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Com boa atuação no jogo dos sedãs, Cerato leva amarelo por não ser flex

Claudio de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

15/12/2009 16h54

Era uma vez um carro que os brasileiros mal sabiam que existia. Sem graça no visual -- era um genérico de sedã oriental pré-2005 -- e com um nome algo bizarro, sofria críticas mordazes da imprensa automotiva e era ruim de loja, mesmo sendo o campeão de vendas de sua marca no resto do mundo. Entre nós, parecia destinado a manter-se na mais profunda irrelevância, até um dia deixar de ser importado para o Brasil.
 

Mas então um cara bom de traço, o designer Peter Schreyer, ex-Audi, redesenhou esse sedã, alinhando-o com a nova identidade visual de sua fabricante, a sulcoreana Kia Motors. O carro, que evoluiu décadas na aparência, passou a ser "bombado" na mídia brasileira com aquela avalanche publicitária que já é praxe no caso da Kia e da matriz Hyundai. E o nome Cerato, enfim, entrou para valer na escalação do disputado jogo dos sedãs compactos premium e médios.

Dele participam, considerando parâmetros como preço e tamanho, ao menos outros 13 jogadores, entre titulares absolutos e reservas. São eles Volkswagen Bora e Polo Sedan, Fiat Linea, Chevrolet Vectra, Honda City (principalmente ele) e Civic, Toyota Corolla, Ford Fiesta (se "completaço") e Focus, Renault Mégane, Nissan Sentra, Citroën C4 e Peugeot 307.

A busca de contemporaneidade visual fez com que o Cerato, na dianteira, se aproximasse consideravelmente do Civic e mesmo do City, devido ao conjunto óptico estreito e alongado. Mas a grade frontal, com um cromado que lhe dá o tal aspecto de "boca de tigre" (segundo a descrição da própria Kia), se espalha pelo parachoque em três seções, duas delas contendo os faróis de neblina, os quais evitam a obviedade do círculo -- e estes são elementos que garantem uma surpreendente identidade própria ao Cerato.
 

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As linhas laterais do sedã, levemente ascendentes, são mais conservadoras, e culminam num terceiro volume encurtado, à moda de Civic e Sentra, mas bastante "arrebitado" -- impressão reforçada pelo falso spoiler formado pela tampa do porta-malas e as porções laterais superiores da carroceria. As lanternas "apontam" para o centro da traseira e prolongam-se pelos para-lamas -- e há muita semelhança com o Corolla nessa pontinha de peça que "sobra" dos lados.

O Cerato renovado ficou mais encorpado em relação ao anterior. Com 4,53 metros de comprimento, espichou 3 cm, e na largura passou de 1,73 m para 1,77 m, oferecendo 4 cm a mais. Acabou ganhando 4 cm no entre-eixos, a medida determinante do espaço interno: foi de (já bons) 2,61 m para 2,65 cm. Parece pouco, mas faz diferença quando se trata de acomodar melhor as pernas de quem vai atrás. As bitolas dianteira e traseira também foram aumentadas, em 6,2 cm e 7,9 cm, respectivamente, colocando o Cerato mais "no chão".
 

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O QUE ELE TEM
O sedã da Kia é oferecido na versão EX com cinco acabamentos e conteúdos, identificados por códigos: são três configurações com a caixa manual de cinco marchas (E 201, E 202 e E 213) e duas com o sistema automático e sequencial de quatro (E 252 e E 263). Os airbags frontais são de série em todos os Cerato, e os freios a disco com ABS (antitravamento) e EBD (distribuição de força de frenagem) só não estão disponíveis na configuração manual de entrada -- que também é a única com rodas de liga-leve de 15 polegadas. As demais têm rodas de 16" ou 17". Direção hidráulica, computador de bordo e ar-condicionado (digital em quatro dos acabamentos) também são de série.

Veja a lista completa de equipamentos do Cerato, e confira os preços das cinco configurações:

E 201 (manual) - R$ 51.500
E 202 (manual) - R$ 54.700
E 213 (manual) - R$ 57.200
E 252 (A/T) - R$ 59.800
E 263 (A/T) - R$ 62.300


Sob o capô, o Cerato traz um propulsor a gasolina de 1,6 litro, quatro cilindros e 16 válvulas com duplo comando variável. O conjunto é capaz de gerar interessantes 126 cavalos de potência a 6.300 giros -- um valor consideravelmente mais alto que a média dos motores dessa capacidade. Já o torque de 15,9 kgfm a 4.200 giros não tem nada de excepcional. É o mesmo propulsor que move o "carro design" Kia Soul. Confira aqui a ficha técnica completa do Cerato.

