marcha foi freqüentemente solicitada para o Vectra GT manter o desempenho. E, mesmo no plano, convém sempre procurar a quarta para ultrapassar.
UOL Carros preferiu o Vectra GT no tráfego urbano. O motor oferece força suficiente em rotações relativamente baixas (principalmente com álcool) para abrir caminho em ruas e avenidas que, muitas vezes, têm fluidez prejudicada por motoristas lentos, "perdidos" ou mesmo inábeis (quem guia no fim de semana em São Paulo sabe disso). A agilidade do carro da GM em espaços reduzidos é surpreendente, e o câmbio de cinco velocidades é rápido e preciso -- no anda-pára dos congestionamentos, trabalha sempre em favor do motorista.
No bolso
A conta apresentada pelo Vectra GT na bomba de combustível foi salgada, de três tanques para percorrer esses 1.000 km (dois de gasolina e um de álcool). De saída, rodando principalmente em estradas, o carro fez cerca de 8,4 km/l com gasolina; foi reabastecido com álcool e andou somente em São Paulo até secar o tanque, fazendo 6 km/l. De novo com gasolina, e com 85% de trajetos de estrada, obteve a marca de 8,1 km/l. Haja dinheiro.
Mas isso não deve ser problema (a não ser de consciência ambiental) para o público-alvo do Vectra GT. Ele apela a um comprador de classe média e média alta, entre 30 e 40 anos, que busca se diferenciar principalmente pela aparência do carro que dirige, e nem tanto pelo que vai sob o capô.
Daí a ausência de esportividade ser um aspecto secundário. Hoje, seu dono vai dizer que tem um Vectra GT, esperando que o nome e a imagem do carro causem impacto. Daqui a dez anos, quem sabe, vai preferir um Vectra sedã (ou o que vier no lugar), e lembrará que, um dia, teve um "Vectra hatch". Que é o que esse carro, na verdade, é.