Topo

Hilux segue bela e suave; SW4 fica 'genérico', mas é lameiro

Claudio de Souza

Do UOL, em Pilar (Argentina)

22/10/2008 11h47

A Toyota apresentou esta semana em Pilar, na Argentina, a linha 2009 da picape Hilux e do utilitário esportivo (SUV) SW4. Houve mudanças estéticas nos dois veículos, mas as principais novidades estão sob o capô e dentro do habitáculo: a picape ganhou uma versão com motor a gasolina, o VVT-i 2.7 de 16 válvulas e 158 cavalos de potência, e o SUV agora possui uma terceira fileira de assentos, escamoteável (ela ocupa espaço do porta-malas quando acionada), com dois bancos -- assim, sua capacidade aumentou para sete pessoas.


A Hilux 2009 sofreu mudanças principalmente na grade inferior e no pára-choques
 

A gama da picape passou a ter uma faixa de preços com amplitude de mais de R$ 50 mil, já que a versão básica, a STD 4x2 cabine simples com motor 2.5 turbodiesel, começa em R$ 74.900, enquanto a mais completa, a SRV 4x4 cabine dupla automática 3.0 turbodiesel sai por R$ 125.600. A picape a gasolina, somente 4x2, custa R$ 79.600. Já os preços do SW4 manual e automático só serão divulgados no Salão do Automóvel de São Paulo, em novembro. O modelo 2008 custa entre R$ 154.000 (manual) e R$ 163.500 (A/T com bancos em couro).

As mudanças estéticas da picape Hilux não atingiram o que ela tem de melhor: a simplicidade e expressividade da seção superior da grade dianteira e do conjunto óptico. Já a parte inferior da grade ficou retilínea, e os pára-choques, mais bojudos onde abrigam os faróis de neblina. A intenção da mexida, claro, foi dar mais "robustez" ao veículo -- um lugar-comum que se ouve em 99% das apresentações de carros, não importando o segmento e a marca. De resto, a picape (que é fabricada na Argentina) alinhou seu visual ao de outras opções da Toyota no segmento, como as malsucedidas Tundra e a Tacoma, vendidas nos Estados Unidos.


Mudança exterior no SW4 foi mais drástica, e o afastou do visual da picape

Já o SW4 sofreu uma operação plástica mais abrangente. A traseira pouco mudou, mas sua dianteira ficou bastante diferente da "irmã" picape, com um conjunto óptico mais estreito e alongado, além de uma grade superior com duas barras perfuradas. A nosso ver, o SUV acabou perdendo seu maior charme, que era justamente o de assemelhar-se bastante à Hilux, o que lhe dava um "carimbo" de credibilidade como utilitário. Do jeito que ficou, parece um genérico de SUV asiático -- japonês, sul-coreano, chinês, pouco importa.
 

DETALHES INTERNOS

O painel da Hilux SRV ganhou nova iluminação, muito agradável; volante finalmente passa a ter comandos do som e do computador

No SW4, a grande novidade interna é a terceira fileira de assentos; na foto, o cuidado da Toyota em instalar saídas de ar para ela

Por dentro, a versão top da Hilux foi a que mais ganhou itens de série interessantes. A picape SRV agora vem com computador de bordo, comandos no volante (do som e do computador), cruise control (piloto automático), painel com iluminação diferenciada, ar-condicionado digital, bancos e acabamento interno em couro. Por fora, há ainda rodas de 16 polegadas calçadas com pneus 265/70. Entre os itens de segurança, há airbag duplo e freios com ABS (antitravamento). E não estará errado quem perguntar por que alguns desses equipamentos já não estavam disponíveis antes. O recheio das demais versões é mais modesto: o ar-condiconado, por exemplo, é sempre manual. E há um abismo entre a versão intermediária SR e a STD. Basta conferir a lista completa de equipamentos.

O SW4 está disponível apenas na versão SRV, com recheio semelhante ao da picape equivalente e mais alguns mimos -- como o sistema de ar-condicionado com saídas no teto para atender à segunda e à terceira fileiras de bancos, retrovisor interno eletrocrômico e externos com rebatimento, regulagem elétrica do banco do motorista e apliques imitando madeira. O tanque de combustível passou para 80 litros, aumentando a autonomia (importante se houver a intenção de usar o SW4 no fora-de-estrada). As rodas são de 17 polegadas, calçadas com pneus 265/65, mais baixos que os da Hilux.
 

