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Ford EcoSport muda preço e mais um pouco para, no fundo, não mudar nada

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em Maceió (AL)

03/02/2010 21h44

A Ford fez, nesta quarta-feira (3), em Maceió (AL), a primeira apresentação promovida por uma das quatro montadoras chamadas "grandes" do país no ano de 2010, com a remodelação do utilitário esportivo leve EcoSport. O jipinho, que chega às lojas até a segunda semana de fevereiro, já vem como modelo 2011. E isso explica muita coisa no caso deste "lançamento", que mudou pouco em relação ao modelo vendido até então, mas que tem no marketing seu grande reforço, seja com a ostentação do "pedigree" aventureiro já associado ao EcoSport, seja com a redução de preços que a nova linha traz embutida.
 

UM JIPINHO SEM CRISE DE IDENTIDADE

  • Divulgação

    'Novo' EcoSport ostenta o nome do modelo na extremidade do capô do motor, mas só nas versões mais caras; maquiagem prepara para reforma geral em dois anos

O fato é que, sem mostrar mudanças significativas, sem apresentar uma nova geração -- algo que só deve ocorrer em 2012 (não se sabe ainda se no ano do calendário ou no do modelo) -- e enfrentando uma concorrência que só faz crescer e mostrar ainda mais os dentes, a Ford tratou de engrenar uma política comercial mais agressiva como forma de defender o terreno do líder do segmento de SUVs, como ressaltaram os executivos da empresa durante a apresentação técnica.

Assim, e enquanto rivais como os prometidos Renault Duster e Hyundai Tucson nacionalizado (e mais barato, esperam alguns) não chegam, quem compra o EcoSport 2011 leva um modelo com alterações pontuais, mas que agrega mais conteúdo do que o oferecido no modelo anterior, paga em média R$ 2.000 a menos, e ainda conta com garantia total de três anos, sem limite de quilometragem, desde que siga as indicações do manual do proprietário e o cronograma de revisões (a cada seis meses ou 10 mil quilômetros rodados).
 

Quase sete anos após seu lançamento, em abril de 2003, o EcoSport foi buscar dentro e fora de sua família a inspiração para a leve mudança de visual. Da Ford mesmo, veio o estilo da nova grade dianteira, com três barras horizontais paralelas que conversam com aquela presente nos importados Edge e Fusion ou na picape Ranger, embora não tenha o padrão cromado -- segundo a Ford, como o jipinho é mais aventureiro, elas ficam na cor do veículo ou no tom de cinza (chamado de "London" pela montadora), de acordo com a versão de acabamento.

É a versão também que determina se o novo EcoSport terá, ou não, a principal alteração de visual -- o letreiro com o nome EcoSport no capô, ideia que dá maior visibilidade ao SUV e que parece ter sido inspirada em modelos Land Rover (marca que já não pertence mais ao grupo Ford). As versões FreeStyle, XLT e 4WD têm o nome; ficam sem ele as versões XL e XLS (mais baratas e disponíveis apenas com motor 1.6).

Há ainda detalhes menores, como novos padrões de rodas de liga leve aro 15, de identificação na moldura lateral do veículo, de cor das maçanetas e de acabamento dos faróis, que variam visualmente de acordo com a versão, chave do tipo canivete desde a versão XLS, descanso de pé para a versão com câmbio automático, bem como novo bagageiro longitudinal de teto, grafismo do painel de instrumentos (agora com iluminação branca que fica acesa mesmo durante o dia) e rearranjo de porta-objetos em toda a linha.

Com estas alterações, o Ford EcoSport 2011 poderá ser encontrado nas lojas nas seguintes versões e preços (valores de tabela, válidos para o Estado de SP):

Motor 1.6 Flex Zetec RoCam

  • XL (com ar e direção): R$ 49.900
  • XLS (XL mais trio): R$ 54.800
  • FreeStyle (XLS mais novos detalhes de aparência, computador de bordo, rádio My Connection, controle satélite de rádio, rodas de liga leve aro 15): R$ 57.190
  • XLT (FreeStyle mais airbag duplo): R$ 58.190
  • XLT (com ABS e couro): R$ 60.190

    Motor 2.0 Flex Duratec
  • FreeStyle: R$ 59.480
  • XLT manual ou automático: R$ 60.910
  • 4WD: R$ 61.880

    IMPRESSÕES AO DIRIGIR
    A bordo de dois exemplares do EcoSport FreeStyle, primeiro um com motor 1.6 e depois com o 2.0, variante mais vendida da linha (mais de 50% do total), UOL Carros participou de um test-drive, cujo roteiro percorreu 100 quilômetros (somando a distância de ida e volta) da orla marítima de Maceió e região, incluindo trechos urbanos e de rodovia e um pequeno trajeto não asfaltado, e que serviu para mostrar uma coisa: na prática, a Ford não mexe em time que está ganhando -- para o bem ou para o mal.

