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Mais barato, Captiva 2.4 fica 'jovem', bebe e anda menos

Claudio de Souza

Do UOL, em Indaiatuba (SP)

04/02/2009 19h40

A General Motors apresentou nesta quarta-feira (4) o Chevrolet Captiva Sport Ecotec, versão do crossover equipada com um propulsor menor, um 2.4 de quatro cilindros, 16 válvulas, potência de 171 cavalos e torque de 22 kgfm. Seu preço de lista é de R$ 86.990; o Captiva 3.6 V6 com tração dianteira sai por R$ 96.990, e o AWD, top da gama, custa R$ 103.990. Os R$ 10 mil a menos pedidos pelo Ecotec em relação ao V6 mais barato justificam-se, como veremos adiante, pela diferença de motor e a depenação de alguns equipamentos.

Fotos: Divulgação

Com preço menor, Captiva 2.4 deve responder por 50% do total de vendas do modelo

No ano passado foram emplacadas cerca de 4.700 unidades do Captiva, transformando-o no utilitário esportivo médio mais vendido do Brasil (ele é feito no México e chega sem imposto de importação). Um sucesso que se deve às qualidades do carro (estilo e versatilidade de crossover), ao preço competitivo no segmento, à confiabilidade da marca (leia-se, vasta rede de concessionárias) e, claro, à crescente paixão nacional pelos SUVs -- nutrida por quem pode comprar um, bem entendido. Para a GM, o Ecotec deterá 50% das vendas do modelo, e as versões V6 a outra metade do total de 1.200 a 1.500 unidades/mês, semelhante ao atual.

Ou seja, a estratégia é "bombar o modelo, e não a versão. Batendo de frente com o Ecotec estão Toyota RAV4 e Honda CR-V, que custam, respectivamente, R$ 115.000 e R$ 84.410.

Recapitulando: o ponto fraco do Captiva V6 é o seu consumo de gasolina, único combustível que ele aceita. O apetite do motorzão, partilhado com o Omega australiano, é voraz. Na versão AWD obtivemos 4 km/l de média. Não interessa se os veículos similares bebem muito também: a crítica vale para todos. De resto, mesmo quem tem a vida financeira em ordem não deve achar muita graça em visitar o posto de combustível a cada três dias.

(Como contraponto, a GM afirma que o índice de satisfação dos compradores do Captiva bate em impressionantes 97%.)
 

MOTOR MENOR, SEDE MENOR

  • Divulgação

    Mais compacto em relação ao motor V6, mas também mais avançado, o Ecotec é feito em alumínio, com coletor de admissão plástico.

    Em ação, rende 171 cv de potência e 22 kgfm de torque a 5.100 rpm.

    No teste, rodou 7 km a cada litro consumido de gasolina (em média), contra 4 km/l do V6.

O Captiva Ecotec procura sanar o excesso de consumo com um motor "global" feito nos Estados Unidos e usado em vários modelos do grupo GM, entre eles, o Chevrolet Malibu e o Pontiac Solstice. O propulsor é feito em alumínio (o coletor de admissão é de plástico), tem diversas soluções estruturais para ocupar menos espaço e limitar seu peso, possui duplo comando de válvulas variável e sistema de recirculação de gases. É um motor compacto -- e, de fato, sobra espaço sob o capô --, mas não é um motor barato, até porque é mais sofisticado tecnologicamente que o V6.

A nova versão do crossover tem alguns equipamentos a menos que as anteriores. O câmbio automático com trocas sequenciais (feitas num botão na lateral da alavanca) tem quatro marchas, contra seis. Desaparecem do carro a regulagem elétrica do banco do motorista, o ar-condicionado eletrônico, o acionamento remoto do motor, a cromação das rodas e as redes porta-objetos no porta-malas. O acabamento interno em couro, o aquecimento dos bancos dianteiros e a tração integral permanecem exclusivos do V6 AWD.

AINDA TEM BASTANTE
Mas o recheio do Captiva Ecotec ainda é digno de nota. Para começar, o computador de bordo chegou para ficar, e tem tentas funções (entre elas, monitoramento do pressão dos pneus e bússola) que até funcionários da GM mostraram dúvidas quanto à operação. Também são de série alarme, trio elétrico, ar-condicionado manual, direção eletroassistida, sistema Isofix para cadeiras infantis, portas com acionamento remoto, rack de teto, faróis de neblina e rodas de liga de 17 polegadas, entre outros. Quanto à segurança, os benvindos equipamentos são os mesmos das versões V6: seis airbags, freios com ABS (antitravamento), controle eletrônico de estabilidade e sistema de controle de tração. A velocidade máxima é limitada a 180 km/h.

