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Mercedes CLC 200 K chega 'pelado' e com bom desempenho

Claudio de Souza

Do UOL, em Rio de Janeiro (RJ) e Juiz de Fora (MG)

11/03/2009 17h34

Atualizada às 13h14 de 12/3

A Mercedes-Benz finalmente começou a vender no mercado brasileiro, como produto nacional, o cupê CLC, lançado no exterior em 2008. O carro é montado em Juiz de Fora (MG), com cerca de 15% de peças e 70% de partes em aço feitas no Brasil -- os demais materiais vêm de fora e são nacionalizados. Apesar disso, o preço do CLC é de importado: R$ 124.900. O valor o situa na porta de entrada da Classe C, na qual brilha mais forte a estrela do sedã C 200 Kompressor (R$ 145.000).

No entanto, o carro mais barato da Mercedes no Brasil continua sendo o monovolume B 170 (R$ 95.900). Para comparar: o CLC 200 K é vendido a 30.017 euros na Alemanha, 31.300 euros na França e 31.752 euros na Itália (ou seja, custa entre R$ 90.000 e R$ 95.000).

Fotos: divulgação

O cupê CLC passa a abrir a Classe C da Mercedes-Benz, buscando um consumidor mais jovem

 

ÁLBUM DE FOTOS
Divulgação
MAIS IMAGENS DO CLCO CLC faz parte da estratégia da Mercedes de ganhar participação de mercado fora do segmento dos sedãs, no qual é referência entre as marcas premium (detém 48% das vendas, contra 52% de Audi e BMW somadas). Seus executivos fazem a seguinte conta: excluindo os três-volumes, existe um mercado anual para 180 mil carros com preços entre R$ 80 mil e R$ 150 mil, de diversas carrocerias -- dois-volumes, cupê, monovolume, minivan, crossover, SUV, conversível etc. Atualmente, a Mercedes abocanha mísero 0,5% desse total (menos de 1.000 unidades/ano).


Com sua proposta mais despojada e esportiva (é quase um 2+2, ou seja, leva duas pessoas na frente e mais duas, no aperto, atrás), cumpre ao CLC atrair às revendas da Mercedes compradores mais jovens, que nos portfólios das marcas premium só tinham como opções o Audi A3 e o BMW Série 1 (preços iniciais de R$ 129.500 e R$ 132.000, respectivamente). O novo modelo da Mercedes substitui o bem-sucedido Classe C Sports Coupé, fabricado até 2005.

Da fábrica mineira saem 94 unidades do CLC diariamente, com cinco opções de motorização e uma paleta de cores que inclui vermelho vivo, branco, azul, vinho etc. Mais de 30 países recebem esses carros. Pelo menos por ora, o Brasil terá apenas o CLC 200 Kompressor, dotado de motor 1.8 a gasolina capaz de entregar 184 cavalos de potência e 25,5 kgfm de torque já a partir de 2.500 rpm. Em tese, a carroceria poderá vir na cor desejada pelo cliente, mas quem tiver pressa de levar o cupê para casa provavelmente ficará com uma unidade em preto ou prata.

POR FORA E POR DENTRO
Externamente, o CLC herdou alguns traços do cupê anterior, mas readaptados para o novo modelo. Por exemplo: uma peça plástica tapa o espaço deixado acima das lanternas traseiras, que ficaram mais baixas e largas que as do Sports Coupé. Uma faixa com 24 LEDs, que serve como break-light, também faz referência a uma peça do antecessor. Com tudo isso, mais uma barra cromada acima da placa, a traseira do CLC ficou um tanto sobrecarregada. Parece até um carro sul-coreano, uma espécie de Mercedes-Yong. Ou de Ssang-Benz...
 


