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Agile quer ser mini-Captiva, mas também é um maxi-Corsa

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em Mendoza (Argentina)

06/10/2009 16h32

A General Motors apresentou nesta segunda e terça-feira (5 e 6), em Mendoza, na Argentina, o Chevrolet Agile. Desenvolvido pelo centro de design da fábrica em São Caetano do Sul, mas montado na unidade de Rosário, também na Argentina, o hatch compacto chega oficialmente às lojas brasileiras em até 15 dias (a depender da distância da praça) para brigar com carros do subsegmento dos hatches acima dos modelos de entrada, como Renault Sandero, Fiat Punto e Ford Fiesta, veículos dedicados a um público classificado como jovem, formador de opinião, que procura algo a mais num carro e é tido como fundamental para subir as vendas da marca.
 

  • Divulgação

    O Agile, descrito como um "mini-Captiva", que um público formador de opinião

Mas a GM não esconde que o principal oponente (e também referencial) é o Volkswagen Fox. Os preços oficiais do Agile começam em R$ 37.708 para a versão de entrada, a LT, enquanto a denominada top, LTZ, parte de R$ 39.601. Com opcionais, elas podem ir a R$ 38.930 e R$ 42.706, respectivamente, já incluída a alíquota de 6,5% de IPI. A expectativa de vendas é de 3.500 unidades a cada mês.
 

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O Agile LT de R$ 37.708 estará equipado com rodas aro 15 de aço, direção hidráulica, ajuste de altura para bancos, computador de bordo com controlador de velocidade (piloto automático) e acendimento automático de faróis, entre outros. De última hora, a GM decidiu que o ar-condicionado com visor digital também estaria incluído no pacote inicial -- o que causou surpresa à imprensa especializada e mostrou que a fabricante segue atenta aos movimentos da concorrência. Melhor para o consumidor, que verá um pouco do seu dinheiro ser valorizado.

Com airbag duplo frontal opcional, item de segurança que será obrigatório em 100% da frota até 2014, alarme, vidros dianteiros elétricos, travas elétricas, ajuste de altura (mas não de profundidade) para o volante e banco traseiro e dianteiro do carona rebatíveis, o preço salta para R$ 38.930.
 

  • Equipamentos das duas versões do Agile

    A versão top, a LTZ, começa em R$ 39.601 e adiciona à básica rodas de alumínio também de 15 polegadas, espelhos retrovisores com ajuste elétrico, faróis de neblina e rádio com CD, MP3/WMA, conexão auxiliar, USB e Bluetooth, além de trazer vidros dianteiros elétricos, travas elétricas, alarme, ajuste de altura para volante e bancos rebatíveis de série. O pacote com vidros traseiros elétricos, lanterna de neblina, airbag duplo frontal e freios com ABS (antitravamento) 8.1 com EBD (distribuição da força de frenagem) custa R$ 3.105 e eleva o valor do carro a já salgados R$ 42.706.

    MOTOR SUFICIENTE
    Todo Agile vendido no Brasil virá de fábrica equipado com o motor 1.4 Econo.flex da linha Corsa/Montana/Meriva, classificado como "nervoso e ágil" pelo vice-presidente da marca para o Brasil, José Carlos Pinheiro Neto -- mas que teve ligeira perda de desempenho no novo modelo, devido a mudanças na linha de escape do motor: são 97/102 cv de potência a 6.000 rpm e torque de 13,2/13,5 kgfm a 3.200 giros, respectivamente com gasolina e etanol.
     
  • Ficha técnica completa do Agile

    Com essa motorização, que segundo o diretor de engenharia Pedro Manuchakian é suficiente para a nova linhagem de veículos iniciada com o Agile (o chamado projeto Viva, que terá ainda uma picape compacta e um crossover), o hatch é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 13/12,5 segundos e chegar à máxima de 165/166 km/h (gasolina e álcool), segundo dados de fábrica.

    ÁLBUM DE FOTOS
    Divulgação
    MAIS IMAGENS DO AGILE
    O câmbio é mecânico de cinco marchas e, ainda segundo Manuchakian, "variedades de câmbios Easytronic (automatizado, que dispensa o uso do pedal da embreagem) não estão descartadas, mas dependem da demanda do consumidor".

    Com quase 4,0 m de comprimento, 1,68 m de largura (1,93 m contando os retrovisores), 1,47 m de altura, 16 centímetros de altura ao solo, 2,54 m de distância entre-eixos e peso de 1.075 kg (com ar-condicionado), sempre de acordo com dados de fábrica, o Agile oferece bom espaço e conforto para até quatro ocupantes, mesmo atrás (com pessoas de até 1,80 m). Um quinto ocupante pode ser encaixado no banco traseiro, mas trará desconforto aos demais e se sentirá incomodado também. No porta-malas, espaço mediano, com 327 litros de capacidade. No tanque, capacidade para até 54 litros de combustível.

    A paleta de cores contará com dez opções: branco, preto, vermelho, prata, bege, cinza, dois tons de verde, azul e amarelo.

    CORSA TAMBÉM É PARADIGMA
    Após duas séries de apresentação do modelo e divulgação de preços, UOL Carros partiu para o test-drive do Chevrolet Agile em sua versão LT (inicial) com opcionais. É a partir do plano estabelecido por este hatch, definido pela GM como primeiro passo do padrão de renovação da linha que seguirá até 2012, que a marca passará a se movimentar no mercado e seu desempenho futuro depende da aceitação do modelo pelo público definido pela montadora como ideal.

