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Pajero Sport Flex estreia motor V6 que bebe álcool e mira motorista urbano

Claudio de Souza

Do UOL, em Itatiba (SP)

24/06/2009 12h00

A Mitsubishi apresentou nesta terça-feira (23) o Pajero Sport com motor flexível. Trata-se do primeiro propulsor V6 (seis cilindros dispostos em V) capaz de rodar com gasolina e álcool a equipar um carro nacional. Seu bloco vem semipronto do Japão, e recebe no Brasil alguns componentes adaptados para suportar também o combustível vegetal. O Pajero é fabricado em Catalão (GO).
 

  • Divulgação

    Na foto o Pajero Sport Flex passeia na terra, mas motor V6 bicombustível tem como alvo o consumidor dos grandes centros urbanos; SUV 4x4 e automático custa R$ 109.900

Agora, a gama do SUV intermediário da Mitsubishi (acima do TR4, abaixo do Pajero Full) passa a contar com dois motores: o flex de 3,5 litros e potência de 200/205 cavalos (gasolina/álcool), e o alimentado com diesel, de 2,5 litros e quatro cilindros. Por ora, o Pajero Sport Flex será vendido apenas com transmissão automática de quatro marchas.

Segundo a Mitsubishi, o desenvolvimento do V6 flex levou dois anos e custou cerca de R$ 20 milhões. É praticamente certo que ele vá equipar, ainda este ano, outros modelos da marca -- como a picape L200.
 

V6 BICOMBUSTÍVEL

  • Claudio Larangeira/Divulgação

    Desenvolvimento do V6 flex levou dois anos e utiliza base vinda do Japão com componentes brasileiros

O Pajero Sport Flex tem preço sugerido de R$ 109.990 (somente automático). São R$ 10 mil a menos que o mesmo carro com motor diesel e a mesma transmissão sem embreagem (R$ 119.900). Já o Pajero Sport diesel com câmbio manual custa R$ 115.490. Todos possuem tração 4x4 e reduzida.

Atualmente, são emplacadas mensalmente cerca de 300 unidades do carro a diesel (80% delas A/T). A meta da Mitsubishi é que a motorização flex não prejudique esse desempenho, e ainda acrescente 200 novas vendas mensais.

Além do novo motor, o Pajero Sport Flex traz algumas discretas mudanças no visual, inauguradas já na versão a diesel para 2010, e que o mantém como um modelo bem típico da Mitsubishi: um busca de equilíbrio entre a quadratura dos jipes clássicos e a circunferência dos SUVs mais citadinos. As novidades incluem detalhes do para-choque e d a (enorme) grade dianteira, o engate traseiro de série e o spoiler. As charmosas lanternas traseiras, redondas e diminutas, foram mantidas. O habitáculo agora vem nas cores preto e cinza, e o volante ganhou quatro raios.

Já as rodas passam às 17 polegadas e têm calçamento de perfil mais baixo (255/65). Embora sejam pneus ATR (todo-terreno), capazes -- segundo a Mitsubishi -- de manter intactas as habilidades off-road do Pajero Sport, trata-se de um sinal claro de que o carro com motor flex mira o consumidor urbano, de grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro.
 

  • Ficha técnica e de equipamentos do Pajero Sport Flex

    O pacote geral de equipamentos do Pajero Sport é discreto: o carro conta com ar-condicionado digital de zona única, sensor de estacionamento, bancos em couro, freios a disco nas quatro rodas com ABS (antitravamento) e EBD (distribuição de força da frenagem), além de airbags frontais.

    A Mitsubishi oferece planos de seguros especiais para a linha Pajero Sport. Um homem de 30 anos, morador de São Paulo, pode ter de arcar com um prêmio de R$ 4.424, e um de 40 anos pagaria R$ 4.135, em ambos os casos para o carro flex -- o seguro da versão a diesel é um pouco mais elevado. Em compensação, o plano de revisões é ligeiramente mais salgado no Pajero Flex, custando entre R$ 379 e R$ 649 da 1ª à 7ª visita à concessionária. A garantia é de dois anos.

    PRIMEIRAS IMPRESSÕES
    UOL Carros participou de um test-drive com o Pajero Sport flex abstecido com álcool, num trajeto de asfalto e de terra (este sem nenhum desafio verdadeiramente off-road) na região de Itatiba, interior de São Paulo.

