Nissan Tiida Sedan seria forte, se apenas o interior contasse
É de praxe iniciar uma avaliação sobre os carros de passeio da Nissan à venda no Brasil relatando o esforço da fabricante em promover este ou aquele modelo, rotineiramente um mau vendedor, apesar das boas qualidades expressas em sua ficha técnica. Foi assim, por exemplo, quando o hatch Tiida passou a contar com motor flex (releia aqui); aconteceu de novo após a renovação de frente do médio mexicano em abril deste ano (veja veja aqui). Apenas a família Livina (monovolume para cinco ou sete passageiros e roupagem "civil" ou "aventureira") quebrou a escrita nos últimos tempos.
Pior para o Tiida Sedan, que há exatos dois meses tenta sobreviver à disputa que a própria marca definiu em comunicado: "disputará espaço com sedãs médios, como Chevrolet Astra Sedan e o Peugeot 307 Sedan e com sedãs compactos topo de linha, como Peugeot 207 Passion, VW Polo Sedan e Fiat Siena", além do Ford New Fiesta, que chegou logo depois, e do Honda City, líder do segmento compacto premium. Não passou de 500 unidades em sessenta dias (foram 457, divididas em 229 no mês de agosto e outras 221 em setembro), longe de todos os rivais, apesar de contar com preço interessante para sua única versão 1.8 MT, vendida a R$ 44.500 (mais R$ 1.000 pela pintura metálica), e agressiva campanha publicitária. Chega a vender menos que o Sentra.
O que o Tiida Sedan tem de tão ruim? Aparentemente, nada. No máximo, falta de carisma e de precisão em sua chegada -- chegar em momento oportuno ao mercado certo é fundamental atualmente. Apresentado durante o Salão do Automóvel de São Paulo de 2008, o sedã produzido em Aguascalientes, México, e vendido ao mercado norte-americano como Nissan Versa Sedan chegaria ao Brasil por meio da aliança entre a japonesa Nissan e a americana Dodge, uma das marcas da Chrysler. Ostentaria, por aqui, o bizarro nome de Trazo by Dodge, com pronúncia em português que só reforçaria o calibre das maldosas piadas: "traço". Não precisamos dizer como isso tudo soou de modo esdrúxulo à época, tanto que a parceria não vingou e o sedã ficou escondido, até agora. Com o crescimento do mercado de compactos premium, sobretudo para modelos de três volumes, surgiu a chance de ressuscitar a ideia, mas sem direito a um evento oficial de lançamento.
O conflito de personalidade permaneceu: classificado como "carrão" pela Nissan, o Tiida Sedan é um típico representante do segmento médio e mostra isso nos 467 litros de capacidade do porta-malas, no bom espaço oferecido a até cinco ocupantes e no capricho dedicado ao acabamento interno da cabine, que conta com ar-condicionado e sistema de som com rádio/CD Player e entrada USB/AUX-in, vidros dianteiros e traseiros com acionamento elétrico, retrovisores com regulagem elétrica, travamento central e automático das portas logo que o carro passa dos 12 km/h, câmbio manual de seis marchas bem escalonadas, entre outros itens. Ainda assim, se esforça para pertencer ao escalão inferior e chega a custar menos que o hatch do qual deriva ao deixar de fora ajustes como o de altura de bancos e cintos, sistemas de segurança como ABS e airbag, opção de câmbio automático e de cores de carroceria (você só pode escolher um exemplar preto, prata ou branco). Há ainda a questão estética do volume traseiro, com seu visual ultrapassado, que não se encaixa mais ao ideário contemporâneo do que é um belo conjunto (tanto que a Nissan prepara profundas mudanças para o futuro). A motorização é única e habitual: o bloco flex de 1,8 litro e 16 válvulas produz 125/126 cv a 5.200 rpm com gasolina/etanol e torque de 17,5 kgfm a 4.800 rpm.
Ousada propaganda e bom preço doTiida Sedan (acima) não impedem que o modelo mexicano venda menos até que o "citado" Chevrolet Astra, veterano no mercado
IMPRESSÕES AO DIRIGIR
UOL Carros conviveu com o Nissan Tiida Sedan por uma semana, período em que manteve o carro restrito ao conturbado ambiente urbano paulistano. Nada de rodovias, nada de vida fácil. E enterrado no congestionamento que liga, de modo extremamente lento e irracional, residência, locais de trabalho e centros de compra, o modelo mostrou ser mais do que aparenta.
Mesmo sem notar qualquer olhar cobiçoso sobre o carro de avaliação, em momento algum, temos certeza de que estávamos mais bem servidos que muitos: assim como o hatch, o sedã Tiida faz bom uso de seu conjunto mecânico para facilitar a vida do motorista. O interior espaçoso evita qualquer roçar indesejado de braços e joelhos, ainda que todos os ocupantes sejam de maior estatura. A boa dirigibilidade ganha pontos com o trabalho do câmbio, que dosa bem o fôlego do motor em quase todas as situações e, não raro, surpreende com um inesperado vigor em plena sexta marcha -- só a segunda marcha destoa, morosa demais. Trabalhando sem excessos, nem sobrecarga, o motor não invade o habitáculo com o ruídos excessivos e isso também melhora a vida a bordo. Boa acomodação e acesso também para cargas no porta-malas -- a tampa é extremamente leve, mas pode ser acionada do interior do habitáculo.
De negativo, além da ausência de ajustes e itens de segurança "limados" em busca da fórmula ideal de custo e benefício, apenas pontos que não são falhas, mas idiossincrasias do modelo: o espelho retrovisor amplia os objetos refletidos sem avisar, o controle dos retrovisores fica muito baixo e distante da mão e as luzes indicadoras de direção traseiras compartilham da cor vermelha das luzes de freio e de posição -- comum a outros modelos mexicanos (Ford Fusion e New Fiesta também as exibem), não são vistas pelo dono do veículo, mas confundem qualquer um que venha atrás. O consumo avaliado também foi ruim, abaixo dos 5 km/l, mas isso talvez venha do excesso de tráfego enfrentado, como prova a velocidade média de 25 km/h indicada pelo computador de bordo. Computador de bordo? Sim, este item também faz parte do ajeitado conjunto interno do Tiida Sedan.
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