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Versão 1.6 confere força e 'requinte' ao bem-vendido Ka

Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias
Imagem: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias

Da Auto Press

Especial para o UOL

23/04/2008 12h10

Parece um remake de novela. Em 1997, quando lançou o então arrojado Ka no Brasil, a preços acessíveis, a Ford subestimou o carrinho. A enorme demanda provocou falta de carros para vendas e ágio. Agora, 11 anos depois, o Ka reestilizado aparece novamente com um visual moderno e preço atraente. E, de novo, supera as expectativas da montadora.

Hoje, a marca vende tudo que produz na fábrica de São Bernardo do Campo -- uma planta, até pouco tempo atrás, praticamente ociosa. Os efeitos da selvagem lógica capitalista foram imediatos. Atualmente, para se conseguir sair com um Ka de uma concessionária é preciso aguardar até quatro meses. Ou desembolsar um desagradável sobrepreço.

Para complicar ainda mais a vida da Ford, os dois primeiros meses de sucesso voraz do Ka tiveram um efeito colateral nocivo para as vendas dos outros compactos da marca: a chamada canibalização. O Fiesta foi o primeiro a acusar o golpe. Enquanto o Ka passou de médias mensais de 2.200 unidades do modelo antigo para 4.200 em fevereiro e março (primeiros meses cheios de venda do modelo novo), o hatch de quatro portas despencou das 5.500 unidades mensais para pouco mais de 3.600.

Sobrou até para o Fiesta sedã, que das 3.500 unidades/mês de média, desceu para 2.500. E o principal causador de tantas modificações é a versão 1.0 do Ka. Cabe à configuração 1.6, que responde por apenas 10% do mix de vendas, dar um ar discretamente mais requintado à linha popular.

Por maior requinte, entenda-se uma lista de equipamentos mais generosa e motor mais potente. E, no caso do "novo" compacto da Ford, o bem-disposto propulsor 1.6 flex de 110 cv com álcool e 102 cv com gasolina a 5.500 rpm move um carrinho bem leve, com menos de uma tonelada (mais precisamente, 942 kg).
 

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    No antigo Ka, esse propulsor só andava a gasolina e rendia 95 cv. O torque é de 15 kgfm, disponível logo aos 2.500 giros com gasolina. Com álcool, o número é de 15,8 kgfm, mas obtido em um regime mais elevado: 4.250 rotações. Só que mais de 90% da força, ou 14,5 kgfm, já são disponíveis a 1.500 giros.

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    Obviamente, o Ka tem no visual mais moderno um forte argumento de vendas. Mas também tem melhorias em outros aspectos. Para começar, ganhou 20 cm no comprimento -- totalmente aproveitados no habitáculo --, que o fizeram deixar de ser um subcompacto. Os faróis de base larga que afinam em direção à coluna dianteira, o capô elevado, enervado por vincos, e os pára-choques bojudos, com as laterais em alto relevo, conferem bastante robustez.

    Os pára-lamas musculosos, o prolongamento da coluna de trás, o corte geométrico da traseira e as lanternas horizontais, que invadem a carroceria, ressaltam a modernidade. Não chega a ser uma completa adesão ao "estilo Kinetic", que dita atualmente o visual dos carros da Ford na Europa. Afinal, o Ka nasceu em 1996 como referência para o conceito de design anterior, o New Edge -- e, mesmo com a profunda reestilização, o antigo estilo pode ser notado em detalhes como painéis de porta e volante, que nas versões com airbag é igual ao antigo.

    O Ka tem atrativos também nos equipamentos. Entre os itens de série, travas elétricas com controle remoto, abertura interna da tampa do porta-malas, vidros verdes, relógio digital e travamento automático das portas a partir de 15 km/h. Em relação à versão 1.0, ganha freios dianteiros a discos ventilados, direção hidráulica, limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro, brake-light, comando manual interno dos retrovisores externos e aquecedor.

    Dessa forma, o Ka 1.6 custa R$ 31.990 e consegue encarar o Volkswagen Gol City 1.6 2 portas, de 103/101 cv, que chega aos R$ 32.690 com os mesmos itens.

    Essa versão do Ka ainda pode receber ar-condicionado, vidros elétricos e rodas de liga leve aro 14. Isso sem contar o airbag duplo frontal, só disponível na configuração com motor mais potente. Com os mesmos equipamentos, mas sem possibilidade de ser equipado com airbag, o Gol City chega a R$ 38.125, enquanto o compacto da Ford chega a R$ 36.790. Ou seja: com um design bem evoluído, motorização instigante e boa relação custo/benefício, o Ka tinha mesmo tudo para vender bem. Só faltou a Ford acreditar no sucesso. De novo. (por Fernando Miragaya)

