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Nissan X-Trail fica mais bonito, mas motor 2.0 deixa a desejar

Claudio de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

14/11/2008 17h33



O segmento dos SUVs e crossovers médios está fervilhando desde o começo do ano, e há dois meses ganhou mais um competidor interessante: o modelo 2009 do Nissan X-Trail. Vendido em duas versões, a SE e a LE, por R$ 90.900 e R$ 103.990 respectivamente (e quase certamente com bons descontos na hora de fechar negócio), o carro tem como principais rivais, de acordo com a própria marca, Honda CR-V, Toyota RAV4, Kia Sportage e Hyundai Tucson, todos com tração nas quatro rodas. Enquanto o X-Trail emplacou 100 unidades em outubro, mesmo nível do RAV4, os demais vendem de 700 (Sportage) a 1.500 (Tucson) carros mensalmente, somando todas as versões.
 

O modelo 2009 do X-Trail traz uma vantagem em relação ao antecessor: um ano a mais de garantia de fábrica -- agora são três anos. Também apresenta uma identidade visual mais contemporânea: deixou as linhas totalmente retas, típicas de jipes, e ganhou alguns volumes arredondados (especialmente após a coluna B), aproximando-se dos crossovers -- uma transformação semelhante à sofrida pelo CR-V. Aliás, vistos por trás, esses dois carros se parecem bastante, devido às lanternas verticais bordejando a janela traseira. A "cara" do X-Trail também mudou, com um conjunto óptico ampliado e expressivo. A sensação de robustez foi mantida: de dentro da cabine, o motorista vê toda a extensão do capô, como num pequeno caminhão. O toque final é dado pelo rack de teto, que inclui charmosos (e úteis) faróis de milha.

Porém, a motorização do X-Trail mudou -- e mudou para pior (ou para menos). A Nissan trocou o motor 2.5 a gasolina, de 180 cavalos de potência e 25 kgfm de torque, pelo mesmo propulsor do Sentra, um 2.0 16V a gasolina que, no SUV, gera 136 cavalos e 20,2 kgfm -- ou seja, ainda menos potência que no sedã (de 142 cv). Não custa lembrar que o X-Trail pesa 1.513 kg, contra 1.345 kg do Sentra.
 

Fotos: Murilo Góes/UOL

No modelo 2009, X-Trail ganhou volumes e vincos que quebram um pouco as linhas excessivamente retas do antecessor, e que o aproximam do design de crossovers, como o rival Honda CR-V

O teto solar, de série na versão LE, é bastante amplo e tem tampa de vidro fumê; acabamento interno é de boa qualidade e austero, típico da Nissan; nível de conforto equivale ao de sedãs

Embora seja coerente com a gama de SUVs da Nissan, aparentando-se ao Pathfinder em alguns traços, o X-Trail guarda muitas semelhanças com seu maior rival, o Honda CR-V


Na unidade testada por UOL Carros ficou evidente a conveniência de um motor mais potente e "torcudo" que o 2.0, especialmente nas arrancadas e retomadas. A impressão de letargia só passa depois que o X-Trail pega embalo e começa a escalada em direção aos anunciados 172 km/h de velocidade máxima. Como uma espécie de compensação por sua relativa fraqueza, esse motor permitiu a incorporação da transmissão Xtronic, do tipo CVT (continuamente variável), ao trem de força do SUV. Houve um inegável ganho na suavidade da condução, acentuada pela assistência elétrica da direção. Mas quem gosta de ter o carro "na mão" vai se irritar ao ficar totalmente à mercê do câmbio.

Tais características fazem parte de um gradual redirecionamento do X-Trail para o uso urbano e, de modo subjacente, pelas mulheres. Outro sintoma dessa nova ordem é a suspensão, ajustada para garantir o conforto no asfalto, mas sem perder o curso necessário para situações off-road. Com isso, o X-Trail pode passar tranqüilamente a 80 km/h em valetas, lombadas e irregularidades que, com sedãs e demais carros de passeio, UOL Carros não enfrentaria a mais de 40 km/h.
 

Murilo Góes/UOL
Motor do X-Trail é o mesmo 2.0 do Sentra, mas ainda mais fraco
FICHA TÉCNICA E EQUIPAMENTOS

No interior, o X-Trail entrega bastante conforto (inclusive quanto ao nível de ruídos, que é baixo) e acabamento austero e correto, uma mistura típica da Nissan -- ressalvando que foi testada a versão LE, mais completa e com revestimento em couro. Mimos interessantes, como os dois porta-copos refrigerados nas extremidades do painel, o ajuste 100% elétrico do banco do motorista e o sistema de aquecimento deste e do banco do passageiro, convivem com lacunas inexplicáveis, como a falta de iluminação em algumas teclas na porta esquerda e o precário acionamento do computador de bordo (direto num botão no meio do painel de instrumentos, como se fosse um hodômetro de carro popular).

O X-Trail oferece praticidade para o uso familiar, com porta-luvas grande (15,7 litros), banco traseiro tripartido e até uma gaveta sob o assoalho do porta-malas. Como diversão, a versão LE tem um enorme teto solar elétrico. E vêm de série itens de segurança como airbags frontais (além de laterais e de cortina na versão LE) e freios com ABS (antitravamento) e EBD (distribuição eletrônica da frenagem).

Mas esse carro não é amigo do seu bolso. A Nissan fala em consumo médio de 8,6 km/l na cidade e 12,9 km/l na estrada. Mas o valor obtido por UOL Carros, em trajeto misto, foi de 6,7 km/l.

SISTEMA 4x4 E A LAMA
O motorista do X-Trail pode selecionar entre tração 4x2 e 4x4 (esta só engata com o carro parado), ou então girar o botão do console central para a posição Auto, que acionará a tração integral à medida que ela for necessária. UOL Carros enfrentou alguns trechos de lama com o X-Trail, que se portou bem no geral -- mas não deixou de derrapar em pontos com aderência muito baixa.

Em terrenos medianamente acidentados, a suspensão trabalha com afinco, e os ângulos de ataque e saída (28,7º e 23,6º, respectivamente), bem como os quase 20 cm livres do solo, garantem alguma diversão. Mas é evidente que o X-Trail não foi feito para trilhas complicadas. A ausência de reduzida é significativa.

Mas, para quem se deixar seduzir pela aparência do X-Trail, nada disso será problema. Fique contente com a possibilidade luxuosa de acionar a tração 4x4 automática num dia de chuva, e divirta-se. Na cidade, claro.