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Defender melhora em mecânica e conforto, mas segue amparado na vocação jipeira

Da AutoPress

Especial para o UOL

26/09/2008 22h01

Diogo de Oliveira/Carta Z Notícias 
 


Ser um ícone na indústria automobilística não é para qualquer modelo. Requer tempo, qualidade reconhecida e estilo marcante. O jipe Defender tem as três condições. Mas vive uma contradição. Com preços entre R$ 139 mil e R$ 144 mil, o utilitário da Land Rover fica em um nicho de SUVs mais sofisticados, todos com muito conforto, eletrônica embarcada e repletos de equipamentos de segurança. Só que o Defender não possui quase nenhum sistema eletrônico mais moderno. Nem mesmo airbags são oferecidos. Sua principal atração é a famosa desenvoltura fora-de-estrada, onde o destaque é a mecânica robusta. Daí a Land Rover ter vendido apenas 54 unidades do jipão até agosto.

Pesquisas da marca britânica apontam que quem compra um Defender faz questão de tê-lo pelo porte rústico ou pela aura aventureira. Mas nem sempre foi assim. Até 2005, quando o modelo era montado no Brasil, na fábrica da Karmman Ghia, em São Bernardo do Campo (SP), seu preço era de cerca de R$ 90 mil. Mais "acessível", o jipão chegou a emplacar mais de 50 unidades/mês. Importado da Inglaterra a partir do ínicio de 2006, o utilitário despencou nas vendas. E agora chega por aqui atualizado, após a leve remodelação do começo de 2007.

Por fora, o Defender mantém seu desenho basicamente intocado. Ou seja, ainda exibe as tradicionais linhas quadradonas e a carroceria tosca feita de chapas retas de alumínio presas por rebites, com dobradiças aparentes nas portas e nas tampas. Só o capô foi modificado, com a adição de um volumoso ressalto central, necessário para acomodar o novo propulsor 2.4 litros a diesel, que substitui o antigo propulsor 2.5 turbo-diesel, com cinco cilindros em linha, 120 cv de potência e 30,6 kgfm de torque.
 

ACELERADAS
- Cerca de 25 mil unidades do Land Rover Defender são vendidas por ano no mundo.
- Até hoje já foram vendidas mais de 1,9 milhão de unidades do veículo no planeta.
- O primeiro Defender saiu da linha de montagem em 1948. Chamado de Land Rover, foi apresentado no Salão de Amsterdã, na Holanda.
O nome Defender foi adotado somente a partir de 1990.
- O Defender foi montado no Brasil entre 1999 e 2005, na fábrica da Karmann Ghia, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. No ano seguinte, o jipe voltou a ser importado
da Inglaterra.
- A Land Rover apresentou a versão atual do Defender na Inglaterra, em março de 2007.
- No fim de 2007 a Land Rover apresentou o Land Rover Defender SVX, uma edição comemorativa dos 60 anos de fabricação do jipão da marca. Entre os itens, a versão tem ponteiras cromadas no escape, pintura preta, detalhes de acabamento na grade frontal e bancos esportivos Recaro.

O novo motor conta com quatro cilindros em linha, 16 válvulas, turbo de geometria variável e injeção direta common-rail. Produz 122 cv de potência aos 3.500 rpm e um generoso torque de 36,7 kgfm, 20% mais forte. A força máxima é despejada aos 2.500 mil giros, mas 90% da energia fica disponível entre a faixa de 2.200 rpm até as 4.350 rotações.

O rendimento também se deve à nova transmissão manual de seis marchas. A Land Rover modificou o escalonamento do câmbio com a promessa de melhorar a dirigibilidade do Defender em vias pavimentadas. A primeira marcha foi encurtada em 30%, para aumentar a força de tração, e a sexta foi alongada em 34%, permitindo ao motor trabalhar em regime baixo de giros em velocidade elevadas. A fabricante ainda amaciou a embreagem hidráulica e mudou o engate da ré, agora à esquerda, junto da primeira marcha -- antes era à direita.

