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Ford Focus 1.6 Flex demorou a chegar, mas agrada rapidamente na pista

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em Taubaté (SP)

18/12/2009 16h00

Longos quinze meses se passaram até que a Ford fizesse o que todos esperavam e colocasse no mercado a versão bicombustível do (já não tão) novo Focus, lançado em setembro do ano passado. O pedido, no entanto, foi atendido apenas parcialmente: equipado com a nova geração de motores Sigma, o Ford Focus Flex chega às lojas até meados do mês apenas na motorização de 1,6 litro. Quem quiser ver (e ter) a configuração maior, de 2,0 litros, bebedora de etanol e gasolina terá de aguardar um pouco mais, até meados de fevereiro ou março.

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    Tardio, Ford Focus surge com motor flex, mas por enquanto apenas na versão 1.6 de 109/116 cv

O principal intuito da Ford em lançar primeiro a versão de capacidade volumétrica (e de potência) menor é reduzir o preço inicial do produto e tentar (finalmente) alavancar as vendas de um carro cheio de atributos, mas que não deslanchou, muito provavelmente pela ausência do motor flex. Agora equipado com o bloco de 1.596 cm³, que gera 109/116 cv com gasolina e álcool, respectivamente, o Ford Focus Flex hatch será vendido inicialmente em duas versões de acabamento, GL e GLX, e preços a partir de R$ 49.500.
 

OS PREÇOS DO FOCUS FLEX 1.6

Hatch 
Ford Focus Flex 1.6 GLR$ 49.500
Ford Focus Flex 1.6 GLXR$ 51.400
Ford Focus Flex 1.6 GLX com ABSR$ 52.400
Sedã 
Ford Focus Sedan Flex 1.6 GLX
com ABS
R$ 54.400

A mais barata é a GL, equipada de fábrica com ar condicionado, direção hidráulica, airbag duplo, computador de bordo, vidros elétricos apenas nas portas dianteiras, CD-player/MP3, faróis com ajuste de altura, rodas de liga leve aro 16 polegadas... e freios a tambor nas rodas traseiras. A versão GLX é "incrementada" com freios a disco nas quatro rodas, vidros elétricos traseiros, console central com descansa-braço, retrovisores, maçanetas, régua do porta-malas e aerofólio pintados na cor do veículo e custa R$ 51.400, chegando aos R$ 52.400 com os sistemas ABS (antitravamento dos freios) com EBD (distribuição eletrônica de frenagem) e CBC (controle de frenagem em curvas), opcionais.

Mimos como controles multimídia no volante, sistema de som Sony com conectividade por USB e comando de voz (substituído pelo sistema da Visteon, mais simples, feioso e com conectividade zero), teto solar elétrico e cruise control estão fora do universo da versão 1.6 bebedora de álcool, ficando restritos à versão 2.0 Ghia a gasolina, avaliada por UOL Carros em maio (e, certamente, à futura versão 2.0 bicombustível). O botão de partida no console, outro charme apresentado no lançamento do Focus há mais de um ano, também está fora e seu lugar no console central é ocupado por uma tomada 12V, cuja capa protetora pulou longe ao ser manipulada durante o test drive e nunca mais foi encontrada...

Mas, de fato, o Focus segue sendo uma das melhores opções no segmento de hatches médios. O acabamento interno ainda é primoroso e mantém a boa textura e acabamento do painel emborrachado, volante revestido de couro com aros internos metalizados, comandos bem posicionados e detalhes cromados nas saídas de ar e no belo painel de instrumentos -- embora tenham agora a companhia de um pouco mais de plástico (bem acabado).
 

SIGMA

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    O novo motor Sigma, que passa a equipar a atual geração do Focus fabricado na Argentina e vendido aqui no Brasil, é a evolução de uma família que vinha sendo utilizada pela Ford ao redor do mundo (é fabricado por nove unidades em quatro continentes) desde a década de 1990, equipando atualmente a minivan C-Max, o SUV Kuga e o próprio Focus em mercados como Europa e América do Norte.

    De concepção avançada, sua versão flex é produzida em Taubaté (SP), com bloco, cabeçote, cárter e pistões de alumínio, contando com comando duplo das 16 válvulas por correia e coletor de admissão em plástico injetado. Segundo a Ford do Brasil, o novo bloco pesa apenas 76 kg, tem reduzida emissão de poluentes -- 196/189 g/km de CO2 (gasolina/álcool) -- e baixo nível de ruído.

    No Focus vendido no Brasil, a potência declarada de forma minuciosa (e estranha, com casa decimal e tudo) é de 115,6 cv a 5.500 rpm com etanol e 109,3 cv a 6.250 rpm com gasolina no tanque. O torque fica em 16 kgfm (4.250 giros) com álcool e 15 kgfm (a 4.250) com gasolina.

Com os 4,35 m de compprimento, 1,84 m de largura e bons 2,64 m de entre-eixos, o espaço do habitáculo segue abrigando quatro passageiros com todo o conforto e acolhendo até um quinto passageiro com satisfação e segurança -- todos contam com cinto de segurança de três pontos e encosto de cabeça regulável.