Como faz com outros modelos de sua gama, a Kia oferece garantia de cinco anos ou de 100 mil km pelo Cerato.

VIDA A BORDO
Tendo como rivais tantos e tão diferentes sedãs, o Cerato não podia errar no tratamento aos ocupantes. E a impressão geral, depois de uma semana de convivência com o modelo na configuração mais cara, acabou sendo positiva -- com algumas poucas ressalvas.
 

Há um excesso de plásticos no habitáculo e os bancos são de tecido, mas o volante revestido em couro e o desenho atraente da parte central do painel, que contém os comandos de som (também disponíveis no volante) e ar-condicionado, elevam o nível da cabine. A iluminação dos instrumentos é branca, mas as teclas e demais comandos espalhados pela cabine acendem em vermelho -- o efeito é bonito. O painel é bem simples, com três mostradores circulares que descartam o marcador de temperatura e acumulam luzes-espia ao lado do indicador de combustível, mas pelo menos o Cerato tem computador de bordo de série desde a configuração mais barata.

O espaço interno é muito bom para quatro pessoas e suficiente para um quinto ocupante, mas -- como é normal em sedãs médios -- o ideal é não precisar levar essa pessoa "a mais". O banco traseiro não terá apoio de cabeça nem cinto de três pontos para ela, e suas costas serão incomodadas pelo apoio de braço, que se retrai para dentro do encosto.

Quanto à posição do motorista, decepciona um pouco a falta de ajuste de profundidade da coluna de direção, que se movimenta apenas na vertical. Mas a regulagem do banco é boa, assim como a empunhadora do volante, e o Cerato acaba vestindo bem quem o conduz.

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
O visual contemporâneo e até com um quê de esportividade do Cerato não tem correspondente no desempenho do carro, mas isso não é nenhuma surpresa, devido à proposta de usar um motor menor e com torque mais modesto que os dos demais sedãs. O reflexo principal provavelmente se deu no preço final -- que é competitivo, apesar de o Cerato pagar 35% de taxa de importação, pois vem da Coreia do Sul.

Não que o carro seja sonolento. Na cidade ele mostra boa disposição para aproveitar as raras brechas no trânsito, com arrancadas e retomadas muito atentas à pressão do pé direito do motorista, e em pistas livres as velocidades de cruzeiro mais elevadas, na casa dos 120 km/h, são atingidas e mantidas com naturalidade.

Na unidade que testamos, uma relativa decepção foi o câmbio automático, algo que também não nos surpreendeu. O problema é que são apenas quatro marchas, sacrificando a segunda, que ficou bem desanimada na hora de encarar aclives mais acentuados -- nos quais o sistema jamais buscou a primeira marcha. Nessas condições, o ideal é assumir o comando e reduzir no modo sequencial, na própria alavanca do câmbio.

A suspensão do Cerato, que na traseira usa eixo de torção (como o Corolla), garante um rodar suave ao sedã na maior parte dos pisos. Fica a impressão de que a Kia buscou um acerto menos esportivo (ou seja, menos duro) que o do Civic, tomando como paradigma o próprio Corolla -- e o Cerato, na verdade, acabou ficando até mais macio do que o rival da Toyota.

Agora, por favor, volte ao terceiro parágrafo deste texto. Ali estão os nomes de 13 concorrentes do Cerato. O que todos eles têm em comum, fora a carroceria três-volumes, é possuir motores bicombustíveis, que rodam com gasolina e/ou etanol.

E esse é o grande pecado do Cerato: os propulsores flex só devem chegar à gama da Kia em outubro do ano que vem, e primeiro ao Soul, depois ao Cerato e ao Sportage. Mas vai demorar, certo?

Enquanto isso, o sedã vai rodando apenas com gasolina -- e entregando uma média de consumo de 7,5 km/l na cidade, segundo o computador de bordo -- o dado "oficial" é esse, mas o fato é que rodamos 310 km até esgotar o tanque de 52 litros. Ou seja, a média de consumo pode ter ficado na casa dos 6,2 km/l. Uma parte da culpa desse consumo algo elevado certamente é do câmbio automático. O Cerato manual deve se sair bem melhor do que isso.

Para quem não se preocupa com o que está sendo queimado no motor, o renovado Kia Cerato passa a ser uma opção diferente e instigante no segmento dos sedãs médios. Afinal, tem muita gente que já se cansou da "frota" de Civic e Corolla rodando nos itinerários urbanos da classe média verde-amarela.

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