Mercado brasileiro de automóveis varia conforme o ritmo de lançamentos de cada segmento

Da Auto Press

  • Afonso Carlos/Carta Z Notícias

    Afonso Carlos/Carta Z Notícias

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O setor automotivo no Brasil vive de fases e modismos. Mesmo com 70% das vendas ainda concentradas no segmento de compactos, o mercado registra migrações interessantes entre os nichos, principalmente de hatches médios para cima. É nesta parte de cima do mercado que o consumidor escolhe mais e sempre busca novidades. Tanto que os ciclos de mercado só são movimentados por lançamentos. Ou seja, o mercado corre para onde os novos modelos aparecem.

“É o produto que chama o cliente. Ele, com certeza, se identifica com um segmento ou outro, mas o que atrai é o produto e os lançamentos dão gás para o segmento”, reconhece Fábio Moreira, analista de marketing da Renault.

Foi assim com o surgimento das minivans e monovolumes, no fim dos anos 1990. Eles assumiram um papel de veículo familiar e não só roubaram vendas das stations wagons (peruas) como também beliscaram os sedãs. As stations sobreviveram à base de reinvenções sobre a própria carroceria. Mas os sedãs médios recrudesceram. Se na década de 90 o nicho encolheu e o Vectra era a única referência, a partir de 2002 os sedãs começaram a roubar a cena. Novas gerações e lançamentos do Toyota Corolla, do próprio Vectra, Renault Mégane, Honda Civic, Peugeot 307, Citroën C4 Pallas, Nissan Sentra, Volkswagen Jetta, Ford Focus e Kia Cerato surgiram quase em sequência e, em 2009, representaram 8% de tudo vendido no país. “Esse nicho cresceu assustadoramente e hoje é ainda o que mais cresce no mercado. A todo momento é lançado um produto novo”, acredita Ary Jorge Ribeiro, diretor de vendas da Kia Motors.

Uma nova onda, contudo, já surge, segundo os especialistas. O segmento dos hatches médios começa a dar sinais de aquecimento. Na base, é claro, de lançamentos. Para concorrer com Focus C4, Hyundai i30 e Vectra GT, o segundo semestre do ano deve receber o Fiat Bravo, enquanto até o fim do ano deve aparecer o Peugeot 308. “Existe uma parcela de consumidores que troca de carroceria por ser novidade, sai de sedã para hatch, depois vai para perua, depois para SUV. Porém, tem uma parcela fixa que permanece em um determinado segmento ou carroceria”, pondera Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive.

Mesmo assim, alguns executivos ressaltam que a migração para hatches não é tão simples. Isso porque o mercado brasileiro, culturalmente, virou um aficionado por sedãs. Tanto que esse tipo de carroceria na Europa, por exemplo, é mais aplicado em médios-grandes para cima. Por aqui, até entre os compactos há uma proliferação de configurações três volumes e para este ano ainda devem surgir os médios Peugeot p308 sedã e o Renault Fluence. “Fenômenos como o i30 costumam desequilibrar e puxar um pouco para este tipo de segmento. Mas não diria que há uma reversão desse quadro. Nos países emergentes, o sedã é tido como o carro de representação, de crescimento, de estabilidade”, classifica Carlos Eugênio Dutra, diretor de produto e exportação da Fiat.

ACELERADAS

- A Renault pensou em lançar a configuração hatch do Mégane entre 2006 e 2007, mas depois desistiu pelo fraco movimento do segmento na época.
- O Peugeot 308 hatch vai chegar depois da derivação sedã. A marca francesa ainda quer aproveitar o aquecido mercado de sedãs médios.
- A Kia já estudou diversas vezes trazer o hatch compacto Rio para o Brasil, mas posterga pois o carro dificilmente terá preço competitivo no segmento dos compactos premium.
- O segmento de sedãs derivados de hatches compactos representou 22% do mercado geral de veículos em 2009. Nos anos 90, essa participação era de 15%
- Tudo levava a crer que as stations iriam morrer com a chegada dos monovolumes, mas elas continuam, apesar de poucas. No ano passado abocanharam 4% do mercado tota

Uma onda mais forte e unânime, todavia, é o de crossovers e SUVs. Os utilitários esportivos com vocação mais urbana devem começar a roubar fatias generosas dos mercados de sedãs médios. Para este ano são aguardados os lançamentos do Ford Kuga, das novas gerações do Kia Sorento e Sportage, do Hyundai ix35, além da derivação jipinho do C3 Picasso. Ano que vem ainda tem o Renault Duster. Um tipo de carroceria que empresta não só status ao consumidor, como também uma sensação de segurança. “Os crossovers são a bola da vez. É um estilo de carro que se diferencia e onde a pessoa se sente segura, por estar em uma posição mais elevada de dirigir”, diz Ruy Aguas, gerente de marketing de produto da Citroën.

EVOLUÇÃO

Apesar dos movimentos nos segmentos de carros médios, o panorama geral do mercado brasileiro deve ficar inalterado por um bom tempo. Ou seja, continuaremos como um país consumidor voraz de modelos compactos. Os modelos pequenos hoje representam mais de 70% de todos os automóveis e comerciais leves vendidos no país. Reflexo de um mercado que cresce, mas que ainda tem poder aquisitivo baixo. A lógica é simples: os novos consumidores vão primeiro para o compacto.

“Com o mercado crescendo começa a haver espaço para novos segmentos, mas não vejo uma mudança nessa configuração. Compactos continuarão tendo um peso absurdo nos próximos cinco, oito anos”, prevê Dutra, da Fiat.

O jeito é diversificar dentro do próprio segmento. Tanto que, no universo dos compactos, foram criados vários subsegmentos na base do marketing. Há os compactos de entrada, que brigam na faixa de preço mais baixa, os hatches, as minivans, as stations e os sedãs. No topo da cadeia estão os chamados compactos premium. E, recentemente, um subsegmento ganhou força com novos produtos: os compactos altinhos, oficialmente chamado de “high roof” e protagonizado por Volkswagen Fox, Renault Sandero e Chevrolet Agile. “A cobertura já é diversificada, mas quanto mais produtos, maior a procura por uma abordagem nova. Sempre se busca uma brecha, um posicionamento do produto do segmento”, analisa Moreira, analista da Renault. (por Fernando Miragaya)

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