    DE ZERO A 100 PONTOS, O FORD KA 1.6
    Desempenho - O pequeno Ka vira um foguetinho com o motor 1.6. As dimensões enxutas, o baixo peso de 942 kg aliados aos 110 cv de potência do propulsor apenas com álcool resultam em acelerações bem ágeis. O zero a 100 km/h, por exemplo, é feito em 11,6 segundos. As retomadas também são para lá de interessantes, privilegiadas pelo bom torque. Mais de 90% da força - 14,5 kgfm - já enche o motor na faixa dos 1.500 giros. Isso favorece muito na hora de enfrentar subidas ou ultrapassagens. Em quarta marcha, bastam 6,8 segundos para chegar aos 100 km/h a partir dos 60 km/h. O carro responde bem às investidas no pedal do acelerador até 130 km/h. Depois, é preciso paciência. A máxima foi de 170 km/h. Nota 9

    Estabilidade - Dois problemas: nas frenagens bruscas, embora a traseira levante pouco, o Ka desvia a trajetória. É preciso dosar bem, pois não há ABS. O outro é que a estabilidade nas retas só é boa até certo ponto. A partir dos 150 km/h, há uma incômoda flutuação, que compromete a precisão no controle do veículo. Mas a sensação geral é de que o Ka gruda no chão nas curvas, mesmo em alta velocidade. Não há menção de soltar a frente, apesar dos abusos a que foi submetido. A carroceria também entorta pouco, beneficiada pelo tamanho enxuto do compacto. O que torna o Ka um carro bem divertido. Nota 7
    Interatividade - O espaço do habitáculo é limitado e não há regulagens de volante ou de altura do banco. Mesmo assim, não é difícil encontrar uma boa posição para dirigir. Os principais comandos não obrigam o condutor a deslocar o corpo ou a desviar o olhar por muito tempo. O quadro de instrumentos, com novos grafismos e desenhos, é de fácil visualização. A visibilidade traseira melhorou significativamente em relação ao antigo Ka, mas ainda não é boa: as largas colunas de trás continuam obstruindo a retrovisão. Já o câmbio é macio, mas tem curso longo e engates pouco precisos. Nota 7
    Consumo - O modelo testado fez a média de 8,3 km/l de álcool, com uso 2/3 na cidade e 1/3 na estrada. Bastante satisfatório. Nota 7
    Conforto - Na frente, o vão para pernas é limitado como em qualquer outro compacto. Atrás, porém, o espaço melhorou em relação ao Ka anterior. Principalmente para as cabeças dos ocupantes, graças ao prolongamento do teto e ao recuo da coluna traseira. Mesmo assim, numa viagem, só cabem ali dois adultos. A suspensão mais firme, por sua vez, reflete as irregularidades da pista, principalmente atrás. Em terrenos muito acidentados, os sacolejos são inevitáveis. O isolamento acústico também é falho após os 4 mil giros. Nota 6
    Tecnologia - O compacto ganhou uma casca nova mas a estrutura é a mesma do projeto original de 1996 na Europa - 1997 no Brasil. Os poucos equipamentos de conforto não fogem do padrão dos modelos de entrada. Os motores, da linha Rocam, receberam tecnologia flex e são bem modernos e eficientes. Os itens de segurança são raros, mas é o único do segmento de entrada - que reúne Fiat Mille, Volkswagen Gol City e Chevrolet Celta - que pode receber airbags frontais como opcional. Nota 7
    Habitabilidade - É um carro para egoístas ou solteiros. O porta-malas, com seus 263 litros, é bastante limitado, e os acessos ao banco de trás são prejudicados, já que o modelo só existe na configuração duas portas. Pelo menos, o número de porta-objetos é interessante e a iluminação interna, eficaz. O modelo aumentou em 20 cm. Nota 6
    Acabamento - Os revestimentos demonstram uma maior preocupação da Ford por qualidade do que com seus outros compactos, como EcoSport e Fiesta. Os materiais podem até não serem rebuscados e sofisticados mas, pelos menos, não há muitos sinais de rebarbas e a maioria dos encaixes e fechamentos é precisa. Forrações dos bancos também são agradáveis ao toque e ao olhar. Nota 7
    Design - O novo quadro de instrumentos e o painel emprestaram um ar mais moderninho e interessante ao Ka. O desenho externo também conferiu mais agressividade e robustez e se inspirou nitidamente no concito Kinetic que a Ford vem adotando em seus modelos mundo afora. Nota 8
    Custo/benefício - O Ka 1.6 começa em R$ 31.990 e chega a R$ 36.790 completo. Não chega a dispor de uma lista generosa de itens de série, mas no segmento não há quem ofereça muito mais. Seu principal rival é o Gol City duas portas, que custa iniciais R$ 32.690 com os mesmos equipamentos do modelo da Ford, com a desvantagem de ter um visual bem mais datado e conservador e de não receber airbag nem como opcional. Nota 8
    Total - O Ford Ka 1.6 somou 72 pontos em 100. NOTA FINAL: 7,2