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Focus muda por fora e por dentro, mas segue bom de guiar

Claudio de Souza

Do UOL, na Argentina

05/09/2008 21h19

Atualizada às 8h42 de 6/9

A proposta e os atributos técnicos do novo Focus foram detalhados nesta sexta-feira (5) pela Ford, na apresentação oficial à imprensa de Brasil, Argentina, Venezuela e Colômbia, mercados que recebem praticamente o mesmo carro lançado este ano na Europa, com adaptações locais -- os argentinos, por exemplo, têm a opção a diesel. Também houve o primeiro test-drive completo do modelo.

Fotos: Divulgação

Novo Focus é projeto global da Ford para crescer no segmento mais efervescente do mercado

Principalmente na carroceria sedã, o novo Focus -- nas versões GLX e Ghia -- é encarado pela Ford como decisivo para seu desempenho entre os médios. "Este não é um segmento para amadores", disse um dos executivos da montadora durante a apresentação. "Ninguém no segmento é bobinho", sentenciou outro. De acordo com números da Ford, 11,5% do mercado automotivo são dominados por carros desse porte. Dentro disso, quase 61% ficam com os sedãs -- um segmento que conta com carros globais, com Honda Civic e Toyota Corolla; consolidados no Brasil, como Chevrolet Vectra; e "novatos" de expressão, como Renault Mégane e Citroën C4 Pallas.


Para ocupar uma parte desse espaço, a Ford aposta que o atual mix de vendas do Focus será invertido: o novo sedã vai vender mais que o novo hatch. Hoje, a relação é oposta. O Focus hatch que circula em nossas ruas vende o dobro do sedã. Segundo a Ford, as chaves do sucesso entre os médios são, em ordem de importância atribuída pelos consumidores, design, conforto, dirigibilidade e tecnologia.
 

O novo Focus, que começará a ser vendido no Brasil em outubro, utiliza a plataforma C1, que é global e partilhada por modelos como Volvo C30, Mazda 3 e Kuga (crossover europeu da Ford). É fabricado em nove países de quatro continentes: África do Sul, Rússia, China, Vietnã, Filipinas, Taiwan, Espanha, Alemanha e -- endereço de onde sai o "nosso" carro -- Argentina, mais precisamente na cidade de Pacheco.

Um dos efeitos da nova plataforma é que o Focus hatch ficou maior que o anterior: mede agora 4,35 metros, cerca de 20 cm a mais, e figura como o mais comprido do segmento. Já o sedã tem, no geral, medidas dentro da média dos rivais, com exceção da largura, que chega a 1,84 metro. E a Ford faz questão de alfinetar Toyota e Honda ao lembrar que o porta-malas do Focus sedã tem capacidade de 526 litros, acima do Corolla (470) e do Civic (340).

MOTORIZAÇÃO
Sob o capô, o novo Focus guarda o conhecido motor Duratec 2.0, 16 válvulas, movido apenas a gasolina (propulsores flexíveis ficam para o futuro), capaz de gerar 145 cavalos. As poucas mudanças ocorreram no sistema de admissão (para adequar-se às normas ambientais que entram em vigor em 2009) e nos pistões, agora revestidos de teflon para evitar atrito e desperdício de potência. O torque de 18,86 kgfm aparece totalmente às 6.000 rotações, mas a Ford diz que 80% dele já surgem em meros 1.500 giros. O sedã manual teria fôlego, diz a Ford, para ir a 204 km/h; o hatch manual, a 200 km/h.

O trem de força é completado ou pelo câmbio automático de quatro velocidades, seqüencial (com opção de trocas manuais), ou pelo manual de cinco velocidades. A direção agora é eletro-hidráulica, com três opções de ajuste de rigidez e comportamento (normal, esportivo e conforto). A suspensão independente -- McPherson à frente, multilink atrás -- ganhou buchas e coxins novos, em busca de maior conforto.
 

Foto: Divulgação

Interior mantém padrão do modelo antigo, com bom nível de equipamentos, apesar do excesso de tampinhas tapa-buracos

DESIGN E EQUIPAMENTOS
Por fora, o novo Focus ganhou um conjunto óptico de formato irregular e que avança pelas laterais, ajudando a criar a impressão de "movimento-mesmo-parado" almejada pela escola Kinetic de design. A entrada de ar inferior não aumentou muito, mas em conjunto com o segmento negro do pára-choques acaba formando uma "boca" de tamanho respeitável. Na versão top, a Ghia, uma moldura cromada completa o conjunto. O capô tem dois ressaltos que "continuam" o desenho da grade frontal; as caixas de roda ficaram musculosas; e dois vincos sublinham a lateral -- onde a linha de cintura mantém-se praticamente paralela ao solo.

Atrás, o Focus hatch ficou mais inclinado, com a janela traseira completando exatamente a curva do teto -- como se esse tivesse uma parte feita de vidro. Um spoiler marca o fim da lataria. As lanternas delimitam a janela, ficaram quase retangulares e ganharam lentes transparentes. As luzes no pára-choques dão o toque de esportividade.
 

TODOS OS PREÇOS
Hatch GLX 2.0 - R$ 58.190
Hatch GLX 2.0 A/T - R$ 62.690
Hatch Ghia 2.0 - R$ 68.890
Hatch Ghia 2.0 A/T - R$ 73.390
 
Sedã GLX 2.0 - R$ 59.690
Sedã GLX 2.0 A/T - R$ 64.190
Sedã Ghia 2.0 - R$ 70.390
Sedã Ghia 2.0 A/T - R$ 74.890

Já o três-volumes, visto por trás, é um pouco entediante. Ficou com uma traseira que pode ser descrita como "genérica de sedã". Lembra, entre outros, o Chevrolet Corsa, o Peugeot 307, o Ford Fusion e, na opinião de alguns jornalistas, até mesmo um Chevrolet Vectra antigo. Claramente a Ford optou pelo conservadorismo. Basta comparar com as traseiras de Civic e Corolla.