O conforto segue limitado, mas o interior do veículo ganhou uma ajeitadinha. O painel foi completamente redesenhado e agora apresenta aspecto mais jovem, com os comandos concentrados no console central. A Land Rover também aplicou texturas mais agradáveis aos olhos e ao tato. As saídas do ar-condicionado, antes retangulares e posicionadas na parte inferior do painel, agora estão centralizadas no topo, com duas saídas quadradas e outras duas redondas, que permitem ajustes múltiplos de direção. O isolamento acústico foi reforçado e os bancos foram redesenhados.

Outra evolução considerável no Defender foi na segurança. O novo modelo traz de série freios a discos ventilados com ABS nas quatro rodas e controle eletrônico de tração. Ambos os sistemas não eram oferecidos na versão antiga do jipe, que pecava justamente pela ausência de equipamentos de segurança ativa. Já na parte de entretenimento, passa a trazer de fábrica sistema de som redistribuído, com seis alto-falantes e um rádio/CD/MP3 com entrada auxiliar.

O pacote de fábrica tem ainda vidros elétricos na frente, direção hidráulica, travamento das portas por controle remoto, teto solar, assoalho com revestimento em carpete, desembaçador do vidro traseiro, lanternas de neblina e regulagem de altura dos faróis e rodas de liga leve aro 16 nas configurações 90, com chassi curto, e 110, com chassi longo -- a versão picape 130 traz rodas de aço. A lista não é das mais fartas, sobretudo em relação aos preços. Por isso, a Land Rover não fala em números de vendas. A montadora aposta na tradição. Afinal, trata-se de um modelo com 60 anos de mercado e que até hoje é reconhecido como um clássico off-road.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES
A maioria dos jipões 4x4 é durona e pouco confortável de dirigir, por ser feita para enfrentar obstáculos fora-de-estrada. Mas o passeio pelo deserto do Jalapão, no leste do Tocantins, mostrou que o novo Defender mantém sua tradicional e reconhecida aptidão off-road severo, só que com um ligeiro conforto a mais. Os novos bancos, mais ergonômicos, e o painel redesenhado com visual moderno deixaram o interior do jipão com um leve aspecto de carro de passeio. O reforço do isolamento acústico e as saídas da ventilação reposicionadas no topo do console central, com dois "canhões" de múltiplos ajustes, também ampliaram o nível de conforto a bordo.
 

FICHA TÉCNICA
Land Rover Defender 110
2.4 Turbo-Diesel
Motor: Diesel com turbo de geometria variável, dianteiro, longitudinal, 2.401 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando duplo de válvulas. Injeção direta de combustível do tipo common-rail. Acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio manual com seis marchas à frente e uma a ré. Tração integral nas quatro rodas, com acoplamento manual de reduzida e do bloqueio do diferencial central. Oferece controle eletrônico de tração.
Potência: 122 cv a 3.500 rpm.
Torque: 36,7 kgfm a 2.500 rpm.
Diâmetro e curso: 89,9 mm x 94,6 mm.
Taxa de compressão: 17.5:1.
Suspensão:
Dianteira: eixo rígido, com braços longitudinais, molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora.
Traseira: eixo rígido, com braços triangulares, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos. Não oferece controle eletrônico de estabilidade.
Freios: Discos ventilados na frente e atrás. ABS de série.
Carroceria: Utilitário esportivo em chapas de alumínio sobre longarinas com quatro portas e sete lugares. 4,64 metros de comprimento, 1,79 metro de largura, 2,00 metros de altura e 2,80 metros de distância entre-eixos. Não oferece airbags.
Peso: 1.873 kg em ordem de marcha; 1.777 kg de carga útil.
Tanque: 75 litros.
Capacidade off-road: Ângulo de ataque de 49º, ângulo de saída de 35º, capacidade de subida de rampa de 45º e altura livre do solo de 31,4 cm.