    O uso do combustível vegetal salta imediatamente aos ouvidos. O característico ruído do propulsor a diesel, que para alguns é um charme, para outros um estorvo, dá lugar a um ronco igual ao de um carro qualquer -- um pouco mais alto, já que se trata de um motor V6 de capacidade respeitável.
    • Divulgação

      A traseira, com suas lanternas diminutas e linhas sóbrias, segue sendo um dos destaques do design do Pajero Sport; versão flex é identificada à direita

    Mas o motorista menos atento não vai notar muita diferença entre o desempenho desse Pajero Sport Flex e o de um carro a diesel. O novo motor tem faixa de giros mais ampla e entrega a potência máxima de 205 cavalos a 5.000 rpm, e o torque máximo de 33,5 kgfm a 3.500 rpm (sempre com álcool). É verdade que são números que não impressionam, mas capazes de garantir uma performance adequada no infernal anda-para urbano, além de alguma diversão na estrada.

    Segundo a Mitsubishi, a transmissão automática conta com um sistema adaptativo capaz de, após alguns minutos de rodagem, "entender" qual é o estilo de condução do motorista e calcular as trocas a partir dele. Difícil dizer o que o câmbio "pensou" sobre o estilo de UOL Carros, mas na maior parte do test-drive ele operou em terceira marcha nos aclives e declives, buscou a segunda num kickdown para uma ultrapassagem, e só ascendeu à quarta a mais de 90 km/h em pista plana de asfalto.

    Em velocidades elevadas, mas ainda dentro dos limites legais, o Pajero Sport Flex cobra o preço de sua altura (1,84 metro, contando o rack) e da suspensão acertada para um meio-termo entre a urbe e a selva. O carro pareceu um tanto instável e apresentou discreta oscilação lateral. A direção assistida, que é excessivamente leve, ampliou essa percepção.

    Não foi possível colocar o Pajero Sport à prova numa trilha de verdade. A tração 4x4, que pode ser engatada com o carro rodando a até 100 km/h, foi experimentada em pistas de terra muito suaves, sem que fosse notada qualquer alteração dinâmica. A reduzida, que só entra com o carro parado e o câmbio em N (neutro), infelizmente nem foi testada, em razão do roteiro conservador planejado pela Mitsubishi.

    Como o maldisfarçado objetivo do Pajero Sport flex é vender para quem vai usá-lo na cidade, essa lacuna na avaliação pode nem ser relevante. Por outro lado, conforto e habitabilidade são assuntos sérios para esse tipo de consumidor.

    Então, é bom registrar que a cabine desse carro não entrega nenhum luxo -- ao contrário, é quase espartana. Se o acabamento no geral é caprichado, o teto revestido de tecido ficaria melhor num modelo de R$ 35 mil, e o ar-condicionado com resfriamento simples num de R$ 50 mil. Já os passageiros que vão atrás sofrem com a altura do assento, bastante elevada devido à estrutura de carroceria sobre chassis. Uma pessoa de 1,80 metro terá os joelhos praticamente na altura do umbigo e um largo vão entre seu corpo e o cinto de segurança, porque a coluna lateral fica deslocada em relação ao encosto.

    Nos assentos dianteiros a ergonomia é muito melhor, embora o assoalho também seja alto. Faltou apenas o ajuste de profundidade da coluna de direção. O painel, onde predomina o branco, é agradável, e os comandos estão todos por perto -- além do inegável charme de o engate da tração ser por alavanca, e não por botãozinho no painel.

    O Pajero Sport não dispõe de computador de bordo, e por isso não foi possível medir seu consumo durante o test-drive. Perguntada sobre o tema, a Mitsubishi foi bastante franca: seus testes internos, realizados com álcool, mostraram índices entre 3,5 e 4,5 km/l em trânsito urbano; na estrada, a expectativa fica entre 7 km/l e 9 km/l. A transmissão automática e a tração 4x4 são fatores agravantes para o consumo.

    Uma consequência disso é que o tanque do Pajero Sport Flex foi aumentado, de 75 litros para 90 litros de combustível. É uma quantidade suficiente para rodar um pouco menos de 400 km numa cidade como São Paulo, somente com álcool. Quem vê charme na marca Mitsubishi e não abre mão de um SUV deve colocar esses números na ponta do lápis. E saber que, como é o caso de vários outros modelos dotados de motorzão e tração 4x4, o preço relativamente alto que se paga pelo Pajero Sport Flex tem muito a ver com seu trem de força, e pouco a ver com tratamento VIP a bordo.

    Viagem a convite da Mitsubishi do Brasil