  • Veja as fichas técnicas de Hilux e SW4

    A BRIGA DOS UTILITÁRIOS
    A linha Hilux é a segunda mais vendida entre as picapes média no Brasil, perdendo apenas para a "eterna" líder Chevrolet S10. Neste ano, até a metade de outubro, a S10 emplacou 25.209 unidades no país. Já a Hilux vendeu 16.726 unidades.
    A Mitsubishi L200 vem em terceiro lugar, com 15.539 emplacamentos de janeiro a outubro. Logo atrás está a Ford Ranger, que entregou 11.249 unidades. Já a Nissan Frontier aparece num distante quinto lugar, com 5.104 vendas.
    O SW4 tem um desempenho razoável entre os diversos SUVs médios e médio-grandes disponíveis no mercado. Vendeu este ano, também até a metade de outubro, 5.623 unidades. Perde da linha Mitsubishi Pajero (14.489) e do Kia Sportage (6.029), mas está à frente de modelos da Hyundai, como Vera Cruz (1.891) e Santa Fe (3.484).
    PREÇOS NA TABELA FIPE
    Quanto à tração: todas as configurações 4x2 da Hilux possuem diferencial traseiro com deslizamento limitado, um sistema antiderrapante batizado de LSD pela Toyota, o qual evita a transferência de toda a força para a roda que eventualmente comece a girar em falso. É um bom recurso para o off-road, mas não ajuda na condução geral do veículo em pisos pouco aderentes. Já nas versões SR e SRV, a tração é selecionada por uma alavanca: 4x2, 4x4 e 4x4 reduzida (a SRV também possui roda livre automática). No SW4, a tração 4x4 é permanente, ou seja, independe da escolha do motorista. A reduzida é acionada por alavanca, e há o sistema LSD e também o bloqueio do diferencial central.

    IMPRESSÕES AO DIRIGIR
    UOL Carros participou nesta terça-feira (21) de um ligeiro test-drive realizado em Pilar, na Argentina, e experimentou a Hilux SRV turbodiesel 3.0 manual, a Hilux SR 2.7 a gasolina e o SW4 SRV A/T, também com o propulsor turbodiesel 3.0, que entrega 163 cavalos. O trajeto compreendia um trecho de terra -- que, felizmente, devido a uma tempestade que caiu sobre a região, transformou-se num escorregadio lamaçal -- e outro de estrada de boa qualidade.

    A Hilux SRV teve um upgrade modesto no interior. Fazem muita diferença o painel com nova iluminação e moldura, o computador de bordo, os comandos no volante e a aposentadoria do inacreditável relógio digital que já equipava o Corolla em 2002. Mas é preciso ter em mente que se trata de uma picape, e não de um carro de luxo. O painel frontal, por exemplo, não tem revestimento -- vai de plástico duro mesmo. O resultado é que a Chevrolet S10 Executive completa ainda é mais aconchegante do que a Hilux. Por sua vez, a versão SR sofre com a falta do que a SRV ganhou. Mas ressalte-se que não há "desonestidade" nos habitáculos. É tudo muito correto, dentro da proposta de um veículo de uso misto.

    DETALHES EXTERNOS

    O conjunto óptico da Hilux mudou muito pouco, mas o pára-choques ficou mais bojudo na área que recebe os faróis de neblina

    No SW4, a grade tem duas barras horizontais com perfurações, enquanto o conjunto óptico ficou mais afilado e apresenta ângulos
    Por sua vez, o SW4, cuja mira aponta principalmente para a utilização urbana, entrega mais sofisticação, embora a combinação de couro bege com plásticos em cinza e madeira "fake" em marrom escuro seja meio esquisita. Mas o ajuste elétrico do banco do motorista e a abundância de porta-trecos fazem muita diferença.

    Ao dirigir as Hilux, notamos que a condução segue muito agradável em pisos de asfalto regular. A direção é suave e a suspensão (que teve modificações na traseira) trabalha com comedimento, transmitindo aos ocupantes uma sensação de conforto semelhante à de um sedã médio-grande. Tanto o motor 3.0 turbodiesel quanto o 2.7 a gasolina falam baixo, mas a rodagem dos pneus bastante largos no asfalto e os ruídos aerodinâmicos invadem o habitáculo num tom acima. Pegamos chuva forte com a SR, e o barulho da água no teto foi significativo.

