Topo

Em nome da família e do futuro, Ferrari quebra tradição com a FF

<b>Ferrari FF inaugura nova era para Maranello e também para os bólidos de performance</b> - Claudio de Souza/UOL
<b>Ferrari FF inaugura nova era para Maranello e também para os bólidos de performance</b> Imagem: Claudio de Souza/UOL

CLAUDIO DE SOUZA

Editor de UOL Carros<br>Enviado especial a Genebra (Suíça)

01/03/2011 18h58

A apresentação da Ferrari no primeiro dia de imprensa do Salão de Genebra, evento que neste ano chega à 81ª edição, foi um momento histórico para a indústria automotiva -- e não apenas pelos predicados técnicos do carro aqui lançado mundialmente, a FF, ou Ferrari Four.

Trata-se do primeiro bólido da grife italiana a usar tração nas quatro rodas, quebrando a tradição ferrarista de despejar a cavalaria no eixo traseiro e tornando o carro mais manejável por (ou mais seguro para) quem não tem aspirações a piloto.

O nome vem daí, mas ele também pode ser entendido como referência à capacidade de sua cabine: a FF leva até quatro pessoas confortavelmente (até no acesso, apesar das duas portas), e não apertadas como num 2+2 (caso da 612 Scaglietti, substituída pelo novo modelo). Mais que isso, leva pelo menos 450 litros de bagagem em seu porta-malas (800 litros com rebatimento), um número que supera hatchbacks e faz inveja a muito sedã que se diz "familiar". Por sinal, outra palavra que começa com "F".

O chefão da Ferrari, Luca di Montezemolo, conduziu a apresentação do modelo no auto show suíço. Reafirmou sua capacidade de devorar pistas com fome de superesportivo, cravando um 0 a 100 km/h em insanos 3,7 segundos e atingindo velocidade máxima de 335 km/h. Tudo isso graças a um mamutesco motor V12 de 6,2 litros, dianteiro (mas com contribuição aos 53% de peso no eixo traseiro) e longitudinal, movido a gasolina, capaz de gerar 660 cavalos de potência e torque de 68 kgfm.

Mas o mais interessante foi quando Montezemolo gastou seu inglês macarrônico para explicar a "usabilidade" da FF. Chegou a embananar-se, depois, na palavra "versatility", mesmo lendo no teleprompter.

Pode ter sido um ato falho. A Ferrari FF é, no fundo, uma admissão de que mesmo um superesportivo tem de ter, mais do que usabilidade, utilidade. Embora não estejam faltando compradores de modelos da grife italiana, os tempos estão mudando -- e ainda chegará o dia em que um sujeito sozinho a bordo de um cupê puro-sangue (de dois lugares, claro) será olhado pelos circunstantes não com inveja, mas com desprezo. Na FF ele pode ao menos colocar mais três pessoas a bordo (mulher e dois filhos, quem sabe) e dividir a eventual culpa por uma visita rápida ao campo de golfe.

Dentro da cabine, que numa das FF mostradas em Genebra trazia revestimento em couro azul, os quatro ocupantes vão bem acomodados em bancos esportivos ao mesmo tempo firmes e aconchegantes. Uma surpresa foi o generoso espaço para as cabeças de quem vai atrás, um item de ergonomia geralmente falho em cupês de quatro lugares -- se bem que há quem descreva o novo carro como um hatch ou mesmo uma perua.

A FF, de acordo com a fabricante, é capaz de rodar cerca de 6,5 km com um litro de gasolina. Mas seu ponto vulnerável é o nível de emissões, de 360 gramas de dióxido de carbono por km percorrido -- a substância colabora com o efeito estufa e com o aquecimento global. O preço especulado para a FF é de US$ 359 mil, ou pouco mais de R$ 610 mil (no Brasil o valor dispararia devido aos impostos). De acordo com a Ferrari, o plano é fabricar 200 FF por ano. Mas não é difícil imaginar que a demanda vai ser muito maior.