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Recheado de opcionais, Voyage 1.0 fica caro e perde pontos no quesito desempenho

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

12/11/2008 00h02

Um mês após o lançamento do novo Voyage, sedã baseado no Gol e 'ressuscitado' após 13 anos de ausência no mercado, UOL Carros recebeu o aviso da Volkswagen de que poderia buscar a versão 1.0 para testes. O caminho até a fábrica, em São Bernardo do Campo (SP), foi percorrido de táxi -- um Fiat Idea --, cujo motorista não abriu mão da chance de dar uma espiada no três-volumes de entrada da montadora alemã. "É verdade o que dizem no comercial, que ele custa R$ 30.990?"
 

Foto: Eugênio Augusto Brito/UOL

Visual limpo no Voyage 1.0: nada de frisos e detalhes cromados ou pintura de maçanetas e retrovisores; calotas integrais simulam rodas de liga e emblema com nome só no porta-malas. Ainda assim, linhas ascendentes e jogo de sombras dão certo ar imponente ao três-volumes da VW

Verdade é, mas por este preço o comprador recebe um carro 'limpo', sem detalhes externos e com lista de equipamentos enxuta -- regulagem de altura do banco do condutor e abertura elétrica da tampa do porta-malas estão incluídas, mas o popular trio ar-condicionado/direção hidráulica/travas e vidros dianteiros elétricos, não. O desempenho também é básico: o motor de 999 cm³ tem 72 cavalos de potência com gasolina e 76 cv com álcool (a 5.250 rpm) e torque que varia de 9,7 kgfm com gasolina a 10,6 kgfm com álcool (a 3.850 rpm).

Ao ver o carro no pátio, porém, o impacto é positivo. "Está bonito, chama mesmo a atenção e parece espaçoso", apontou o taxista, enquanto observava o porta-malas. O efeito vem das belas linhas herdadas do hatch, com frente marcante e linha de cintura ascendente que conferem um certo ar de imponência ao modelo de 4,23 metros de comprimento. E da traseira, que mesmo abrigando um porta-malas de 480 litros, complementa harmoniosamente o conjunto e mantém a identificação familiar com o Gol através das lanternas.
 

DADOS TÉCNICOS
MOTOR:
VHT (Volkswagen High Torque) bicombustível 1.0, 72/76 cavalos; 1.0, 74/76 cavalos
DIMENSÕES:
4,23 x 1,65 x 1,46 x 2,46 (comprimento x largura x altura x entreeixos,em metros)
FICHA COMPLETA 1.0

Mas a unidade disponibilizada, na cor "cinza vulcan" (que dependendo da luz ambiente pode ser vista em tons que variam do dourado ao azulado), tem atrativos próprios: recheada de opcionais, foge da categoria "pé-de-boi". Foram listados, entre outros, volante multifuncional, airbag duplo, ar-condicionado, trava e controle dos vidros elétricos, painel com conta-giros, detalhes cromados e tela do computador de bordo (i-Drive), preparação especial para som, rádio AM/FM com CD/MP3, entrada para USB/Cartão SD e comunicação via Bluetooth, revestimento das portas em tecido, pára-sóis equipados com espelho e luz de leitura, além de bancos traseiros bipartidos e chave tipo canivete com controles de travamento das portas e do porta-malas integrados.

Completo assim, o Voyage 1.0 proporciona maior conforto e prazer ao dirigir, mas não sai por menos de R$ 44.010. O acréscimo é superior a R$ 13 mil em relação ao preço original e de R$ 4.580 se comparado à versão Comfortline 1.6, topo da gama.

Uma coisa é certa: pagando pouco mais de R$ 30 mil ou quase R$ 45 mil o comprador não vai passar despercebido no trânsito, pelo menos por enquanto. Mesmo com um mês de intensa campanha publicitária, o modelo ainda é raro nas ruas -- durante o período de avaliação, a reportagem viu outros Voyage apenas em pátios de concessionárias ou em cima de algum caminhão-cegonha, algo bem diferente do ocorrido com o Gol, por exemplo. Com isso, as reações de outros motoristas variaram do "Ah, é o Voyage" à quase histérica seqüência de olhares para todos os ângulos do carro seguida de sinais de aprovação.
 