Por dentro, o recheio do Focus mantém o bom padrão do modelo anterior, com ar-condicionado (no Ghia, digital e dualzone com diferenciação de quatro graus entre os lados do habitáculo), regulagens de altura no banco do motorista e dupla (também de profundidade) no volante, computador de bordo multifunção (além do básico, tem alertas de manutenção e funciona em 11 idiomas), comandos no volante e piloto automático. O sistema de som da Sony possui seis alto-falantes e conectividade para iPod e USB, e no Ghia inclui comando de voz, inclusive para regular o ar e o próprio som.

Um diferencial é a ignição por meio de um botão no console, ornado com o logotipo da Ford e a palavra "Power". No carro manual, basta pisar na embreagem e apertá-lo; no automático, pôr a alavanca em P, o pé no freio e o dedo no botão. A segurança ativa conta com ABS (antitravamento), EBD (distribuição eletrônica de frenagem) e CBC ("curve breaking control", que promete abrandar o escorregamento das rodas traseiras na frenagem). A passiva, com airbags frontais.
 

Foto: Divulgação

Novo hatch mede 4,35 m e comparado ao sedã, parece ter direção mais divertida


IMPRESSÕES AO DIRIGIR
O test-drive do novo Focus foi relativamente curto, feito em ruas e estradas de pista única (e asfalto razoável) em Bariloche e nos arredores da cidade. UOL Carros conduziu um Focus sedã GLX manual e um Focus hatch Ghia automático. Assim, pôde colher as primeiras impressões das duas versões, das duas carrocerias e dos dois câmbios.

Por dentro, nem o Focus GLX nem o Ghia entregam o que se poderia chamar de luxo (está muito atrás do Corolla SE-G, por exemplo) ou "excesso" de mimos. Mas são cabines corretas e confortáveis, com bom espaço (até mesmo para cinco pessoas) e comandos nos lugares certos. Duas menções honrosas: para os bancos, que seguram bem o motorista (especialmente o de couro, na Ghia), e para a posição de dirigir, facilitada pelos diversos ajustes.

Talvez por ser parte de um produto global e precisar agradar a gostos diversos, o painel do Focus "encaretou". Perdeu algumas formas alongadas e ovaladas e ganhou, nos instrumentos, marcadores redondos e uma telinha de computador de bordo com informações demais e navegação algo complicada. Os ponteiros de combustível e temperatura apontam para baixo. Além disso, mesmo na versão Ghia há um excesso de tampinhas tapa-buracos: são cinco no console, uma na coluna de direção (onde entraria a chave) e duas nas portas, no lugar do acionador da trava (que fica no trinco).
 

Se tudo isso soa meio decepcionante, basta pôr o Focus para rodar que as qualidades aparecem. O motor Duratec responde bem em baixas e altas rotações, garante retomadas seguras e não faz esforço para atingir e manter velocidades de cruzeiro interessantes, na faixa dos 120 km/h, e para eventuais picos em direção à incivilidade. A suspensão independente, um item sempre elogiado no Focus antigo, traz um acerto que nos pareceu um tanto firme, o que no caso do hatch traduz-se em esportividade. Os pneus 205/55 aro 16, que calçam rodas de liga-leve, colaboram com essa sensação. De modo geral, nas duas carrocerias os ocupantes são bem tratados, e além disso o Focus pareceu bom de curva -- embora tenha sido impossível, devido ao trajeto contido, forçá-lo um pouco mais para desafiar sua estabilidade. Também não deu para sentir diferenças significativas nos três modos de ajuste da direção (cuja seleção, feita no computador de bordo, é demorada).

O câmbio manual de cinco velocidades não causa espécie, mas o automático, de quatro, nos surpreendeu. Na posição Drive, as trocas de marcha acontecem com muita suavidade, sem trancos ou "brigas" com o motor. Já o modo seqüencial difere do de outros modelos por ascender as marchas para baixo e reduzir para cima. Leva um tempo (e alguns erros) para se acostumar. Mas a Ford tem razão em apostar alto no trem de força gerenciado pela transmissão sem pedal de embreagem. É um conjunto muito bom -- e olhe que, de início, desconfiamos do câmbio, como fazemos com todos os automáticos de apenas quatro velocidades...

A julgar pelos comentários de alguns jornalistas, que não notaram diferenças entre dirigir o hatch e o sedã, UOL Carros fica isolado ao dizer que o Focus hatch "veste" melhor o motorista, parece mais na mão e mais divertido. Em todo caso, a impressão geral deixada pelo carro da Ford, nas duas carrocerias, é positiva. O novo Focus tem qualidades para sair-se bem em seu novo posicionamento no mercado, e continua sendo uma opção com bom custo/benefício (veja os preços em quadro nesta página). Melhor ainda para quem não se importar com o visual defasado do Focus "velho", que vai continuar em produção como versão de entrada e com motor 1.6 flexível: com ele, o que se leva para a garagem pelo preço que se paga (de R$ 39.900 a R$ 45 mil, mais ou menos) é bastante coisa.

Viagem a convite da Ford do Brasl