    Mas o Agile, feito para público e mercado emergentes, foi desenvolvido também tendo padrões já estabelecidos como referência, o que se percebe logo pelo visual. A frente marcante -- com a nova grade em duas partes e logo centralizado sobre a barra divisória ladeados por amplos faróis -- faz parte do chamado "novo DNA" da Chevrolet, e já é chamada internamente de visual "Mini-Captiva". Também do crossover e de outros modelos disponíveis no mercado norte-americano vem a iluminação interna azulada (no tom chamado "ice blue") e o visor digital e controles de ar-condicionado do novo hatch, sem dúvida a parte mais bonita do carro.

    VÍDEO OFICIAL DO CHEVROLET AGILE

    • O vídeo acima é institucional; todo o seu conteúdo é de responsabilidade da GM do Brasil

    Lateralmente, o Agile tem porte semelhante aos concorrentes Renault Sandero e Ford Fiesta, passando a sensação de amplitude e bom espaço interno, o que realmente se confirma. A ousadia das formas definidas pelo centro de design da GM não chega, no entanto, ao padrão encontrado no Punto, por exemplo, que possui as linhas mais refinadas, desenvolvidas pelo estúdio de Giorgetto Giugiaro.

    Por dentro, a referência não vem de nenhum dos atuais concorrentes ou de "familiares", mas de um modelo de 1957, o Corvette C1. É desse clássico que vem o desenho de "duplo cockpit", ou painel simétrico para motorista e carona, garantindo mais espaço para os passageiros da frente. Ainda assim, o motorista não vai escapar de resvalar, por vezes, na perna do ocupante ao lado por culpa da alavanca de câmbio -- um tanto solta demais e de curso um pouco mais longo do que seria o ideal.

    O painel de instrumentos chama a atenção pela iluminação já citada e por contar com computador de bordo com seis funções: estão lá, além de hodômetro total e parcial, a hora, o consumo médio, um totalizador de combustível gasto (que não é regressivo, mas progressivo, mostrando o quanto já foi, mas não o quanto resta), um marcador de autonomia e o termômetro externo. Há ainda o piloto automático, que, como o computador de bordo e as setas de direção, é acionado por meio de alavancas similares -- veja só -- às da família Astra. O controle de luzes, que podem ter acionamento automático, fica no painel à esquerda do volante, os do ar-condicionado à direita e o rádio, quando disponível, logo abaixo do ar, numa posição incômoda para o motorista.

    COM QUEM (E COM O QUE) ELE BRIGA

    O acerto de posição do motorista não é incômodo, mas poderia ser melhor. No volante, apenas altura, nada de profundidade; para o banco, acertos manuais com possibilidade de se mexer na altura do assento e, a partir daí, outra surpresa: na posição mais baixa, tem-se o mesmo padrão de visão e altura do quadril de um hatch comum. O nível do rival Volkswagen Fox, que é mais elevado também pela maior altura da carroceria e do chamado ponto H, só é atingido com a elevação do banco. Texturas e relevos agradam, mas o plástico de painéis e portas é totalmente rígido, enquanto os bancos contam com uma espécie de almofada com padrão em alto-relevo (chamado de "embossed" pela fábrica), que garantem uma melhor acomodação.

    O aspecto negativo vem principalmente de detalhes como o posicionamento dos controles de vidros elétricos, que poderiam ficar uns quatro dedos acima de onde estão, e das maçanetas internas de abertura das portas, que se assemelham a ganchos e ficam no topo do apoio de braço -- desprotegidas de qualquer carenagem, têm aspecto de gosto duvidoso e aumentam o risco de um acionamento involuntário, ou de prenderem na roupa ou em algum acessório usado pelos ocupantes.

    No geral, UOL Carros teve sempre uma impressão oscilante, notando pontos excelentes a serem destacados, mas também aspectos negativos demais. Algo que não deveria ocorrer com tamanha intensidade em um carro que ronda a faixa dos R$ 40 mil. Fica também a impressão, compartilhada por colegas jornalistas, de que o Agile mostra uma evolução não do padrão estebelecido pelos concorrentes, mas sim a partir do atual Chevrolet Corsa. A GM, no entanto, nega que esse hatch, que hoje tem preços no site da marca começando em cerca de R$ 28 mil (versão Maxx com o mesmo motor 1.4) será substituído pelo Agile. A conferir.

    IMPRESSÕES AO DIRIGIR
    É necessário ressaltar que as unidades do Agile disponibilizados para teste na Argentina foram homologadas e habilitadas para o mercado local: estavam equipadas, portanto, com motor 1.4 apenas a gasolina, com potência máxima até 10 cavalos inferior à obtida pelo Econo.flex do mercado brasileiro.

    Já com essa decepção inicial, UOL Carros seguiu para um roteiro de cerca de 40 quilômetros por vias centrais de Mendoza, com destino à Rota 7, estrada que liga a Argentina ao Chile. Com o ajuste de altura do banco no máximo para obter melhores visibilidade e dirigibilidade, pôde-se notar um incômodo com os pedais, principalmente o da embreagem, extremamente mole e com curso muito longo.

    O fato de a potência máxima ser obtida em distantes 6.000 giros e do torque chegar logo aos 3.200 rpm faz do Agile um carro ligeiro em arrancadas e que pede trocas de marchas mais espaçadas. Por outro lado, as retomadas são prejudicadas. A direção hidráulica se mostrou precisa, com pouca flutuação em maiores velocidades -- mas um pouco dura demais para as manobra a partir da imobilidade.

    O grande senão fica para o excesso de ruído percebido no habitáculo, principalmente a partir dos 110 km/h, quando o motor "grita" excessivamente, mesmo em quinta marcha. Embora o percurso reduzido e a ausência de condições similares às que serão enfrentadas no Brasil tornem esse dado quase irrelevante, registre-se que o computador de bordo indicou o consumo médio de 9,9 km/litro.

    O jornalista viaja a convite da General Motors do Brasil