Mas é o novo conjunto mecânico que sobressai. O motor 2.4 litros turbo-diesel acoplado à transmissão manual de seis marchas reescalonada dá ao Defender um desempenho que só os jipões verdadeiramente lameiros possuem. O utilitário passou com firmeza pelos diversos e mais exigentes obstáculos encontrados no Jalapão. Desde as depressões e buracos aos trechos arenosos de baixa aderência, o Defender mostra força principalmente quando acionadas a caixa de reduzida e o bloqueio do diferencial central. O generoso torque de 36,1 kgfm, disponível aos 2.500 rpm, sobra na tarefa de empurrar os pesados 1.873 kg da configuração 110 avaliada.

O escalonamento do novo câmbio é determinante nos momentos de extrema dificuldade. A primeira marcha, encurtada em 32% frente ao câmbio antigo, deixa o Defender ainda mais robusto, com uma vigorosa capacidade de tração para transpor barreiras naturais. Outro aspecto interessante é o controle eletrônico de tração ETC, que trabalha em conjunto com o sistema de freios a discos ventilados com ABS. Assim que percebe a perda de aderência em um dos eixos, o sistema freia as rodas e redistribui o torque pelo diferencial. O resultado são frenagens mais seguras e melhor equilíbrio da carroceria.

Já nas situações de giro em falso de uma das rodas, o bloqueio do diferencial pode ser acionado para que a unidade de força despeje sua energia em igualdade nos eixos, tracionando com força total as rodas que estão firmes no chão. Uma das maiores dificuldades para o condutor nessas condições, porém, é justamente o acoplamento das diversas relações do câmbio. Dura e com engates pouco precisos, a caixa de transmissão exige atenção e perseverança do motorista, sobretudo no acionamento da reduzida.

Outro aspecto negativo é o espaço nos bancos dianteiros. Como o túnel central necessita ser largo e alto, para acomodar a transmissão e o diferencial acima das longarinas do chassi, para permitir ângulos de entrada e saída maiores, a largura e o espaço para pernas são limitados.

Em compensação, a posição mais ereta dos bancos e a ampla área envidraçada fornecem um campo de visão privilegiado. O alongamento da sexta marcha em 34% também melhorou o desempenho do jipe no asfalto. Aos 120 km/h, o conta-giros marca 2.500 rpm, o que reduz o ruído do motor. Somado a isso, o novo Defender traz ainda um sistema de som reestruturado, com seis caixas acústicas e CD Player com rádio, leitor de MP3 e entrada auxiliar. Um conjunto mais urbano e nada rústico. E o que deixa o jipão interessante.
(por Diogo de Oliveira, do Jalapão-TO)
 

