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Ford Focus Ghia tem tudo para agradar, mas câmbio manual atrapalha

Claudio de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

05/02/2009 18h42


O Ford Focus hatch ocupa o terceiro lugar entre os médios (Foto: Murilo Góes/UOL)

Atualizada às 15h15 de 6/2

O novo Ford Focus é um dos poucos carros vendidos no Brasil que está em sintonia com seu correspondente no mercado de origem -- no caso, a Europa. Poucos meses após a apresentação da atual geração do modelo no Velho Continente, a marca do oval azul já o trouxe para o Mercosul. O lançamento foi na Argentina, país em que o Focus vendido aqui é fabricado, em setembro de 2008.

Por ora, a geração anterior do médio está mantida, porque possui motorização flexível sob o capô. Ao Focus novo, os propulsores 1.6 e 2.0 bicombustíveis só devem chegar no decorrer desse ano. Com a crise financeira ainda ardendo, não se pode cravar uma data para isso. Quando acontecer, a gama será unificada sob o design atual. Até lá, a única opção para o consumidor que deseja comprar o Focus renovado é o conhecido propulsor Duratec 2.0 a gasolina, capaz de gerar 145 cavalos de potência.

As maiores atrações do Focus reformulado são seu design e a modernidade do projeto. No caso do hatch, a mudança exterior foi tão intensa que o antecessor já parece um tanto desarmonioso. Entre os novos traços, os mais marcantes estão, à frente, no conjunto óptico de desenho fluido, na grade maior e mais pronunciada e nos dois ressaltos no capô (antes eram apenas vincos); atrás, na forte inclinação da tampa do porta-malas.

Quanto à plataforma do novo Focus, ela é global e suficientemente versátil para embasar modelos tão diferentes quanto o hatch Volvo C30 e o crossover Ford Kuga.

PRESSA DE SUBIR
Hoje, o aparente açodamento da Ford em trazer o Focus renovado antes de oferecer um motor flex pode ser explicado, ao menos parcialmente, pelo bom momento que a indústria automotiva viveu no Brasil até outubro de 2008. Praticamente tudo que era oferecido, era vendido -- e nos planos da Ford não seria diferente com o Focus a gasolina.

A crise bateu forte desde então, mas mesmo assim as vendas do hatch têm sido expressivas. Ele é o terceiro colocado no segmento dos dois-volumes médios, considerando os dados da Fenabrave (federação dos distribuidores) relativos a janeiro. Perde apenas para Chevrolet Astra e Fiat Punto. No entanto, esses dados não discriminam quantas unidades são do Focus "velho" e quantas são do novo. Já o sedã continua sendo um mau vendedor, ficando em nono lugar entre os três-volumes médios. E isso porque a Ford alardeou, a sério, que queria enfrentar Honda Civic e Toyota Corolla...

FOCUS EM FOCO: PECULIARIDADES DO HATCH

DESIGN
A traseira fortemente inclinada é sublinhada pelas lanternas dispostas verticalmente, além do defletor no final do teto (na versão Ghia)

PRÁTICO
O botão Power, logo abaixo da alavanca do câmbio, aciona a eletricidade (um toque leve) e o motor (toque prolongado)

NÃO-PRÁTICO
O capô do motor abre com chave: é preciso deslocar o logotipo da Ford e desmontar a chave canivete para chegar até o propulsor

O QUE ESSE CARRO TEM
UOL Carros rodou por uma semana com um Focus hatch na configuração top de linha, a Ghia, com câmbio manual de cinco marchas. O preço de lista de fábrica para ela é de R$ 65.130, já com IPI reduzido. Caso se deseje a transmissão automática de quatro velocidades e trocas sequenciais, o preço sobe R$ 4.255. Ela é o único opcional da versão Ghia.

De série, o Focus Ghia inclui, entre outros itens: ar-condicionado digital dualzone, direção eletro-hidráulica, trio (vidros, travas e retrovisores) elétrico, computador de bordo, cruise control (piloto automático), rodas de liga-leve de 16 polegadas, sistema de som Sony com conectividade por USB e comando de voz, freios com ABS (antitravamento), EBD (distribuição eletrônica da frenagem) e CBC (antiescorregamento das rodas traseiras), airbags frontais, defletor traseiro e teto solar elétrico.

