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Blazer Advantage aposta no preço e no álcool

Fotos: UOL
Imagem: Fotos: UOL

Claudio de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

27/05/2008 12h59

"Carro de polícia", "dinossauro" e até mesmo "anacronismo sobre rodas": são essas algumas definições que o utilitário esportivo Blazer, da Chevrolet (que aqui vamos chamar de "a" Blazer, como todo mundo faz) recebe dos jornalistas automotivos. De fato, esse carro é ainda o preferido das forças de segurança brasileiras. De fato, baseia-se num projeto antigo, de mais de uma década, período no qual dezenas de SUVs mais modernos chegaram ao mercado brasileiro. Quanto a ser um anacronismo, há quem defenda o modelo com unhas e dentes, como nas várias comunidades sobre a Blazer na Internet, inclusive uma que reivindica a volta do motor 4.3 V6.

O ponto final dessa discussão, geralmente, será o seguinte: os preços da Blazer com tração 4x2 começam em R$ 60.674. Por esse valor, o cliente leva a versão de entrada, a Advantage, com motor Flexpower 2.4 bicombustível -- uma exclusividade do SUV da Chevrolet em seu segmento. São dois fortes argumentos de venda.

O design da Blazer, comparado aos demais SUVs do mercado, é mesmo pré-histórico. Mas isso também tem o efeito, desejado por muitos, de conferir um aspecto bruto e masculino ao carro, reforçado pelos elementos em preto agregados à carroceria -- como o novo bigode na dianteira e a entrada de ar falsa no capô do motor. Os músculos na lateral, notadamente envolvendo a caixa das rodas traseiras (também presentes nas picapes S10 e Montana), parecem exagerados, mas ajudam a compor essa agressividade. Além disso, o perfil da Blazer também deixa aparecer a estrutura longitudinal do chassi e parte das molas da suspensão traseira. Para o bem ou para o mal, isso faz com que o carro chame a atenção -- e, à sua moda, seja único no mercado.

A versão Advantage modelo 2009 com o pacote PDG de equipamentos (R$ 67.238, mais R$ 1.414 da pintura metálica), configuração do carro que testamos, trata seus ocupantes com respeito, mas sem luxos. Oferece direção hidráulica, ar-condicionado (com acionamento um tanto confuso), comandos elétricos para todas as janelas, portas e retrovisores, quantidade razoável de porta-objetos (inclusive porta-moedas para agilizar o pedágio), descanso de braço dianteiro e até um apoio lombar meio mandrake, mas gentil. No entanto, não há regulagem de altura para o motorista, e o volante só se desloca na vertical. Mesmo assim, a posição de dirigir nos pareceu razoável para alguém de estatura mediana.

Atrás há espaço de sobra para duas pessoas (três podem se irritar em viagens mais longas), aproveitando bem o entre-eixos de 2,72 metros. O porta-malas leva 435 litros, e com rebaixamento total (pode ser também 1/3 e 2/3) chega a 1.715 litros. O rack do teto, charmoso, só comporta 90 kg de carga extra. O acabamento e a forração dos bancos são meio decepcionantes quando comparados aos da versão top dos utilitários da GM, mas aí já é uma questão de preço: a Blazer Executive, com motor turbo 2.8 a diesel, custa R$ 135.379. No painel, que traz bela iluminação em azul, os quatro ponteiros dos mostradores pulam aos seus limites quando a chave é girada -- um charminho também presente no Vectra.

Rodando com o veículo
Em movimento, a Blazer atua exatamente como se espera de um veículo com sua estrutura e sua altura. Ela já canta pneu ao ser manobrada na garagem do prédio; a carroceria inclina nas curvas, desencorajando ousadias ao encarar traçados sinuosos; e mesmo em pisos urbanos, a depender das irregularidades e obstáculos, há sacolejos em excesso. Na estrada ela agrada bem mais, exigindo pouco esforço do motorista. A enorme alavanca do câmbio de cinco marchas e o freio de estacionamento acionado no pé (e liberado na mão) ajudam a nos lembrar que estamos num utilitário.

O motor Flexpower 2.4 de oito válvulas, que entrega 141 cavalos com gasolina e 147 com álcool, produz torque de 21,8 kgfm, disponível já a 2.800 giros. São dados inferiores ao propulsor Flexpower do Vectra Elite 2.4, que tem 16 válvulas e potência e torque um pouco maiores. Mas a força oferecida numa rotação relativamente baixa ajuda na condução da Blazer em tráfego urbano. Isso não quer dizer que ela seja ágil ou que dê show nas retomadas, mas não há sensação de falta de ânimo do motor.

FICHA E EQUIPAMENTOS
MOTOR: Flexpower, 2.4 litros, bicombustível, quatro cilindros, duas válvulas por cilindro, injeção MPFI
POTÊNCIA E TORQUE: 141 cavalos com gasolina, 147 com álcool; 21,8 kgfm a 2.800 giros
PREÇO: de R$ 60.674 a R$ 69.063 (completa, com pintura perolizada)
DADOS TÉCNICOS OFICIAIS
TODOS OS EQUIPAMENTOS
TABELA FIPE

A velocidade máxima é limitada em 150 km/h. Claramente a Blazer poderia ir além disso, mas não valeria o risco. A partir de 110 km/h os retrovisores já trepidam, e na faixa de 140 km/h o conjunto direção/rodas/suspensão não inspira confiança. Ou seja: se a GM parou nos 150, convém ao motorista contentar-se com 130. E vale notar que, no quesito segurança, a Blazer Advantage decepciona: não há nenhum airbag, e na configuração básica até o ABS (sistema antitravamento dos freios) está ausente. Nossa unidade o possuía, e em algumas frenagens mais bruscas ele fez muita diferença.

Não colocamos a Blazer Advantage no off-road -- mas, na cidade, o ângulo de ataque de 25º e os 22,8 cm de distância livre do solo servirão para evitar quase todas as raspadas e batidas na parte inferior que afetariam veículos menores.

Álcool e seu bolso
Nosso interesse principal era circular com álcool no tanque, mas a GM cedeu a unidade de teste abastecida com gasolina. Rodamos 350 km com o derivado de petróleo, gastando 62 litros. A média de consumo foi de 5,6 km/l, com percurso 80% urbano e 20% em estrada. Reabastecemos a Blazer com álcool, e assim ela foi devolvida à GM após mais 70 km percorridos na cidade -- uma distância curta demais para averiguar o consumo. Em termos de desempenho, a diferença foi sutil -- mas ficou a impressão de que a Blazer gostou de beber etanol, respondendo com disposição ao acelerador.

Com álcool, são seis cavalos a mais na potência; nada que mude o comportamento do carro a ponto de o motorista comemorar. O argumento, aqui, poderia ser o de consumo responsável: se é o caso de guiar um carro grande e gastador, que pelo menos ele queime combustível verde-amarelo. É um dos componentes do bom custo/benefício da Blazer, principal razão -- além da ampla rede credenciada Chevrolet -- que vemos para que se adquira esse carro hoje em dia.