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Câmbio automático atrapalha a 207 SW

Claudio de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

07/08/2008 20h56

Depois de tentar, ao longo de julho, queimar seu estoque do compacto 206 com bons descontos no preço final, a Peugeot começa a colocar no mercado este mês seu substituto, o 207, que chega com a família completa: hatch, station wagon e sedã, este reservado para as proximidades do Salão do Automóvel de São Paulo, no final de outubro. O lançamento do 207 (e a conseqüente "morte" do 206, que continua só na versão de entrada) foi abordado em UOL Carros aqui, e as impressões sobre o dois-volumes estão aqui. Agora pudemos dirigir, em primeira mão na imprensa online do Brasil, uma 207 SW, versão XS Automatic. Foram cerca de 730 km com o carro, rodados na estrada e na cidade.

Fotos: Murilo Góes/UOL

Dúvida é se, com visual felino e o que tem sob o capô, a 207 SW será capaz de incomodar rivais

 

A 207 SW (no feminino, por ser "uma" station, "uma" perua) com transmissão automática Tiptronic é atualmente a versão mais cara da nova gama, começando em R$ 52.500 (não há mais a off-road light Escapade). Deve permanecer assim -- a não ser que o sedã, com o mesmo câmbio, ultrapasse esse valor (o que o deixaria muito fora da média do segmento). Debaixo do capô, a station automática traz sempre o motor bicombustível 1.6 litro, 16 válvulas, de 110/113 cavalos, com torque de 14,2/15,5 kgfm (gasolina/álcool). Já as SW manuais são 1.4 litro. Os principais rivais do carro da Peugeot são os Volkswagen SpaceFox e Parati e o Fiat Palio Weekend. É um dos segmentos menos explorados do mercado automotivo (há mais SW grandes que compactas-médias). Até o final de julho, a 206 SW era a menos vendida no ano, com 8.210 unidades emplacadas. O SpaceFox, no mesmo período, vendeu 12.985 carros.

QUESTÃO DE IMAGEM
Murilo Góes/ UOL
VEJA O ÁLBUM DE FOTOS

Não queremos retomar aqui a polêmica sobre se a gama 207 é uma gambiarra feita em cima da gama 206, em vez de ser um modelo totalmente novo, alinhado com o que é vendido na Europa. Primeiro, ninguém é obrigado a comprar um 207; segundo, basta olhar os novos hatch e SW para sacar o que aconteceu: a traseira de ambas as carrocerias é exatamente a mesma do 206, com retoques quase imperceptíveis (no pára-choques e nas lanternas de neblina) à primeira vista. Já a dianteira é semelhante ao do "verdadeiro" 207, o europeu -- mas para o consumidor brasileiro a referência principal será o 307, pois o que causa impacto é o "bocão" (a enorme grade dianteira) parecido com o do hatch médio. A plataforma das duas gamas é a mesma. Ou seja, a Peugeot deu um "upgrade" no 206, gerando o 207. Não foi mera reestilização, mas não foi uma revolução. O consumidor -- que, se vai dirigir um carro, não pode ser cego -- certamente vai enxergar isso. E ainda por cima a gama 207 tem preços mais atraentes que os carros equivalentes na 206.

Para fechar a questão do design, vale observar que a dianteira do 207 (inclusive a SW) pode ser um tiro no pé em termos estéticos: o visual "felino" está lá quando se olha o carro de lado, com o conjunto óptico alongando-se no sentido da carroceria e contrário ao do movimento; mas as visões frontal e de cima causam um certo estranhamento, porque as lentes dos faróis são muito saltadas, gerando (como já escrevemos no lançamento) um visual quase "anfíbio". Não ajudam também o gigantesco logotipo da Peugeot (na medida certa para virar piada em mesa de bar) e o capô abaulado, que parece coisa de carro antigo. Enfim: cuidado para não comprar gato e levar sapo.

  • Murilo Góes/UOL

    Firmeza e conforto proporcionados ao motorista pelo conjunto...

  • Murilo Góes/UOL

    ... boa empunhadura e acabamento de volante e alavanca do câmbio...

  • Murilo Góes/UOL

    ... e o porta-malas de 313 litros (1.136 rebatido) com tampa dobrável e rede para prender objetos são pontos positivos da 207 SW

    O BOM E O RUIM
    Por dentro, os destaques positivos da 207 SW são os seguintes: bancos dianteiros de encosto e assento envolventes, garantindo firmeza e conforto ao conduzir; volante revestido em couro (ou algo muito parecido com o material) de boa empunhadura; alavanca e moldura do câmbio cromadas, dando um toque de "luxo" ao habitáculo; e o porta-malas de 313 litros (1.136 rebatido) com rede para prender objetos e tampa dobrável. Quanto aos negativos: acabamento geral com aspecto de fragilidade, ou então "fake", como a moldura plástica do painel pintada para imitar metal; display do ar-condicionado digital praticamente ilegível; e coluna de direção sem ajuste de profundidade. Vale notar que avaliamos um exemplar que possuía itens opcionais.