O carro possui ainda luzes de cortesia para o assoalho dianteiro e, no lado externo, sob os retrovisores (que têm repetidores de seta). A partida é dada apertando um botão no console, numa espécie de "assinatura" da modernidade do Focus.

O acabamento interno é sóbrio e adequado, em preto e tons de cinza. Destaque para os confortáveis bancos de couro (o material recobre também o volante), que garantem ótima posição de dirigir (o ajuste de altura é elétrico e os demais são feitos na mão); para o bom ar-condicionado, que resfria a cabine rapidamente; e também para o som Sony, que possui entrada USB dentro do apoio de braço dianteiro (cuja tampa não fecha: desaba). No geral, quatro pessoas viajam muito bem dentro do Focus hatch, sendo que os passageiros traseiros também desfrutam de apoio de braço, com porta-copos.

Há algumas ressalvas a fazer. É realmente muito chique dar a partida no carro apenas apertando o botão Power, que fica no console central. Só que, ao menos em tese, há o risco de o carro ser desligado por um toque acidental quando parado num farol ou num congestionamento.

De resto, o novo Focus passou longe de aposentar a chave. Ela é necessária para abrir as portas (remotamente), tem de estar dentro do veículo para ser detectada pelo sensor do sistema de ignição, e só ela abre o capô do motor, que tem uma fechadura escondida sob o oval azul da Ford (veja foto nesta página). Caso um ladrão leve seu carro embora e a chave fique no seu bolso, o Focus continuará funcionando normalmente. Se for desligado, não será possível dar a partida outra vez.

Resumindo: o motorista ainda vai ter de carregar peso e volume no bolso. A chave-cartão do Renault Mégane, que é introduzida num slot no painel e cabe na carteira, talvez seja uma solução mais prática.

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
Durante a rodagem, fica claro que o grande destaque dinâmico do Focus hatch ainda é a suspensão independente nas quatro rodas. Ela garante uma leitura do solo muito favorável aos ocupantes, evitando solavancos e mantendo o carro grudado no chão mesmo nas ondulações mais fortes. Também devido a esse sistema, e com a ajuda dos pneus relativamente largos e baixos (205/55, em rodas de 16 polegadas), o Focus é bastante estável. Os pneus vão cantar nas curvas mais abusadas, mas dificilmente a trajetória não será a esperada pelo motorista.
 

DADOS TÉCNICOS

A GASOLINA, POR ORA
Motor Duratec de 2 litros, capaz de gerar 145 cavalos, usa só o combustível fóssil; versões flex 1.6 e 2.0 do novo Focus devem vir este ano
FICHA COMPLETA DA GAMA DO NOVO FOCUS

O motor 2.0 de 145 cavalos é suficiente para boas arrancadas e retomadas, e mantém velocidades de cruzeiro satisfatórias em viagens longas -- por exemplo, 120 km/h -- sem fazer grande esforço. O consumo foi medíocre: rodando quase todo o tempo na cidade, o Focus bebeu um litro de gasolina a cada 7,1 km. Pelo computador de bordo, é possível escolher entre três ajustes para a direção (o carro tem de estar parado para fazê-lo). Não se nota grande diferença entre as opções normal e conforto. Ambas deixam o volante mais leve e "bobo". Já o modo esportivo (ou "desportivo", no português de Portugal usado na telinha) o endurece e o torna mais direto e nervoso.

Pelo menos na unidade testada (que, por sinal, era zeradíssima), o câmbio manual não agradou. O pedal da embreagem mostrou-se alto e duro, e os giros do motor relutavam a cair nas trocas ascendentes de marcha. É possível sentir isso claramente no pé esquerdo. As soluções possíveis: trocar as marchas de modo mais estudado, o que exige atenção e tira um pouco do prazer de dirigir, ou explorar todo o curso da embreagem. Isso cansa o motorista, especialmente no trânsito urbano. Além disso, o engate da terceira (principalmente) e quinta marchas não é nada amigável.

Na verdade, há outra solução para esse desconforto: se você planeja comprar um Focus Ghia hatch é porque tem bala na agulha, certo? Então, vá até o fim nessa proposta: prefira o carro com transmissão automática. A nosso ver, somente com essa configuração, acrescida do futuro motor 2.0 flexível, o novo Focus efetivamente atingirá o patamar de qualidade superior entre os dois-volumes das quatro grandes montadoras. Lugar que muita gente acredita que já é dele, por definição.