DE 0 A 100 PONTOS, O LAND ROVER DEFENDER 110
Desempenho - O Defender é um utilitário-esportivo construído especialmente para o uso off-road. Justamente por isso, a nova unidade de força 2.4 litros turbo-diesel foi preparada para fornecer um torque generoso. São 36,1 kgfm despejados aos 2.500 giros, com 90% da força disponível entre 2.200 rpm e 4.350 rpm. O resultado são arrancadas vigorosas, sobretudo com a caixa de reduzida ou o bloqueio do diferencial central acionados. Em situações fora-de-estrada mais difíceis, impressiona a força com que o motor empurra os 1.873 kg da configuração 110 do jipão. Já a velocidade final não comove: o modelo chega aos 140 km/h, com demora. Em compensação, o novo escalonamento do câmbio, com a sexta marcha alongada, permite ao motor manter 120 km/h a 2.500 rotações -- favorecendo o conforto e o baixo consumo de combustível. Nota 8.
Estabilidade - Por ser alto e ter um vão livre do solo de 31,4 cm -- um dos maiores entre os jipes atuais --, o Defender é difícil de se conduzir. Tanto no asfalto quanto em pisos acidentados a carroceria rola bastante nas curvas e exige cautela. Nas frenagens, o sistema de freios a discos ventilados com ABS atua de forma eficiente, mantendo bom equilíbrio. A tração integral permanente também auxilia nas oscilações em retas e curvas. A comunicação entre rodas e volante é precisa. Nota 7.
Interatividade - A remodelação feita pela Land Rover mudou significativamente o interior do Defender. Os novos bancos não permitem muitos ajustes, mas têm formato mais ergonômico. Já o painel redesenhado traz os comandos reunidos no console central, com bom acesso. Outro destaque são as novas saídas da ventilação, com dois "canhões" que permitem ajustes múltiplos da direção do ar. O rádio/CD/MP3 também agrada, com uma boa disposição dos seis alto-falantes. Já o quadro de instrumentos está mais legível. Só o novo câmbio destoa. Embora bem escalonado, tem engates duros e imprecisos. Nota 7.
Consumo - Segundo a Land Rover, o consumo do Defender durante a expedição no deserto do Jalapão, no Tocantins, foi de 8 km/l de diesel, uma média normal para um percurso com obstáculos fora-de-estrada difíceis. Nota 7.
Conforto - O Defender ganhou melhorias estratégicas em relação à comodidade. Os bancos foram redesenhados, as novas saídas do ar são mais práticas, o acabamento interno evoluiu e o isolamento acústico do motor foi reforçado. Por dentro, o modelo tem espaço razoável para pernas e cabeça, com exceção da largura nos bancos dianteiros, limitada por conta do túnel central largo, que acomoda as caixas de transmissão e de reduzida e o diferencial. Mas mesmo com todos esses aprimoramentos, o jipão inglês está longe de ser um veículo confortável. A suspensão com molas de duplo estágio para o uso off-road transmite todas as vibrações ao habitáculo. Nota 6.
Tecnologia - O Defender não é recheado de tecnologia eletrônica e nem pretende ser. Seu ponto forte é a mecânica robusta para a prática de off-road, com o novo motor 2.4 turbo-diesel e a transmissão de seis marchas, com opção de reduzida e bloqueio do diferencial central -- acionados manualmente por duas manoplas dispostas lado a lado. O ponto fraco é mesmo a segurança. A nova versão vem de fábrica com ABS e controle eletrônico de tração. E só. Não há sequer airbags frontais. Nota 6.
Habitabilidade - O interior do Defender foi bem repaginado pela Land Rover. Tem vasto número de porta-objetos, tampas e acessos amplos e passa a vir com encostos de cabeça e cintos de três pontos em todos os bancos. No entanto, a altura livre do solo de mais de 31 cm combinada com a ausência de puxadores na parte externa ou nas portas praticamente exige a instalação de estribos laterais para que os ocupantes possam entrar no veículo com o mínimo de contorcionismos. Outro detalhe incômodo é a alavanca de abertura do porta-malas, que fica espremida pelo estepe e requer força no acionamento. Nota 6.
Acabamento - A Land Rover acertou na aplicação de materiais mais agradáveis aos olhos e ao tato. Além do aspecto mais moderno, o Defender tem peças bem modeladas e com encaixes precisos para suportar os trechos de off-road pesado. Não há rebarbas aparentes. Nota 8.
Design - O estilo do Defender é mantido até hoje, desde o seu lançamento há 60 anos, por uma razão simples. O visual quadradão e tosco, formado por chapas de alumínio retas e com dobradiças aparentes, preserva a imagem de robustez inerente ao jipão. Nota 8.
Custo/Benefício - Vendida por R$ 144 mil, a versão topo de linha 110 do Land Rover Defender praticamente não tem concorrentes diretos. O Jeep Wrangler e o Troller T4 Trilha são menores e custam R$ 104.900 e R$ 85.045. Mas mesmo sendo um ícone fora-de-estrada, o preço pedido no jipe inglês é elevado, tanto pelo que oferece quanto por já ter sido montado no Brasil e vendido a preços na faixa dos R$ 90 mil. Nota 5.
TOTAL - O Land Rover Defender 110 somou 68 pontos em 100 possíveis. Nota: 6,8.