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Novo Fit 1.4 manual trata bem o dono, mas não o bolso dele

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

14/01/2009 12h14

O Honda Fit, em sua segunda geração batizada pela marca de New Fit e lançada por aqui em outubro, é um dos modelos mais badalados do atual cenário da indústria automotiva nacional. Em votação encerrada no dia 30 de dezembro, foi eleito pelos internautas o carro mais importante de 2008, com 5.528 votos, ou 11,24% dos 49.181 votos recebidos por UOL Carros. Antes, também foi o escolhido na categoria minivan do troféu "O Melhor de Auto Press" (saiba mais aqui). Por fim, encerrou o ano que passou na 16ª posição do ranking de vendas elaborado pela Fenabrave, com credenciais para não apenas liderar o nicho dos monovolumes, mas também para brigar com compactos premium, hatches e peruas (station wagons) médios.
 

Fotos: Eugênio Augusto Brito/UOL

Queridinho do público por tratar bem seus ocupantes, Fit se moderniza para maltratar rivais

Enquanto Chevrolet Meriva teve 24.363 unidades e Fiat Idea outras 27.011 unidades comercializadas, o Honda Fit acumulou 40.512 vendas ao longo do último ano. Seja pelo espaço interno e pela durabilidade -- motivos de elogios para a primeira geração -- ou pelo novo visual, maior potência, tamanho ampliado e melhor lista de itens de série da atual, a verdade é que o modelo japonês deixou para trás seus rivais diretos.
 

  • Veja a análise do relatório da Fenabrave para dezembro de 2008

    ÂNGULOS DA EVOLUÇÃO
    Eugênio Augusto Brito/UOL
    VEJA TODAS AS IMAGENS DO FIT
    DIFERENÇAS
    De fato, o contato inicial com um exemplar do novo Fit causa bastante impacto e os detalhes, com o perdão do uso de lugar-comum, fazem a diferença. De cara, chama a atenção o porte maior: são 3,9 metros de comprimento, com generosos 2,50 m de entre-eixos, quase 1,70 m de largura e 1,53 m de altura. Em relação ao antigo, o modelo atual ganhou 7 centímetros no comprimento, 1 cm na largura e mais 1 cm na altura, com a medida que determina o espaço interno 5 cm maior.

    O visual, muito mais agressivo, é ainda um grande diferencial em relação à geração anterior e aos rivais -- a frente evoca um V maiúsculo, com duplo vinco pronunciado sobre o capô, faróis angulosos e grade frontal, do tipo colméia, em delta. A sensação de modernidade do projeto vem ainda da ampla área do para-brisa e de sua extrema inclinação, praticamente continuando as linhas da frente, que segue curta como no Fit original, mas que por ser mais pontuda passa a impressão de ter suas dimensões muito mais reduzidas.

    Ainda assim, o novo Fit manteve a identidade ao mesmo tempo que ficou inegavelmente mais bonito. Esta impressão foi atestada ao ouvirmos dois profissionais acostumados a lidar com todo tipo de veículo e que não têm a avaliação comprometida pelos sentimentos comuns aos donos. Para uma atendente de lava-carros, o monovolume japonês não perdeu de todo o "visual de sapo" original, mas com menos detalhes salientes ganhou ar "mais robusto, esportivo", conforme afirmou o manobrista de uma rede de estacionamentos.

    Fotos: Eugênio Augusto Brito/UOL

    No encontro de gerações, o "visual de sapo" dá lugar a uma certa esportividade

    VIDA A BORDO
    Impressiona também o toque de classe, por assim dizer, dado à nova geração: mesmo as versões de acabamento mais simples, LX e LXL, contam com para-choques e retrovisores pintados na cor do veículo e com o trio ar-condicionado/direção com assistência elétrica/vidros elétricos. O nível de acabamento é muito bom, com texturas e encaixes de plásticos e tecidos (com suas bolinhas) que agradam ao toque. Os pés do motorista também têm privilégios, com a boa disposição e tamanho dos pedais e a presença de uma área para descanso para o pé esquerdo, típica de veículos automáticos e que ganha importância em trajetos mais longos.

    Uma ressalva deve ser feita para a baixa densidade dos assentos, moles demais na unidade testada, não dando total apoio durante a permanência no veículo, principalmente em curvas mais abruptas -- esta, porém, é uma percepção que pode variar de pessoa para pessoa.

    Já o acesso aos controles merece elogios. Os mostradores do painel, de fácil visualização e divididos em três elementos circulares (conta-giros, velocímetro e indicador do nível de combustível), seguem o padrão do Fit original, mas com um toque final de Civic, assim como ocorre com o volante de três raios, com ajustes de altura e profundidade. Este conjunto dá ao interior um ar mais jovial e, por isso, com sede de esportividade.

    O comando elétrico dos espelhos externos, bem localizado, facilita a vida do condutor. Os botões de controle da ventilação e do ar-condicionado também são rapidamente localizáveis, graças à originalidade de posicionamento, com arranjo vertical (normalmente são dispostos na horizontal), e de desenho (a verdade é que por serem esquisitos, se destacam).

