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Arrancada do Audi S3 é para deixar todo mundo muito para trás

Claudio de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

22/02/2010 11h00

Não é por falta de produtos -- não mesmo -- que a Audi amarga a medalha de bronze na disputa com as compatriotas alemãs Mercedes-Benz e BMW pela liderança do segmento premium no mercado brasileiro. Basta dar uma olhada na seção "Testes e avaliações" aqui mesmo de UOL Carros: são 13 carros experimentados (fora o que será tema desta reportagem). Já no Blog da Redação falamos do RS6 e do TTS, automóveis tão especiais que ganharam textos mais impressionistas.

  • Murilo Góes/UOL

    Versão apimentada e agressiva do A3 Sportback, S3 tem preço inicial de R$ 208 mil

No amplo portfólio da Audi, que hoje conta com 25 opções (incluindo diferentes versões de um mesmo modelo), o S3 Sportback, encarnação apimentada do hatchback A3, corre o risco de parecer apenas mais uma sigla na faixa intermediária de preços da marca -- o que significa algo entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. Mas é provável que ele seja o carro mais interessante da Audi à venda no Brasil.

Um dos argumentos em favor dessa tese é o de que ele une o corpo relativamente pacífico do A3 à implacável alma esportiva do motor 2.0 TFSI (turbo, com injeção estratificada de combustível). Na prática, a depender de como usa seu pé direito, o dono de um S3 terá em mãos um carro "normal", desses para trabalhar e passear com a família, ou um bólido capaz de transformar os veículos do entorno em pontinhos no retrovisor.

O premiado propulsor do S3, de apenas 152 kg, gera eloquentes 256 cavalos de potência -- mas o principal ponto é seu torque, e a curva que este desenha em relação aos giros do motor: aproximadamente 33 kgfm, constantes entre 2.500 rpm e 5.000 rpm. Isso significa que o carro da Audi chega com menos esforço e mais suavidade aonde outros modelos não vão nem aos gritos. Por exemplo, seu zero a 100 km/h é cumprido em apenas 6 segundos, de acordo com as medições da própria Audi. Em nossas mãos, quando o sinal ficava verde, as velocidades-limite de 60 km/h ou 70 km/h das vias urbanas de São Paulo eram atingidas pelo S3 antes que a maioria dos demais carros sequer se movesse.

  • Murilo Góes/UOL

    Lanternas irregulares, saída de escape dupla e carroceria baixa: detalhes do S3

A força bruta do motor 2.0 turbinado poderia ser desperdiçada se não fosse a eficácia da transmissão automatizada S-tronic, capaz de realizar trocas com "buracos" de apenas 2 décimos de segundo. O sistema possui embreagem dupla, permitindo a preparação da marcha seguinte simultaneamente a cada engate. São seis velocidades, que também podem ser escolhidas manualmente -- na própria alavanca ou nas borboletas atrás do volante.

OS DETALHES DO AUDI S3

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    Interior em dois tons, com couro e alcantara, acabamento em aço e itens esportivos

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    Rodas de 18 polegadas expõem os enormes discos de freio; sistema ostenta o nome do modelo

  • Murilo Góes/UOL

    Motor 2.0 a gasolina com turbo e intercooler ajuda a grudar o motorista ao banco nas arrancadas

A tração integral e permanente quattro, marca registrada da Audi, se encarrega de manter o S3 sempre nos trilhos, mas não há o sistema Audi Drive Select, com ajustes nos parâmetros de direção, suspensão e propulsão. A experiência de dirigir o S3 mostra que a Audi buscou um acerto intermediário entre o conforto e a esportividade, ainda que generoso com as duas propostas. Quem vai a bordo do S3 não se sentirá moído mesmo ao transitar sobre asfalto ruim, mas não há concessões quanto à firmeza da suspensão. Outro ponto notável -- e "notável" é a palavra certa, acreditem -- é a direção, que consegue ser direta sem dureza, macia sem bobeira.

Rodamos cerca de 770 km com o S3, cravando velocidade média de 30 km/h (valor que inclui o anda-para urbano, pausas em congestionamentos e faróis, entre outros fatores). O consumo de gasolina, o único combustível aceito no motor, foi de 6,6 km/l.

O QUE ELE TEM
A veia agressiva do S3 é inflada por alguns detalhes internos, como volante de base achatada, pedaleira e pomo do câmbio metalizados, as já citadas borboletas e, ainda, bancos dianteiros que de certa forma emulam as peças tipo concha, de competição. Por fora, invocam o carro o defletor traseiro; a cromação aplicada à (sempre exuberante, para o bem e para o mal) grade frontal "audiana"; a carcaça dos retrovisores em alumínio; os filetes de LEDs que contornam a parte superior dos faróis; e as rodas de aro 18, pneus 225/40 e enormes discos de freio "transbordando" pelos cinco raios. Quem quiser aparecer pode optar pela cor azul do exemplar que testamos (veja nas fotos) e dirigir sempre com os LEDs acesos, mesmo durante o dia. Pelo menos nós (o autor e "seu" carro) nunca fomos tão apontados e comentados nas ruas.

Entre outros equipamentos de conforto e de segurança, o S3 conta também com teto solar panorâmico, ar-condicionado digital com duplo ajuste, volante multifuncional, regulagem elétrica dos bancos, computador de bordo, revestimento em couro alcantara, airbags frontais e laterais dianteiros, freios com ABS (antitravamento) e EBD (distribuição de força), controle de estabilidade (ESP), faróis de neblina, etc. É o que se espera para rechear um carro com o requinte mecânico e tecnológico do S3, por um preço inicial de R$ 208 mil.

Aliás, esse valor inclui o Launch Control, um sistema quase surreal que permite arrancar com força máxima (e "rebolando", sem o ESP) após segurar o S3 no freio e elevar o giro do motor. Não o testamos no modelo hatchback simplesmente porque não houve onde fazê-lo -- mas há uma descrição de seu funcionamento no post sobre o roadster TTS:

Sem qualquer tráfego, pude testar o Launch Control (que fica melhor traduzido como "controle de arrancada"): com o carro parado e o mecanismo acionado, tanto a tração quattro quanto o controle de estabilidade são momentaneamente desativados; a partir daí, é preciso carregar o pedal do freio e pisar no acelerador até os 3.000 giros. Com isso, toda a potência ficará disponível no exato momento em que o freio for liberado, sem qualquer atenuante. Ao soltar o freio, enquanto ainda observava o ponteiro do conta-giros, tive a sensação de que meu banco havia sido arremessado contra o ar, e só consegui pensar em controlar o volante da melhor maneira possível. Ao final da experiência, não pude conter o riso, mas logo ficaria triste -- o teste havia chegado ao fim e, agora, só me restaria conduzir o carro de volta ao ponto de partida e entregar a chave.

Faço minhas as derradeiras palavras do autor do texto. É sempre triste devolver carro bom à montadora -- e (quase sempre) é tristíssimo devolver modelos da Audi. No caso do S3, mereceria até lágrimas.