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Sandero Stepway coloca Renault na turma dos aventureiros urbanos

Claudio de Souza

Do UOL, em Mogi das Cruzes (SP)

23/09/2008 20h00



A Renault aderiu à onda dos aventureiros urbanos, aqueles carros com suspensão elevada e adereços de robustez. Acaba de exibir o Sandero Stepway, versão "fantasiada" do bem-sucedido hatch e terceiro carro baseado na nova plataforma B0 (o segundo é o sedã Logan, de origem romena). Com preços variando de R$ 44 mil a R$ 53.700, o Stepway chega às lojas brasileiras em outubro. Logo depois, será a estrela da marca francesa no Salão de São Paulo.

O carro, diz a Renault, foi projetado ao mesmo tempo que o Sandero "civil", e vem com a motorização "top" deste, o propulsor Hi-Flex 1.6 de 16 válvulas, 112 cavalos de potência e 15,5 kgfm de torque (quando abastecido com álcool). A versão é única, mas há sete níveis de acabamento.
 

Para a montadora, o Stepway destina-se a "encarar a dureza da cidade", entregando atributos como visual esportivo, robustez, sensação de segurança, posição mais alta de dirigir e disposição para transpor buracos. O principal recurso técnico para se obter parte desse resultado é tornar a suspensão mais alta, o que eleva toda a carroceria. No caso do Stepway, o ganho foi de quase 4 centímetros em relação ao carro convencional (e mais 1 cm vindo dos pneus). A distância livre do solo passou a 18,5 cm. Os efeitos práticos mais evidentes são dois: deixar o motorista do Stepway "por cima" em relação aos demais; e preservar a parte inferior da carroceria (especialmente a dianteira) de raspadas e batidas em valetas, guias e buracos, obstáculos comuns em nossas ruas.

IMAGEM É TUDO
Já as impressões de esportividade e robustez são essencialmente visuais. Elas derivam da máscara negra nos faróis (bem-vinda, escondendo os 30% da peça que são mero arremate), do pára-choque dianteiro em formato de quebra-mato, dos skid-plates de araque na frente e atrás, dos estribos e molduras laterais, das (belas) rodas de liga aro 16 e do rack de teto.

A Renault tentou avançar um pouquinho mais na jovialidade do carro, e criou uma linha de seis adesivos para aplicar na lateral traseira esquerda do Stepway, à escolha do cliente na hora da compra. Os desenhos remetem a temas como tatuagem tribal, arte urbana (ou seja, pichação), flores, música eletrônica etc. A boa notícia é que você pode dispensá-los. E o gigantesco adesivo traseiro que identifica a versão é fácil de tirar. Depois de rasgar a fantasia, o veredicto: o Sandero Stepway ficou mais bonito que o carro "normal" e, a nosso ver, mais interessante que o Volkswagen CrossFox (que começa em R$ 50.800), seu alvo principal (os outros são o Citroën C3 XTR, a partir de R$ 51.400, e a linha Adventure da Fiat).
 

DETALHES NEM TÃO PEQUENOS
Fotos: Cláudio de Souza/UOL

Adesivo de tatuagem tribal é uma das seis opções para adesivar o Sandero Stepway, mas o proprietário pode dispensar o enfeite ao comprar

A bem-vinda máscara negra dá mais agressividade ao conjunto óptico; grade tem desenho exclusivo

A marca francesa tem uma meta relativamente modesta para o Sandero Stepway. Quer vender 8.000 unidades ao longo de todo o ano cheio de 2009. Isso significa emplacar um Stepway a cada cinco Sandero normais. A proporção é semelhante à que existe entre CrossFox e Fox -- que, juntos, venderam 88 mil unidades este ano até meados de setembro (contra 28.200 do Sandero). A montadora francesa estima que 50% dos compradores do Stepway serão mulheres.

