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Linea anda bem, e motor 1.4 turbo cumpre promessa; mas acabamento decepciona

Claudio de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

18/09/2008 20h39

Atualizada à 0h22 de 19/9

Um dia depois da apresentação estática (sem test-drive) e técnica do Linea, novo sedã médio da Fiat, UOL Carros pôde dirigir as duas versões mais interessantes do novo modelo da marca italiana: a Absolute, com o inédito motor 1.9 16V bicombustível e câmbio automatizado Dualogic (item de série), e a T-Jet, equipada com o propulsor 1.4 turbo a gasolina e câmbio manual. Custam, respectivamente, R$ 68.640 e R$ 78.900.
 

Foto: Divulgação

Traseira não é empolgante, mas Linea se destaca positivamente por seu design mais agressivo


Ao longo do test-drive, experimentamos os dois carros no pesado trânsito urbano de São Paulo e nas boas pistas da rodovia Castello Branco -- ou seja, nas duas condições de uso mais comuns para um sedã como o Linea. Vale lembrar que, pelos preços e nível de equipamentos, a Fiat posicionou o novo carro para disputar mercado com versões do Honda Civic, Toyota Corolla e Chevrolet Vectra. A expectativa da montadora é vender 2.500 unidades do Linea por mês.
 


Visto de frente, o Linea tem design forte e interessante, mas parentesco com Punto e mesmo com o Palio é evidente

Primeiro, falemos do design. O contato mais próximo com o carro mostrou duas coisas: de frente, ele lembra tanto o hatch médio Punto, do qual é parente (embora a Fiat diga que ele só herdou o pára-brisa e as portas dianteiras), como -- e isso parece incrível, mas é só reparar bem -- o hatch pequeno Palio (com a frente nova). Digamos que os três são primos entre si. O outro aspecto é que o Linea se destaca positivamente (inclusive em relação à concorrência) por ser mais agressivo, sensação resultante da grade dianteira maior, do perfil fortemente ascendente e das belas rodas de liga (aros 16 na Absolute e 17 na T-Jet), que são itens de série. Como já dissemos, a traseira não é exatamente empolgante -- mas esse é um problema comum aos sedãs.
 

VÍDEO PROMOCIONAL DO FIAT LINEA
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Agora, falemos dos equipamentos e do interior do Linea. São duas facetas do carro que provocam reações opostas. Os itens de série das duas versões são interessantes e, de modo geral, contemplam as necessidades e os desejos de um comprador de sedã médio. De computador de bordo a ar-condicionado digital, está tudo embarcado. E o principal opcional, o sistema Blue&Me NAV, que é o primeiro no mercado nacional a oferecer navegação por GPS integrada (e não num aparelho separado), funcionou perfeitamente, pelo menos no itinerário pré-traçado pela Fiat. O sistema obedece a comandos de voz e "conversa" com o motorista em português brasileiro. Pena que não haja um display em LCD, com capacidade para gráficos. As informações aparecem na telinha do computador de bordo. Mas, até aqui, pontos para o Linea.

ACABAMENTO NÃO AGRADA
O que nos decepcionou foi o acabamento interno -- e falamos justamente das duas versões mais caras do novo sedã. O painel frontal, por exemplo, é de plástico, sem nenhuma sutileza. Parece oco, e passa uma desagradável impressão de fragilidade e de ser feito com material barato. O mesmo padrão se repete na peça plástica que envolve o rádio e os controles do ar-condicionado. Há rebarbas aos montes, e vários encaixes estavam desacertados. O carpete que recobre a tampa atrás dos bancos traseiros é grosseiro, e há um adesivo com o nome "Dualogic", acima da alavanca do câmbio, que parece estar ali apenas para ser arrancado pelo proprietário. Pense bem: tem cabimento um adesivo no console de um carro de mais de R$ 60 mil?

Até mesmo a boa idéia de oferecer bancos e revestimentos em couro claro (num tom de bege) e "furadinho" entrega um resultado ambivalente: é bonito, mas suja com muita facilidade. Não é preciso nem citar os sedãs rivais como contraponto: na própria gama Fiat, o Stilo tem um acabamento muito superior ao dos Linea que conhecemos.
 

Foto: Divulgação

Interior em couro claro é bonito, mas qualidade do acabamento, mesmo nas versões top, é fraca


Claro, também há o que elogiar no interior do carro. O painel da versão Absolute é muito bonito, com grafismos em estilo retrô que nos fizeram lembrar de Fuscas da década de 1970 (o do T-Jet é mais convencional). E a posição de dirigir é boa, mais alta que a dos concorrentes.
 

Por fim, falemos da experiência de rodar com o Linea. O motor 1.9 da versão Absolute é competente e tem um desempenho compatível com o que se espera de um sedã médio. É tambem sensivelmente melhor que o do conhecido motor 1.8 usado em parte da gama Fiat. As respostas são espertas tanto em baixa como em alta rotação, e velocidades de cruzeiro na faixa dos 120 km/h são atingidas e mantidas sem esforço. Já o câmbio Dualogic exige um pouco de paciência do motorista. As trocas de marcha no modo Drive são percebidas claramente pelo "soluço" que o Linea dá -- algo que não acontece quando fazemos as mudanças no modo seqüencial. Não se pode esperar dele a performance de um câmbio totalmente automático, nem a de uma caixa automatizada mais evoluída, mas sua principal função, a de evitar o uso da embreagem, é cumprida a contento.

O acerto da suspensão é relativamente firme (mais ainda no T-Jet), o que garante uma sensação geral de estabilidade -- e não chega a sacrificar o conforto dos ocupantes do habitáculo. As eventuais irregularidades do terreno foram bem absorvidas.

No geral, o comportamento do Linea Absolute nos pareceu um pouquinho mais nervoso que o de seus pares no segmento, o que casa bem com a necessidade de oferecer alguma diferenciação em relação aos demais sedãs médios.
 

CORAÇÃO TURBINADO
Divulgação
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T-JET ENCARA OS 2.0
Por sua vez, o Linea T-Jet entrega o que a Fiat promete: um desempenho de propulsor 2.0 com um propulsor 1.4, proeza garantida pelo turbocompressor de cerca de 1 kgf/cm² de pressão.

O funcionamento deste é suave e constante (ele jamais entra em ação abruptamente), o que, se não proporciona aquela emocionante "grudada no banco", mantém o carro valente e bem-disposto o tempo todo. O resultado é mais esportividade na condução, sublinhada pelo uso do câmbio manual (que se beneficiaria de um curso mais curto), pelas rodas de 17 polegadas com pneus de perfil baixo e pela suspensão mais rígida. O nível do acabamento é o mesmo do Absolute, mas de alguma maneira o maior arrojo do trem de força do T-Jet minimiza a má impressão. O preço, no entanto, é assustador (por R$ 79 mil dá para comprar um Ford Fusion).

DÚVIDAS
O test-drive do Linea nos deixou com mais perguntas do que respostas. A meta da Fiat, de vender 2.500 unidades por mês, não tem nada de absurda. A marca possui seguidores fiéis, o carro tem o apelo da novidade (inclusive o da volta da montadora ao segmento, abandonado desde o fim do Marea) e o parentesco próximo com um outro carro médio de muito sucesso, o Punto. Mas será que um potencial comprador de Civic ou Corolla vai realmente considerar a aquisição de um Linea?

Talvez os menos "tiozões" dessa turma topem comparar os modelos. E, se o interior meio decepcionante do novo carro da Fiat não for um problema, seu design e sua performance podem conquistar adeptos, o que esquentaria ainda mais a já interessante briga dos sedãs médios. A ver.