    Ambos os motores entregam força e confiabilidade nas velocidades de cruzeiro e nas retomadas. Já o câmbio manual de cinco marchas, com uma alavanca enorme, é amigável, mas em alguns engates (especialmente no da terceira marcha) nos pareceu impreciso. A diferença na curva de torque, com os 35 kgfm do 3.0 turbodiesel aparecendo já às 1.400 rotações, e os 24,5 kgfm do 2.7 a gasolina às 3.800, só será sentida de verdade numa situação de off-road mais pesada -- algo que a ausência de tração 4x4 no veículo a gasolina por si só já desaconselha. Aliás, na lama, "traçada" e eventualmente com a reduzida acionada, a Hilux SRV ficou bem na mão e respondeu com presteza às correções das derrapagens. Com a SR a gasolina, optamos pela prudência -- mas em ambas foi possível notar que a suspensão faz seu trabalho de forma competente.

    O SW4 mostrou comportamento semelhante ao da Hilux top quando no asfalto. O carro esbanja disposição: aos 130 km/h (máxima permitida em certas estradas argentinas), parece desafiar a motorista a pisar fundo e descobrir o seu limite. Que, por sinal, é desconhecido por nós, já que a Toyota não informa a velocidade máxima nem o consumo médio de seus produtos.

    PREÇOS E VERSÕES
    STD (Standard) 2.5 turbodiesel
    R$ 74.900 (4x2 cabine simples)
    R$ 81.700 (4x4 cabine simples)
    R$ 84.800 (4x2 cabine dupla)
    R$ 88.900 (4x4 cabine dupla)

     

     

    SR 3.0 turbodiesel
    R$ 98.300 (4x2 cabine dupla)
    R$ 104.000 (4x4 cabine dupla)

     

     

    SR 2.7 VVT-i a gasolina
    R$ 79.600 (4x2 cabine dupla)

     

     

    SRV 3.0 turbodiesel
    R$ 107.600 (cabine simples)
    R$ 118.800 (cabine dupla)
    R$ 125.600 (cabine dupla A/T)

     

    SW4 3.0 turbodiesel manual e A/T
    Preço a ser divulgado
    PATINANDO
    Mas a parte mais interessante do test-drive com o SUV médio da Toyota aconteceu por acidente. Numa curva do trecho de terra, quando UOL Carros ia de navegador (ou seja, não estava dirigindo), o carro escorregou para dentro de uma valeta paralela à estrada, de cerca de 40 cm de profundidade, e lá enfiou as duas rodas da esquerda, deixando as da direita patinando nas poças de lama e no barro solto. Para frente e para trás, com a reduzida acionada e o LSD (provavelmente) em ação, não havia jeito de encontrar atrito suficiente para puxar o SW4 para fora do buraco. Os pneus, específicos para uso urbano (nem mistos eles eram) não ajudavam.

    Quando finalmente as rodas da esquerda galgaram o barranco e o SW4 encontrou quatro apoios, em ambos os lados nos limites da valeta, a solução foi típica de um trabalho em equipe de off-road: do lado externo, orientamos o alinhamento das rodas para que não caíssem de novo no obstáculo, e assim foi até o carro chegar a uma curva na valeta. Um pedaço de madeira serviu de calço para que ele vencesse, por questão de centímetros, esse último trecho -- e enfim saímos do buraco. O generoso ângulo de ataque de 30 graus (a Hilux tem 21 graus) e o vão livre de 22 centímetros ajudaram na solução, e garantiram que o SW4 chegasse intacto, sem um arranhão sequer, à garagem da Toyota.

    A inesperada aventura off-road com o SW4 nos deixou uma boa impressão desse SUV. Ele pode ter ficado meio sem graça quando visto por fora, mas tem disposição para brigar na lama -- em certas situações, até mais do que a Hilux, e independentemente de a quase totalidade de seus compradores nem sonhar com esse tipo de brincadeira. Afinal, é um carro de, no mínimo, R$ 150 mil. Quem se arriscaria?