    Fotos: Eugênio Augusto Brito/UOL

    No interior, detalhes proporcionam um conjunto que, com pequenas exceções, é bem resolvido

    O modelo conta ainda com mimos como espelho de cortesia no para-sol de ambos os lados e acionador interno da portinhola do tanque de gasolina para a partida a frio.

    O número de porta-objetos é generoso, o que deve satisfazer ao público masculino e agradar ao feminino: existem porta-copos/garrafas nas laterais do painel do veículos, logo abaixo das saídas de ar, que atendem a motorista e passageiro dianteiro, no console central e também nas duas portas traseiras; há dois porta-luvas, um superior e um inferior (embora nenhum, isoladamente, seja muito amplo); o console central conta ainda com bandeja porta-objetos e um acessório para itens menores e moedas e há um compartimento sob o lado esquerdo do banco traseiro, com trava.

    Por falar em banco traseiro, eles transportam com conforto até dois adultos e uma criança ou adolescente de tamanho não muito avantajado. Três adultos passariam sufoco com certeza, mesmo com a presença de encosto de cabeça e cintos de três pontos para as três posições do assento, que conta ainda com ajuste de profundidade e pode ser dobrado para cima ou rebatido (ou seja, movimentado na direção do assoalho) na proporção 60/40, aumentando assim a capacidade de carga do porta-malas.

    Falando em capacidade de carga, originalmente esta é de 384 litros (Meriva tem 390 l e Idea, 380 l, com o banco traseiro na posição original), mas cresce consideravelmente com os bancos rebatidos: embora a Honda não divulgue oficialmente o número, fala-se em algo perto dos 1.320 litros.

    O rádio é simples e conta com sintonizador FM, entrada para CD compatível com MP3/WMA e plugue para cabo auxiliar (AUX-IN), que permite a conexão (mas não o controle) de aparelhos portáteis (MP3 player, iPods e congêneres). Não é vistoso e moderno como o modelo digital (de série nas versões EX e EXL) e deixa um feioso "buraco" convertido em porta-objetos extra no console, mas dá conta do recado.

    VERSÕES E PREÇOS
    (dezembro/08)
    LX MTR$ 49.580
    LX ATR$ 53.265
    LXL MTR$ 53.300
    LXL ATR$ 56.985
    EX MTR$ 56.885
    EX ATR$ 60.550
    EXL MTR$ 60.490
    EXL ATR$ 66.070
    O PREÇO JOGA CONTRA
    Com estas características, a versão LXL avaliada pode ser encontrada nas lojas por preços a partir de R$ 53.300, de acordo com a tabela mais recente da Honda, que leva em conta a redução do IPI (veja tabela). E este é o calcanhar-de-Aquiles do novo Fit, uma vez que o preço está bem maior que o da geração anterior e muito acima dos principais rivais: o Chevrolet Meriva 1.4 pode ser encontrado a partir de estimados R$ 41.153, enquanto o Fiat Idea ELX 1.4 tem preço inicial de R$ 40.552 anunciado no site da fabricante, todos com motor flex.

    A diferença de preços a serem pagos podem ser justificadas (embora não totalmente explicadas) pela maior disponibilidade de itens de série, pelo projeto atualizado e obviamente mais moderno e, também, pelo prazer ao dirigir.

    DESEMPENHO
    Com o sistema i-VTEC de controle das válvulas de admissão, o motor 1.4 16V tem sua disposição modificada para garantir economia. Funciona assim: em baixa rotação, apenas três válvulas operam em cada cilindro, mas todas entram em ação quando o acelerador é solicitado com maior empenho.

    Fotos: Eugênio Augusto Brito/UOL

    Coração do Fit consegue aliar potência e silêncio, mas ainda precisa lidar melhor com consumo

    Na prática, percebe-se uma maior morosidade em largadas (na abertura de um semáforo, por exemplo, e retomadas (quando o objetivo é ultrapassar o veículo da frente, por exemplo). Com o passar do tempo e a subida dos giros (o torque entra por volta dos 4.000 rpm e chega ao máximo em 4.800), porém, o carro ganha fôlego e se mostra "ligado" e ágil nas manobras, sensação auxiliada pelo engates curtos e precisão do câmbio de cinco velocidades. E também da potência, 100/101 cavalos (gasolina/álcool), acima da registrada pelo motor Flexpower 1.4 do Meriva (99/105 cv) e também muito superior aos 80/81 cv do Idea.

    É assim, com este comportamento, que o Fit alcançou uma média urbana apenas razoável durante a avaliação: chegou aos 8,4 km/l, abastecido apenas com álcool.

    De toda forma, vale dizer que o Fit é extremamente silencioso. Do motor, ouve-se apenas um sopro quando em movimento e sempre fica a impressão de que o carro morreu quando o veículo está parado, tamanha a falta de ruído. Os demais barulhos chegam como um leve uivo ao interior da cabine.

    O conjunto de suspensão, McPherson/barra de torção (dianteira/traseira), garante suavidade e conforto interno ao rodar ao mesmo tempo em que garante estabilidade mesmo em situações que pareceriam temerárias a outros monovolumes, passando segurança ao motorista.

    São detalhes que, mesmo quando pareados com o alto preço pago, acabam pesando favoravelmente e devem desequilibrar a balança em direção ao modelo da Honda.