Fotos: Eugênio Augusto Brito/UOL

Motor 1.0 de 4 cilindros e 8 válvulas do Voyage gera potencia de 72 cv (gasolina) a 76 cv (álcool)

Frontalmente, Voyage e Gol são idênticos; painel completo como este, só pagando (bem) mais
CONFIRA O PREÇO DOS PACOTES DE OPCIONAIS

O TESTE DAS RUAS
Mas se o que vale mesmo são as impressões ao se dirigir, o Voyage 1.0 mostrou suas virtudes e defeitos logo no retorno à capital paulista, primeiro pela rodovia Anchieta e depois pelo trecho urbano da zona sul de São Paulo. Rodou macio pelo asfalto, sem repassar solavancos à cabine, e surpreendeu no quesito estabilidade ao manter a trajetória sem perder a traseira mesmo nas curvas feitas em maior velocidade -- por instantes, é possível esquecer que se está em um sedã, tamanha a segurança. Os freios também se mostraram bastante precisos quando solicitados, embora os pedais sejam um tanto altos, o que acaba cansando em longos trajetos.

O problema, porém, está nos momentos em que potência é exigida -- o Voyage 1.0 sofre em retomadas de velocidade, ultrapassagens e em trechos mais íngremes. Com algum tempo, o motorista acaba se acostumando a manter o motor sempre em regime alto de rotações, o que melhora o desempenho em pista, mas aumenta o consumo de combustível, o nível de ruído que chega ao interior do veículo e, claro, o desgaste de componentes.

Um detalhe quanto ao nível de ruído interno vale ser ressaltado. O Voyage também herda do Gol o bom isolamento do habitáculo do motor e o cuidado no encaixe dos materiais. Mas, além disso, uma característica da aparelhagem de som (opcional) ajuda: o volume da música é suavizado ou reforçado automaticamente dependendo do estado do veículo -- se está parado no semáforo, por exemplo, a música é amenizada. Com isso, cresce a sensação de que se está a bordo de um carro muito silencioso, embora isso acabe quando se é obrigado a pisar mais fundo e fazer o motor roncar alto.
 

Fotos: Eugênio Augusto Brito/UOL

Traseira 'clássica' lembra a de outros sedãs, mas harmoniza com traços herdados do Gol

Bagageiro tem 480 litros, mas alças tiram espaço da carga; estepe vai sob a forração de carpete
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ICARROS: VOYAGE 1.0 CONTRA FIESTA SEDAN 1.0

Mesmo induzindo a uma forma mais "desesperada" de condução, o Voyage 1.0 mostra-se econômico. Após duas semanas e pouco mais de 1.500 quilômetros percorridos (um terço em estrada, dois terços em trecho urbano), o consumo médio alcançado foi de 9,7 km/l (dois terços com álcool, o restante com gasolina). Vale dizer que, em algumas situações, principalmente em rodovias, o indicador de consumo médio chegou a registrar 17 km/l (a leitura instantânea indicou picos de 50 km/l, que na verdade indicam consumo próximo de zero e servem para provocar sorrisos momentâneos de satisfação).

Ao fim do teste, fica a impressão de que embora se trate de um veículo de entrada o VW Voyage 1.0 poderia oferecer desempenho mais compatível com seu visual. Claro, fica difícil imaginar que tipo de pessoa esbanjaria quase R$ 45 mil na versão básica totalmente equipada. O verdadeiro comprador deste tipo de unidade vai ficar com o pacote básico e aproveitar o design moderno, o acabamento satisfatório e o bom nível de consumo de combustível.

No entanto, quem preferir o desempenho proporcionado por um conjunto mais valente, de 101 a 104 cv, deve considerar a versão 1.6 e ainda acrescentar o conjunto ar-direção-travas (e mais chave "canivete", entre outro mimos) por pouco mais de R$ 43 mil -- e aí sim fazer um bom negócio em termos de sedã pequeno.