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Sistema híbrido alivia culpa de queimar o asfalto com um Porsche Cayenne S

<b>Porsche Cayenne S Hybrid é primeira tentativa "verde" da marca alemã</b> - Eduardo Bernasconi
<b>Porsche Cayenne S Hybrid é primeira tentativa "verde" da marca alemã</b> Imagem: Eduardo Bernasconi

Eduardo Bernasconi

Especial para UOL Carros<br>Na Flórida (EUA)

18/02/2011 20h27Atualizada em 15/08/2012 14h36

O utilitário esportivo Cayenne foi o modelo escolhido pela Porsche para ser o primeiro híbrido da marca. Não é para menos: desde o lançamento de sua primeira geração, em 2003, foram vendidas quase 300 mil unidades no mundo todo. Além disso, como se trata de um veículo grande e pesado -- são quase cinco metros de comprimento e mais de duas toneladas -- não seria problema colocar uma bateria de 288V sob o assoalho do seu porta-malas com capacidade para até 1.690 litros.

A nova versão "ecológica", apresentada em 2010, está à venda na Europa e nos Estados Unidos, mas ainda sem previsão de importação oficial para o Brasil. No Velho Continente ela custa 65.900 euros (cerca de R$ 150.250), exatos 5.000 euros mais que o Cayenne S somente a combustão. Sob o capô há um seis cilindros em V emprestado dos Audi S4 e S5 conversível que rende 333 cavalos e 44 kgfm de torque. Paralelo a ele há a unidade elétrica de 47 cavalos e 30 kgfm de torque a míseras 1.150 rpm.

DETALHES DO CAYENNE S HYBRID

  • Eduardo Bernasconi

    A identificação do Cayenne S como híbrido é feita apenas na área sobre a placa; duas saídas de escape denunciam o motor V6 a combustão

  • Interior do Cayenne S Hybrid traz o habitual requinte da marca Porsche, com revestimento em couro claro e insertos em madeira no painel

  • Como em outros carros híbridos de alto padrão, tela no painel oferece informações sobre o uso dos dois motores -- no caso, do "fluxo de energia híbrida"

Rodamos com essa nova versão pela Flórida, nos Estados Unidos, num carro cedido pela Porsche Latin America. Além de entrar num belo e confortável interior, inspirado no irmão maior, o Panamera, diferenciais básicos de se estar num Porsche chamam atenção: a começar pela chave, no formato de um mini-Panamera. Basta encaixá-la no lado esquerdo da coluna de direção (outra peculiaridade dos carros da marca alemã) e girá-la para o "seis bocas" funcionar. Em poucos segundos o motor elétrico também entra em ação. O conta-giros tem um escala curiosa: inicia em zero de rotação, passa por um curioso "Ready" ("pronto", em inglês), e então surge a escala em 1.000 rpm.

O ponteiro fica nesse Ready periodicamente, pois o sistema start/stop desliga e liga o motor a combustão sempre que necessário, e de maneira imperceptível. Parou num semáforo, ele desliga. Pisou no acelerador de volta, e os primeiros metros vão no elétrico, para depois acionar o V6 e a rotação começar a subir. Velocidades de cruzeiro em estradas também permitem que a unidade elétrica domine a cena e, no auge dos 140 km/h, você está simplesmente "velejando", de motor apagado.

Chique! "Velejando" nos três dígitos, sem queimar uma gota da gasolina com etanol dos EUA (com 10% de álcool)!

NÃO FALTA FOME
Apesar de toda essa serenidade, o Cayenne Hybrid é um S. Isso significa que ele tem apetite para uma tocada esportiva, caso o motorista assim deseje. A atitude começa ao pressionar o botão Sport, no belo console (também semelhante ao do Panamera). Ao pisar fundo nessa configuração híbrida, os dois motores estarão em ação juntos, ao mesmo tempo. Com isso, os 2.240 kg do carro (sem falar do peso dos ocupantes) chegarão aos 100 km/h em 6,5 segundos e poderão ir até 242 km/h.

O comportamento dinâmico no modo Sport une os motores e também faz a suspensão trabalhar de forma mais radical: reduz altura em relação ao solo e torna o funcionamento mais firme e rápido. Resumindo: contorna curvas como um carro, e não como um utilitário. Aliás, o Cayenne é um dos pouco utilitários pesados que têm um comportamento como esse. Não é para menos: trata-se de um Porsche S! As frenagens também têm pedigree graças aos discos nas quatro rodas, 360 mm de diâmetro na dianteira e 330 mm na traseira, e pinças com seis e quatro pistões, respectivamente.

Na versão avaliada, top de linha, as rodas aro 21" calçadas com pneus 295/35 também garantem esportividade. Apesar da tala 10" dessas rodas e do perfil reduzido, o conforto é elevado. Os bancos em couro perfurado onde há contato com o corpo (entenda como pernas e costas) impedem que os ocupantes transpirem. Já o volante com couro totalmente liso tem uma empunhadura perfeita e macia, com as borboletas metálicas para trocas de marchas bem atrás dele. 

São oito marchas no automático, sendo que as duas últimas são extremamente longas para reduzir a rotação nas velocidades de cruzeiro (ou de "velejar"). Imagine que aos 140 km/h citados, com o motor a combustão em funcionamento, o conta-giros aponta 1.300 rpm. Ou seja, está praticamente apagado. 

Um câmbio desses, mesmo que seja num veículo com tração integral nas quatro rodas, consegue ter alguma economia de combustível. Ainda mais se tratando de um híbrido, onde as questões são justamente gastar menos e reduzir emissões de gases.

A Porsche divulga que  o consumo médio do Cayenne S Hybrid é de 12 km/litro em trechos mistos cidade/estrada, porém mal chegamos aos 9 km/litro durante a avaliação. As experimentações de afundar o acelerador e aliviar para sentir o funcionamento de motor elétrico, depois de combustão, e vice-versa, despertava a curiosidade e impedia bons números de consumo. Na prática, percebe-se sutilmente a mudança entre um sistema e outro. Como estão acoplados e separados apenas por uma embreagem extra, é tudo muito quieto e eficiente.

ENERGIA EM MOVIMENTO
O motor/gerador capta energia de frenagens, por exemplo, para recarregar a bateria (não há necessidade de ligar o carro na tomada). A unidade central do potente sistema de som é também GPS e o indicador de carga: um desenho do esqueleto do carro aponta setas vindas das rodas em direção à bateria, indicando recarga ao aliviar o acelerador e ao acionar os freios. Já sob aceleração, as setas saem da bateria em direção às rodas, mostrando o uso da carga recém-adquirida.

Cabos "sarados" ligam a bateria ao cofre do motor e passam a corrente necessária para que tudo funcione perfeitamente. Segundo a fábrica, para manter o conjunto sempre em ordem é preciso cuidar dessas conexões e deixar a manutenção a cargo de revendas oficiais.

O segundo Porsche a receber o pacote híbrido é o Panamera, também sem previsão de vir ao Brasil. Aos consumidores dos países que já oferecem esses híbridos alemães com um toque esportivo, há um pouco de desencargo de consciência ao pisar fundo prejudicando menos o meio ambiente. Nada mau: rodar a quase 250 km/h, poluindo cada vez menos e se divertindo cada vez mais!
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Eduardo Bernasconi é diretor de redação da revista Fullpower