Por fora, o design Kinetic toma forma no conjunto óptico fluido, no capô com dois ressaltos e na grade enorme, além da inclinação pronunciada da tampa traseira, ao mesmo tempo em que convive com soluções para baratear o preço, como por exemplo, as rodas mais simples e ausência de faróis de neblina que transformam o nicho no para-choque em um mero trapézio de plástico preto.

Todo Focus bicombustível sai de fábrica, ainda, com o indefectível adesivo multicolorido com a inscrição "Flex" colado no vidro traseiro e, por enquanto, sem qualquer emblema alusivo à capacidade do motor na lataria, já que pelo padrão da Ford apenas os 2.0 são identificados.

AH, O SEDÃ EXISTE
Se, há pouco mais de um ano, a Ford surpreendeu os jornalistas ao afirmar que esperava um desempenho de vendas da carroceria sedã do novo Focus superior ao do hatch, desta vez a ação foi se fazer de morta. Afinal, 15 meses de mercado foram mais do que suficientes para apagar esta noção.

Tanto que, durante toda a coletiva de apresentação, o sedã sequer foi citado e, por pouco, não se ficou com a impressão de que o motor flex para este tipo de carroceria seria mostrado em outra data. Na verdade, o novo Ford Focus Sedan 1.6 Flex existe e chega ao mercado junto com o hatch, mas em volume muito menor ("óbvios" 20% do total, nas palavras da Ford) e apenas na versão GLX com ABS, ao preço de R$ 54.400. A justificativa, desta vez, é que o comprador está mais interessado em levar sedãs com motores maiores para casa.

Assim, a montadora encerra de vez o ciclo da geração anterior do Focus, que vinha sido mantida como plataforma de acesso da gama desde a chegada da atual geração. Resta saber, agora, se a Ford finalmente conseguirá realizar seus discurso e incomodar os principais fornecedores de hatches médios no país -- em novembro, segundo a Fenabrave, o Focus (em suas duas gerações) ficou atrás do coreano Hyundai i30 (2.515 unidades) e dos nacionais Chevrolet Astra (2.450), Fiat Punto (mal-posicionado neste segmento, mas ainda assim com 2.395 unidades) e Volkswagen Golf (1.703). Vendendo um total de 1.435 unidades, só ganhou mesmo de Peugeot 307, Citroën C4, Fiat Stilo e Chevrolet Vectra GT/GT-X Remix.

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    Maiores simplificações do Focus 1.6 Flex estão no interior (acima, a versão GLX), menos inovador: volante sem comandos, botões comuns, mais plásticos; ainda assim, conforto persiste

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
Após a sessão de apresentação e posicionamento mercadológico, UOL Carros participou do test drive do novo Ford Focus Flex 1.6. Saindo da cidade de São Paulo com destino a Taubaté, o trajeto de pouco mais de 150 quilômetros foi feito na companhia de outros três jornalistas, com todos se revezando ao volante de uma unidade hatch na versão GL.

E se, por um lado, o acabamento do Focus foi visivelmente simplificado nesta versão, por outro, pouca coisa mudou no prazer de dirigi-lo. Sim, o propulsor 2.0 a gasolina entrega 145 cv, ou 29 cavalos a mais que o 1.6 abastecido com etanol, mas este último conta com uma curva de torque muito plana e com 80% de sua força total disponíveis logo cedo (1.500 rpm). Na pista, o que se viu foi uma disposição enorme, com respostas rápidas a cada investida no pedal do acelerador e dinamismo nas retomadas.

O Focus bicombustível com motor Sigma 1.6 embala rápido e chega fácil aos 120 km/h, limite legal de velocidade das rodovias paulistas. E, com tranquilidade e desenvoltura, vai (muito) além deste marco se o motorista não o segurar. Segundo a Ford, a aceleração de 0 a 100 km/h pode ser cumprida em 12,5 segundos, com máxima de 189 km/h, sempre com etanol.

Mesmo com este ímpeto, o desempenho dinâmico é primoroso e o Focus não se abala em pisos com maiores ressaltos nem desgarra em curvas acentuadas, graças ao conjunto de suspensão bem acertado (McPherson na dianteira e multilink na traseira), retrabalhado para equilibrar o peso menor desta versão do Focus (1.290 kg).

O Focus com motor menor chega a ser melhor que aquele equipado com propulsor 2.0 quando o assunto é o escalonamento da caixa de câmbio manual de cinco marchas. No 1.6, ela é mais leve e com engates mais precisos, facilitando o trabalho do motorista. A primeira marcha, aliás, está mais curta, compensando a menor potência.

Devido ao revezamento de motoristas, fica impossível precisar o consumo correto do bloco, o que ficará para uma futura avaliação individual do Focus flexível. Durante o test drive, com quatro ocupantes no carro, que começou no trânsito pesado de São Paulo e passou por estradas livres, o computador de bordo chegou a indicar a marca de 7,8 km/l, abaixo da média global de 8,5 km/l apresentada pela Ford, sempre com etanol. Ainda assim, e de forma bem estranha, o indicador de combustível registrava a sobra de pouco menos de 1/4 dos 55 litros do tanque na chegada a Taubaté, apontando para um consumo bem maior.

*Test drive a convite da Ford do Brasil