Câmbio automatizado vira diferencial no mercado de compactos
Em um ambiente superpovoado, é preciso ter diferenciais para se destacar na multidão. No caso dos segmento de compactos do mercado brasileiro, divisão que responde por mais de 70% das vendas de veículos no Brasil, cada modelo busca um jeito de se diferenciar. A novidade entre os compactos são os câmbios automatizados. Começou com o Easytronic, da General Motors, no monovolume Chevrolet Meriva em 2007. Recentemente, Volkswagen Polo, Gol e Voyage ganharam suas versões com a transmissão I-Motion, lançada este ano. E a líder Fiat também aplicou seu sistema Dualogic, antes só disponível no hatch Stilo e no sedã Linea, no Idea, Siena, Palio Weekend e no popular Palio. Na verdade, os câmbios automatizados apelam para o conforto e aparecem como proposta mais barata que os câmbios automáticos convencionais, já oferecidos em modelos como Peugeot 207, Citroën C3, Honda Fit e City e no Kia Picanto.
Descanse o pé esquerdo: Proposta de automatizados é aumentar conforto no trânsito moroso
Os especialistas garantem que a principal razão para a popularização dos câmbios automatizados reside nas grandes cidades. O trânsito cada vez mais estagnado seduz os consumidores das metrópoles a valorizarem o simples conforto de não ter de trocar marchas e utilizar a embreagem o tempo todo no anda-e-para dos engarrafamentos. Para se ter uma ideia, a versão I-Motion do Polo já tem quase 30% de participação nas vendas totais do compacto -- em São Paulo, ultrapassa os 35%. "Hoje, no Brasil, temos 80 cidades com problemas graves de trânsito. Com isso, é natural as pessoas buscarem mais conforto para este cotidiano", associa Fabrício Biondo, gerente de marketing da Volkswagen.
Chevrolet Meriva oferece automatizado desde 2007
Fiat Palio faz parte da ampliada família Dualogic
VW Polo recebeu o I-Motion antes de Gol e Voyage
SIMPLIFICAÇÃO
Para oferecer conforto em um segmento hipersensível a variações de preço, o jeito foi usar um sistema mais simples. Em vez de conversor de torque e sistemas planetários, como em uma transmissão automática tradicional, o câmbio automatizado nada mais é que uma caixa de velocidades comum com embreagem tradicional, mas de acionamento autônomo -- um software, fornecido pela Magneti Marelli para Fiat e Volkswagen, e pela Luk para Chevrolet, coordena a ação -- e um braço robotizado que faz as trocas de marcha.
Mais simples, o equipamento acaba por ter um custo até 60% menor que o de uma caixa automática padrão. No mercado atual, o preço de um câmbio automatizado varia entre R$ 2 mil e R$ 2.500. "Este sistema foi pensado para unir o conforto da função automática sem roubar potência do motor ou aumentar o consumo do carro. E por não roubar potência do motor, pode ser aplicado em motores menores", defende o engenheiro Carlos Henrique Ferreira, assessor técnico da Fiat. De qualquer forma, todos os modelos que usam o sistema têm mais de 100 cv.
Além de aumentar o custo dos modelos, as marcas também tiveram de enfrentar barreiras culturais. Nos anos 90, câmbios automáticos geralmente se concentravam em modelos de luxo e as pesquisas das próprias montadoras detectavam que o brasileiro tinha preconceito contra este tipo de transmissão -- achavam que o câmbio fazia os carros beberem muito e ficar com a manutenção muito cara. No fim da década, essa resistência começou a diminuir e alguns fabricantes até se arriscaram com embreagens automáticas, semelhantes às usadas nos automatizados, mas que ainda exigiam a intervenção do motorista na troca de marcha -- casos do Mercedes Classe A e versões da família Palio. "Na época, não tinha muito valor agregado. Atualmente virou alternativa ao câmbio automático com a vantagem de ter custo inferior", explica Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive.
Quem voltou à carga foi a Honda, em 2003, ao lançar o Fit com uma caixa do tipo CVT -- sigla para transmissão continuamente variável, acionada por um jogo de polias. Na nova geração, em 2008, o câmbio deu lugar a uma transmissão automática tradicional, de cinco velocidades. Em 2007, Peugeot e Citroën disponibilizaram versões automáticas para 206 e C3. Na época, pesquisas de mercado sinalizavam um desejo do cliente pelo equipamento. "Teve tanta aceitação no hatch e na SW do 206 que replicamos o câmbio em toda a linha 207, inclusive no sedã Passion", enaltece Juliano Rossi Machado, gerente de produto da Peugeot.
Ao mesmo tempo, o item surgia também para requintar a imagem das marcas, com a associação do fabricante a uma percepção de tecnologia. "Clínicas mostram que os consumidores enxergam o equipamento como uma transmissão inteligente", valoriza Biondo, da Volks. "As borboletas atrás do volante em certos modelos dão imagem de tecnologia de ponta, já que é um tipo de acionamento que foi muito difundido pela Fórmula 1", faz coro Garbossa.
NO PONTO DE VENDA
Apesar da "democratização", o brasileiro ainda é pouco familiarizado com câmbios automáticos e automatizados. Por esta razão, a maioria das marcas desenvolveu um treinamento específico na rede para explicar como funcionam esses tipos de transmissão. Pelo programa das montadoras, os vendedores devem explicar detalhadamente o funcionamento do equipamento para que o cliente entenda e saiba como usar melhor -- principalmente no caso dos câmbios automatizados, com seus indefectíveis trancos. "Não é um automático, tem o tempo certo de trocas das marchas. Por isso, só entregamos carros para revendedores que passaram no treinamento", garante Biondo, da Volkswagen.
No ponto de venda, porém, o cliente que quer o carro automático ou automatizado geralmente já chega com o modelo certo na cabeça, segundo levantamento das próprias montadoras. "O cliente geralmente já vai com essa noção. Havia preconceito e poucas pessoas sabiam mexer no câmbio. Hoje ficou mais conhecido. E, de qualquer forma, o vendedor é treinado para explicar como funciona", assegura Juliano Rossi Machado, gerente de Produto da Peugeot. (por Fernando Miragaya)
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