    Rodando, a 207 SW com câmbio automático mostrou virtudes e vícios. Notamos que a suspensão firme compensa o "vazio" traseiro da perua (testada sem carga), o que permite fazer curvas até um tanto exageradas sem temer que ela desgarre; não houve inclinação forte. A absorção de irregularidades do terreno também foi eficiente, fazendo com que, no geral, a 207 SW trate bem seus ocupantes. Mas a direção ficou dura um pouco além da conta, e alguns esterçamentos em velocidade mais baixa podem ser desconfortáveis. Quanto à segurança: em absolutamente todas as vezes que UOL Carros freou abruptamente ou com excesso de força (proposital) em pisos escorregadios, o sistema antitravamento (ABS) entrou em ação e ajudou a manter a trajetória retilínea. A "mordida" do ABS no pedal do meio virou sinônimo de confiança em nossa relação com a 207 SW.

    Um dos vícios da 207 SW é sua sede excessiva. Ressalvando que a unidade avaliada tinha menos de 3.000 km, o consumo foi muito alto, cravando média de 9,2 km/l com gasolina (80% na estrada, 20% na cidade); com álcool, rodando apenas em ambiente urbano, obtivemos 7,2 km/l.
     

    PREÇOS, FICHAS E EQUIPAMENTOS
    207 SW
    1.4 XR - R$ 42.990
    1.4 XR S - R$ 44.790
    1.6 XS A - R$ 52.500
    207 1.4
    XR 2p - R$ 37.790
    XR 4p - R$ 39.290
    XR S 2p - R$ 39.590
    XR S 4p - R$ 41.090
    207 1.6
    XS 2p - R$ 43.300
    XS 4p - R$ 44.800
    XS A - R$ 48.800
    TODAS AS FICHAS DOS 207
    TODOS OS EQUIPAMENTOS

    Outra grande decepção acabou sendo o funcionamento desarmonioso do trem de força. O propulsor 1.6, que gera razoáveis torque e potência, não se entende com a transmissão Tiptronic de quatro velocidades, com opção de trocas seqüenciais (ou vice-versa). Em D ("drive", automático), além da falta de uma quinta velocidade, o câmbio mostra indecisão e -- principalmente -- afobação. Quando as marchas estão ascendendo, ocorrem muitos trancos. Na hora das retomadas, o câmbio parece desconfiar do motor. Qualquer pisada no acelerador, e ele já reduz para buscar mais torque. Isso aconteceu o tempo todo, mesmo quando estávamos a 100 km/h, em quarta, e aceleramos suavemente para ir a 120 km/h. Um humano no comando da transmissão jamais buscaria a terceira. Mas o Tiptronic da 207 SW buscou. Isso irrita o motorista, aumenta o consumo e passa uma terrível sensação de que cometeu-se uma barbeiragem.

    TRUQUES
    Com o tempo, percebe-se que o "segredo" é pisar muito de leve no pedal direito. Evitam-se trancos e sustos, ao preço de transformar a SW num carro meio chato. Felizmente, a tecla S (de "sport") está lá para elevar (bastante) o limite de giros de cada marcha. E é no modo S que o Tiptronic usado pela Peugeot fica, ao mesmo tempo, mais irritadinho e mais homogêneo (porque há menos mudanças). Só que aumentam o consumo e o desgaste de peças. Uma outra solução é, quando em Drive, mover a alavanca para a esquerda e fazer a troca manual desejada, voltando em seguida para D. O uso desse truque é um sinal de que até o motorista já não está se entendendo com o trem de força...

    Quando testamos o 207 hatch manual, com propulsores 1.4 e 1.6, gostamos bastante da transmissão: engates precisos, embreagem justa, diálogo afinado com o motor. Tanto no dois-volumes como na SW, o câmbio Tiptronic é um "a mais" que, suspeitamos, pode ser apenas uma ferramenta de construção de imagem para a gama. Talvez não valha a pena pagar a mais por ele; nesse caso, a 207 SW (versão XR com pacote esportivo) viria com o motor mais fraco, sem diversos equipamentos (como ABS, por exemplo), mas por R$ 44.790. No fim das contas, a verdadeira dúvida que fica é: por dentro, por fora e sob o capô, a 207 SW será capaz de incomodar o SpaceFox?