A traseira do CLC é marcada pelas enormes lanternas, break-light e barra transversal cromada


A dianteira segue o padrão da Classe C, e nela se destaca a estrela de três pontas alojada bem ao centro da grade frontal. É um conjunto de inegáveis beleza e bom gosto, harmonizado com a traseira meio "over" por meio da lateral ascendente, que emoldura marcantes rodas de 17 polegadas, calçadas com pneus de perfil baixo (225/45 à frente e 245/40 atrás). Após alguns minutos de exame, o visual acaba agradando.
 

DETALHES E FICHA TÉCNICA
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O painel traz os instrumentos básicos e computador de bordo; volante comanda interatividade do sistema de som e bluetooth
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Rodas de 17 polegadas conferem personalidade esportiva ao CLC
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Motor de 1,8 litro oferece 184 cavalos, com torque de 25,5 kgfm
DADOS TÉCNICOS OFICIAIS

Por dentro, o CLC "veste" bem duas pessoas, ressalvadas as peculiaridades de um cupê de duas portas. Ele é baixo, o que faz com que o passageiro tenha de escolher entre viajar com as pernas totalmente esticadas ou dobradas com os joelhos na altura do umbigo. O espaço no banco traseiro até é suficiente para dois adultos médios, desde que não sejam claustrofóbicos (a janela alta e pequena não ajuda). O acesso, facilitado pelo deslocamento em dois estágios dos bancos dianteiros, é funcional. Mas o CLC é mesmo para solitários, ou casais sem filhos.

O acabamento interno é muito bom, mas usa materais e sistemas mais simples que outros carros da gama alemã. É difícil associar à marca Mercedes-Benz um carro cuja regulagem do banco do motorista é totalmente manual. Além disso, não há luz de cortesia nos para-sóis, o botão da temperatura do ar-condicionado (analógico) tem marcação com intervalo de quatro graus, e há nada menos que 11 espaços ociosos para botões no painel frontal.

Entre os equipamentos que fazem muita falta estão o sensor de estacionamento e as borboletas atrás do volante, que proporcionariam trocas sequenciais mais ágeis. Sem elas, a mudança manual no câmbio automático de cinco velocidades só pode ser feita na alavanca, deslocando-a para os lados.

GRUDADO NO CHÃO
Mas basta colocar o CLC na pista para relativizar esses pecadilhos. O cupê cumpre a contento sua função de oferecer performance com segurança e conforto. Na hora de acelerar e retomar, o propulsor reage com eficiência, e as cinco marchas da transmissão são suficientes para evitar trancos nas passagens e garantir força a todo tempo.

Como convém a um esportivo, a direção do CLC é bastante direta, quase dura. Ela faz um competente conjunto com a suspensão (independente nas quatro rodas, com três braços na dianteira) dotada do sistema Direct Control, que altera firmeza e curso mecanicamente, adaptando-se às solicitações da pista e do modo de dirigir do motorista. Como nessa receita também entram pneus largos e baixos, o CLC fica grudado no chão mesmo nas curvas mais acentuadas.

Segundo dados de fábrica, a aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 8,6 segundos, e a velocidade máxima chega a 231 km/h; como o test-drive foi realizado em estradas e ruas comuns, não foi possível comprovar essas marcas na prática. Já o consumo de 12,5 km/l (média urbana/rodoviária), anunciado pela Mercedes, é muito mais otimista que os realistas 7 km/l obtidos por UOL Carros num trajeto misto em que a velocidade média desenvolvida foi de 68 km/h.

EQUAÇÕES
O Mercedes-Benz CLC é um carro interessante, mas pede um pouco de matemática por parte do consumidor. Some sua performance nervosa (e até emocionante) com a imagem da marca e o ganho pessoal que ela pode trazer; subtraia os equipamentos faltantes relacionados acima, com o peso que eles tiverem para o seu gosto; e divida seu entusiasmo pelo fato de que, dentro da lei e do bom senso, dificilmente será possível acelerar esse cupê do jeito que ele merece. Cabe ao consumidor decidir se o resultado equivale a R$ 124.900.

O jornalista viajou a convite da Mercedes-Benz do Brasil