    Com cerca de 550 mil unidades vendidas em sete anos de mercado, o EcoSport mantém média mensal de 3.000 emplacamentos (foram 3.276 em dezembro de 2009 e 2.723 em janeiro) e se mantém à frente de concorrentes como Tucson, Mitsubishi TR4, Suzuki Jimny e Chery Tiggo -- que são mais novos e, em alguns casos, mais caros e bem-equipados. A Ford gosta ainda de incluir na disputa os chamados "aventureiros" (com visual parrudo e altinho, mas sem credenciais para ser um SUV, já que são apenas variantes de carros de passeio), como Volkswagen CrossFox, Ford Fiesta, Fiat Idea Adventure e Palio Weekend Adventure, Renault Sandero e Citroën C3 XTR, embora exclua o "carro-design" Kia Soul, que se autoproclamou rival do EcoSport durante o lançamento em 2009. Tudo para aumentar os méritos de sua cria.

    DETALHES E DADOS TÉCNICOS

    • Divulgação

      O estepe continua na porta traseira do EcoSport, e vai ficar por lá no modelo pós-reforma, em 2012

    • Interior da versão XLT automática, com bancos em couro; sistema de som completo é destaque

    • Motor 2.0 (foto) do EcoSport é o Duratec flexível, de 145 cv (álcool); o 1.6 Zetec RoCam entrega 106 cv

    O fato é que o EcoSport 2011 traz as credenciais inalteradas em relação aos seus antecessores: com preço relativamente baixo, se considerarmos os iniciais R$ 49.900, oferece o passe de entrada ao clube de motoristas que podem olhar os outros de uma posição privilegiada, mais alta em relação a hatches e sedãs, graças aos 630 milímetros de altura da distância do solo ao assento (o chamado ponto H), e da maior capacidade de transposição de obstáculos, com 200 mm de altura livre para o solo, que o permitem atravessar áreas alagadas de até 450 mm de profundidade.

    Para o motorista, isso garante boa visibilidade e controle durante a direção, sensação reforçada pela (no geral) boa disposição de comandos e pela facilidade em se encontrar um acerto ideal entre o banco e o volante, ambos com regulagem de altura (mas sem acerto de profundidade no volante). O senão fica por conta da largura da cabine, que poderia ser um pouco mais ampla, e da disposição do rádio -- elemento cada vez mais crucial na vida a bordo em grandes cidades.

    Embora tenha conexões para praticamente todo tipo de dispositivo (iPod e MP3, Bluetooth e entrada auxiliar estão à disposição), o sistema My Connection traz botões centralizados numa altura relativamente baixa, levando o motorista a desviar os olhos da pista para o console central durante sua operação. E nem mesmo a adoção do comando-satélite para o rádio minimiza a distração, já que o sistema não foi incorporado ao volante, mas sim à coluna de direção (muito similiar ao encontrado em modelos da Renault), o que faz com que o motorista tenha de se abaixar e se contorcer para ver qual tecla está acionando.

    Outro ponto que pode ser negativo vem do lado de fora, no estepe fixado na traseira. Se, por um lado, marca o DNA esportivo e aventureiro do EcoSport (o engenheiro-chefe de desenvolvimento de produto, Milton Lubraico, garante sua presença na próxima geração do modelo), por outro segue servindo de chamariz para ladrões, já que seu mecanismo não sofreu qualquer modificação e segue sendo de fácil "acesso" para qualquer um, seja o dono ou não.

    De toda forma, o comportamento no asfalto continua sendo honesto. O EcoSport se mostra pronto a encarar o constante desafio de nossas vias urbanas, sem maltratar os ocupantes (e sua própria mecânica) em buracos e lombadas, nem deixar o motorista preocupado frente aos obstáculos que surgem a cada tempestade. Em trecho rodoviário, o fôlego é suficiente para trafegar dentro dos limites legais, e isso mesmo com o motor 1.6, de concepção mais antiga e que se mostra um pouco mais lento e barulhento, embora não deixe o motorista na mão (a Ford diz que a nova família Sigma só será usada nos "projetos globais" da marca, o que não é o caso do EcoSport).

    Assim, o 2.0 Duratec é mais indicado para quem faz questão do desempenho. Como já ocorria antes, porém, motoristas com o pé direito mais "pesado" vão enfrentar turbulência e sensação de flutuação da cabine já em velocidades em torno dos 100-110 km/h.

    O comportamento também é mantido em trajetos off-road, que, aliás, devem ser leves, mesmo que o motorista esteja a bordo de um EcoSport 4WD. Apesar de contar com características interessantes, como os ângulos de 28º (entrada) e 34º (saída), o jipinho sofre com ondulações mais acentuadas e prefere mais a terra batida e menos a lama pesada.

    Faltou apenas conferir se o consumo se manteve, mas não foi possível fazer uma correta medição ao longo do percurso, em virtude do rodízio de motoristas e de veículos. A fábrica, porém, fala em média combinada de 8,4/12,7 km/l (etanol/gasolina) para modelos com motor 1.6 (dados completos desta motorização e do 2.0 podem ser vistos na ficha técnica).

    *Viagem a convite da Ford do Brasil