Picape Hoggar Escapade anda como carro de passeio, mas deve conteúdo
Antes mesmo de iniciar o teste com a compacta Peugeot Hoggar (a pronúncia instituída pela marca é semifrancesa, "ogár"), ouvi o mesmo comentário de duas pessoas: "Você vai ver como a picape roda bem, até parece carro de passeio. Aliás, é melhor rodando vazia que carregada". Há quase um ano, em abril de 2010, a fabricante anunciava que seu lançamento se diferenciava do restante dos produtos existentes por aliar a mecânica do hatch 207 (plataforma dianteira) e do furgão Partner (traseira mais longa e suspensão robusta). A dúvida foi imediata: ela não seria melhor para carga?
Salvo exceções, usuários brasileiros de picapes derivadas de carros de passeio querem um veículo com comportamento que simbolize justamente essa mescla: visual e condução típicos de carro, com algum espaço extra para levar moto, bicicleta ou alguma bagagem no eventual passeio dos finais de semana. Nada de transportar tijolo, madeira ou carga pesada. Basta ver a lista de rivais da Hoggar, todas instaladas há mais tempo em nosso mercado (considerando o nome do modelo, desconsiderando atualizações), e suas características: Fiat Strada, Chevrolet Montana e Volkswagen Saveiro apostam no público jovem partidário do visual descolado, seja esportivado ou aventureiro; apenas a Ford Courier, considerada defasada por muitos, mantém uma linha mais sisuda e aptidão para o trabalho pesado.
Assim, a newcomer Peugeot resolveu entregar um modelo quase "em cima do muro", com jeito e condução dinâmicos, mas portador de caçamba e suspensão traseira reforçados (rodas independentes, barra estabilizadora, barra de torção transversal e amortecedor quase na horizontal), em três configurações: X-Line, quase sem itens de conforto e voltada para o uso comercial; XR, com jeito esportivo; e Escapade, a versão testada por UOL Carros, supostamente dotada de itens de conforto e visual aventureiro. A tentativa de agradar a todos ainda não se fez sentir, já que a Peugeot esperava assumir 10% do segmento (o Brasil consumiu 290 mil picapes em 2010, o que implica em 29 mil unidades que colocariam a Hoggar na cola da Montana), mas só vendeu pouco mais de 4 mil unidades e "segurou a lanterna".
HOGGAR ANDA COMO UM HATCH
Nosso teste confirmou: a Peugeot Hoggar se comporta mesmo com um carro de passeio na maior parte do tempo. E, às vezes, vai deixar muito dono de hatch popular com um quê de inveja. Sem carga, se mostra impressionantemente estável, mesmo em curvas bem fechadas, sem quicar como algumas outras picapes pequenas, nem perder a traseira a cada tomada de curva. Com alguma ocupação da caçamba, porém, o motorista vai perceber que o carro assentou um pouco mais que o desejado, mas nada que incomode demais após algum tempo de experiência.
O grande trunfo da Hoggar, a nosso ver, está no uso do motor de 1,6 litro e 113 cavalos de potência e torque de 15,5 kgfm (etanol/gasolina) para a versão Escapade (a análise, portanto, talvez não se aplique, embora possa até ser semelhante para as versões X-Line e XR, que utilizam motor de 1,4 litro), que proporciona desempenho mais do que suficiente para empurrar os 1.216 kg da picape e mais dois ocupantes (se estiver carregada com a carga útil total de 650 kg, porém, as coisas podem mudar de figura).
É TOP, MAS NÃO PARECE
Deixemos o visual polêmico da família 207 de lado -- gostos e opiniões ficam por conta de cada um (se quiser, retome o assunto exposto aqui). O principal deslize da Hoggar está na falta de cuidado com seus ocupantes: nem mesmo a versão Escapade tem itens condizentes com uma configuração "topo da gama". Quer ajustar a altura do banco para se ajeitar melhor ao conduzir? Esqueça. O volante só pode ser ajustado em altura, mas sem algum contorcionismo você nem encontrará a alavanca. Achou que o cinto de segurança está fora da posição? Pois ele vai continuar, já que também não há regulagem para isso. Em termos de segurança, a Hoggar Escapade traz airbag duplo de série, mas você não conseguirá equipá-la com freios antiblocantes (ABS) mesmo pagando mais.
Há ainda os contrassensos da Peugeot, como o (horrendo) posicionamento dos comandos elétricos de vidros e espelhos retrovisores ao lado do freio de estacionamento; ou a ausência de computador de bordo num carro que começa em R$ 43.500 pela tabela da fábrica (embora possa ser encontrado por R$ 41.800). Mas o maior constragimento virá no momento em que, na presença de amigos, você se lembrar de mostrar algo que está guardado atrás do assento do motorista, como o macaco e a chave-de-roda: ao rebater o encosto, se você não o segurar, o apoio de cabeça irá acionar a buzina, fatalmente. E a risadaria pode ser maior, já que ninguém ouvirá o som imediatamente, graças ao delay entre o apertar da almofada e a audição do ruído característico. Quer dar o troco? Fale que você consegue rodar mais (fizemos cerca de 8,5 quilômetros por litro de etanol) e melhor que a maioria deles. E encerre o assunto.
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