Na cabine há bom espaço para cinco pessoas (o entre-eixos é de 2,7 metros), mas -- como é usual -- quatro ocupantes serão mais felizes a bordo. O acabamento é sóbrio e de bom gosto, no nível de modelos norte-americanos e europeus. Os bancos em tecido (corretos) poderiam ser um pouco mais firmes e envolventes. Mas ninguém vai "fazer curva" com um carro desses, certo?

BEM RECHEADO

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    Acabamento interno é muito bom e perde pouco em relação às versões mais caras: computador de bordo, câmbio automático sequencial, direção eletroassistida, seis airbags, ABS, controles de estabilidade e tração são de série.

O design continua sendo um ponto alto do Captiva e o colocando uns dez anos à frente do catálogo da Chevrolet no Brasil. Os para-choques perderam a pintura na cor do veículo, operação que a marca prefere descrever de outro jeito: o Captiva Ecotec tem para-choques "na cor atracite". A saída do escapamento é única, e merecia uma ponteira mais esportiva e agressiva. As laterais ganharam molduras também em antracite. As rodas de liga convencionais são bonitas, mas não esbanjam charme como as cromadas.

No geral, o Captiva Ecotec tem um aspecto mais "jovem" em relação aos irmãos mais fortes. É como se fosse uma versão Adventure (se a Fiat nos permite a comparação) do crossover. Mas não se engane: sem a tração integral (que já não garantia desempenho superior no off-road), o Captiva Ecotec é um carro totalmente urbano.

RODANDO COM O ECOTEC
O Captiva Ecotec foi avaliado em algumas voltas na pista de testes do Campo de Provas da Cruz Alta, localizado em Indaiatuba, interior de São Paulo. O trajeto possui retas, curvas variadas, reta infinita (pista circular), trechos com imperfeições no asfalto -- ondulações, dobras, valetas -- e de paralelepípedos e cimento.

A primeira constatação é óbvia: o desempenho do crossover com motor 2.4 caiu muito em relação ao V6, que entrega 261 cavalos e torque de 32,95 kgfm. A aceleração é claramente mais lenta, e as retomadas tendem a ser feitas em segunda marcha -- em vez de terceira. É uma questão quase matemática, determinada pelo número de velocidades da transmissão. Seis marchas no Captiva Ecotec podem ser um exagero, mas quatro certamente pedem mais uma, para otimizar o escalonamento e atuar em overdrive na quinta. O carro ficaria mais esperto e mais econômico.

Fotos: Divulgação

Desempenho do Captiva Ecotec caiu em relação à versão com motor V6, mas consumo melhorou

A direção eletroassistida é leve e precisa, e o trabalho da suspensão é exemplar naquilo que mais se espera de um SUV de uso urbano: as irregularidades na pista, que simulam o desastre asfáltico das nossas cidades, são absorvidas de modo a garantir o conforto dos ocupantes em trechos que seriam um martírio num carro menor, mais baixo e mais duro. E, como se disse acima, não espere (nem tente) fazer curvas "emocionantes" com o Captiva. Quando foi o caso, ele escorregou a traseira fortemente -- e imediatamente o controle de tração agiu nas rodas para corrigir sua trajetória. O ideal é não precisar dele.

Agora, a questão crucial do consumo de gasolina. De acordo com os dados do computador de bordo do Captiva Ecotec, ao longo de todo o teste ele fez, em média, 7 km/l. São 3 km/l a mais que o V6 AWD. É uma economia de 43%. A melhor marca, de 7,14 km/l, foi obtida com o carro a 70 km/h. A pior, de 5 km/l, surgiu a 130 km/h. Ao mantermos o Captiva Ecotec rodando no seu limite, de 180 km/h, o consumo cravou 5,88 km/l (menor que a 130 km/h porque o carro já estava embalado).

São marcas ainda muito elevadas, e bastante inferiores às que a GM anuncia (10 km/l na cidade, 14,9 km/l na estrada). Mas são melhores que as do carro V6 (leia aqui uma conta sobre a economia), e afeitas ao bolso de consumidores mais jovens que os pais de família clientes do crossover com motorzão. Nisso a mecânica do Captiva Ecotec acompanhou o visual. No desempenho, nem tanto.

E no bolso, devido à não-redução do IPI (que só diminuiu para motores até 2 litros), essa versão perde a chance de ampliar o sucesso do modelo a níveis inéditos. Pode apostar: na faixa de R$ 75 mil o Ecotec colocaria o Captiva entre os 20 carros mais vendidos do Brasil. Hoje, disputa o 35º lugar.