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
A primeira sensação ao entrar no Sandero Stepway foi de familiaridade. Seu interior é muito semelhante ao do Logan e ao do Sandero já conhecido -- o que vale dizer que é simples, mas honesto. A maior parte dos comandos segue malposicionada (levantador de vidros no painel, controle do retrovisor embaixo do freio de mão), mas mesmo soluções estéticas simples, como os aros brancos em torno dos mostradores do painel, têm uma certa aura de simpatia. Testamos carros equipados com bancos de couro, que são muito mais firmes e confortáveis que os de tecido na gama Logan/Sandero. E os retrovisores do Stepway ficaram maiores que os do Sandero, o que é um alento.

Só que a primeira reação ao guiar o Sandero Stepway foi de medo. Logo nos primeiros quilômetros o carro se rebelava contra o motorista e ameaçava sair do controle ante qualquer irregularidade da pista -- e isso porque desenvolvíamos velocidades normais, entre 80 km/h e 120 km/h. As oscilações laterais e o volante excessivamente folgado instalaram em UOL Carros uma sensação constante de insegurança.

Inicialmente creditamos isso apenas à suspensão elevada, que também altera a aerodinâmica. O Stepway parecia incapaz de manter-se rígido em relação ao solo (ou seja, o mais perpendicular possível). Reforçamos essa conclusão quando, após essa primeira etapa do test-drive, alguns colegas relataram sensações semelhantes.
 

PREÇOS E DADOS
Stepway Básico - R$ 44.000
Pack Step - R$ 48.600
Pack Step /Airbag - R$ 50.150
Pack Top - R$ 49.800
Pack Top/Couro - R$ 51.600
Pack Segurança - R$ 52.700
Pack Seg./Couro - R$ 53.700
EQUIPAMENTOS E PACOTES
FICHA TÉCNICA COMPLETA

Achamos recomendável dirigir outro exemplar do Stepway, e dessa vez a experiência foi bem melhor. Este segundo pareceu mais "na mão", mais controlado e confiável, mesmo a velocidades acima dos 100 km/h. A sensação de que o volante é folgado e leve demais permaneceu (de resto, uma característica de toda a "linha Dacia" da Renault), mas o comportamento geral do carro foi bem mais agradável. Pudemos, finalmente, apreciar a ótima posição de dirigir, que prescinde até do ajustamento da coluna de direção. E notar que o acerto da suspensão funciona bem quando se trata de absorver e anular o relevo irregular do péssimo asfalto nosso de cada dia.

Mas quisemos tirar a prova final, e dirigimos ainda outro exemplar do Sandero Stepway, sempre no mesmo itinerário (uma estrada asfaltada, mas com trechos precários, na região de Mogi das Cruzes). A experiência com esta terceira unidade assemelhou-se àquela com o segundo carro. Isso nos faz pensar que: 1) no limite, o primeiro exemplar podia ter algum problema mecânico; ou 2) à medida que cresce a intimidade com o Stepway, o motorista "lê" melhor o carro, passa a prever seu comportamento e a corrigi-lo quase instintivamente.

O motor Hi-Flex não dá um show de entusiasmo, mas entrega força suficiente em baixas e altas rotações, além de proporcionar retomadas seguras. O câmbio poderia ser mais seco, mas não compromete. De qualquer modo, não se trata de um carro para abusar da velocidade.

A Renault insistiu muito que o Sandero Stepway é um veículo urbano, feito sob medida para enfrentar a ruindade de nossas ruas, e que não se trata nem ao menos de um off-road light. Talvez por isso tenha preparado um test-drive apenas em asfalto. Mas resolvemos enfiar o carro em duas estradinhas de terra que encontramos pelo caminho, com piso escorregadio, ondulações, algumas valetas e muito pedregulho.

A Renault deveria confiar mais no seu produto, porque o resultado na terra nos surpreendeu. Apesar de os pneus serem mais apropriados para o asfalto, o Stepway se mostrou valente longe dele, derrapando pouco, enfrentando obstáculos que teriam "machucado" bastante um carro mais baixo, e mesmo assim preservando um bom nível de conforto para os ocupantes. Óbvio que ele não deve ser usado para transpor lamaçais. Mas podemos dizer que o Sandero Stepway não tem medo de poeira.

Viagem a convite da Renault do Brasil