Tata apronta o Indica Vista elétrico para conquistar a Europa
A Tata Motors anda meio sumida do noticiário. Desde o advento do Nano e da compra da Jaguar Land Rover, somente alguns incêndios (meio suspeitos, aliás) em exemplares do "carro mais barato do mundo" chamaram atenção para a fabricante indiana. No entanto, muito discretamente ela pode estar gestando um dos lançamentos cruciais dos próximos anos.
DETALHES DO VISTA EV
O hatchback mais vendido da Tata tem um visual arredondado que lembra o do Citroën C3; a carroceria de 4 portas dá acesso a uma cabine com espaço bom para quatro adultos
Quadro de instrumentos do Indica Vista EV fica ao centro do painel, para que a direção possa ser deslocada conforme o país; à direita, indicador de carga da bateria, e à esquerda, o "econômetro"
Bateria de superpolímero de íon-lítio chegou a projetar uma autonomia de quase 260 km com uma carga, durante prova no Reino Unido; Tata não informa o tempo de recarga
No Salão de Genebra, mais precisamente numa área externa e enregelante do Palexpo, o pavilhão que abriga o evento suíço, algumas montadoras ofereciam test-drives com modelos elétricos ou híbridos. Estavam lá os suspeitos usuais, entre eles, Chevrolet Volt e Nissan Leaf. Mais modesto, quase encabulado e com espera mínima para ser dirigido pelos (poucos) jornalistas interessados, estava também o Indica Vista EV, versão 100% movida a eletricidade do modelo mais vendido da Tata.
Não havia funcionários indianos por ali -- apenas ingleses, vários deles ligados ao centro de tecnologia europeu que a Tata fundou há seis anos na Universidade de Warwick. Foi nesta cidade da ex-metrópole que começou a ser gestado o Vista EV -- cujo lançamento comercial no Reino Unido deve acontecer até o final deste ano. O governo britânico fez um substancial empréstimo de 10 milhões de libras para o custeio do projeto.
Animado por uma bateria de superpolímero de íon-lítio, o charmoso compacto -- que em sua atual geração lembra um pouco o Citroën C3, mas com lanterna traseira de Chevrolet Corsa -- foi totalmente pensado para uso urbano. De acordo com informações da Tata, sua autonomia média com carga total (de 26,5 kWh) é de 160 km. No entanto, numa prova de consumo realizada em 2010 entre as cidades de Brighton e Londres, o Vista EV fez bonito em meio a híbridos e elétricos de diversos fabricantes, projetando uma autonomia de 260 km ao esgotar a bateria. No entanto, não há dados oficiais disponíveis sobre o tempo necessário para a recarga.
No momento, o Vista EV está sendo testado na vida real por 25 motoristas do Reino Unido, selecionados entre candidatos que possuíam padrão de uso de veículos compatível com a proposta do modelo -- como dissemos, prioritariamente urbana ou para viagens curtas. Os relatórios desse usuários estão ajudando a Tata a dar formas finais ao carrinho antes de colocá-lo no mercado.
Na Europa, versões a combustão do Indica custam menos de 9 mil euros. O Vista EV será mais caro, mas abaixo dos 25 mil euros em que parecem começar os preços de todos os carros similares.
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
UOL Carros, provavelmente com total precedência na mídia brasileira, experimentou o Vista EV durante o salão suíço. E gostou muito.
Mesmo na unidade disponível no salão, certamente mais "crua" que as destinadas às lojas nos próximos meses, deu para notar o acabamento correto da cabine, com instrumentos (centralizados) e comandos restritos ao essencial -- a carga da bateria é indicada como num marcador de combustível comum, com ponteiro. O volante estava do lado direito, como é usual na Inglaterra e na própria Índia, mas tirando esse detalhe o interior do Vista e seu recheio de equipamentos (assento e volante reguláveis, vidros e trava elétricos, freios com ABS, airbag duplo, luzes de neblina e rodas 15") passariam pelos de um compacto premium no Brasil. O espaço é abundante para quatro adultos.
VÍDEO OFICIAL DO INDICA VISTA EV
Após a partida, o propulsor do Vista EV dá uma "pensadinha", representada por uma luz-espia no painel; quando ela apaga, basta engatar a única marcha adiante e pisar no acelerador. Como todos os carros elétricos, o indiano praticamente não faz ruído para rodar, exceto por um levíssimo zumbido. É preciso ter atenção redobrada com os pedestres, e nem hesitar quanto ao uso dos faróis em plena luz do dia.
O torque de 15 kgfm, adequado para um carro desse porte (pouco menor que um Vokswagen Gol), fica disponível desde a ignição -- o que torna bem divertido arrancar com o Vista EV. A aceleração é vigorosa e pode, segundo dados de fábrica, cravar um zero a 60 km/h em cerca de 9 segundos. A potência total do motor, de 55 kW, equivale a 73 cavalos de um motor a combustão.
Deve-se considerar que manter um carro elétrico em velocidades altas exige mais da bateria; talvez por isso a máxima anunciada pela Tata seja de 114 km/h -- verdade que esse é um número digno de Fusquinha velho, mas em ambiente urbano ninguém precisa (ou deveria) conduzir nem perto dessa velocidade. No entanto, o feedback dos 25 usuários britânicos talvez ajude a "soltar" mais o motor.
O volante do Vista EV não tem assistência, o que dificulta (só um pouquinho) alguns esterçamentos, mas em compensação garante uma interessante comunicação com as rodas -- isto é, ao menos no asfalto perfeito dos arredores do Palexpo. O acerto da suspensão é firme, mas não duro. O carrinho tem até hill holder, que o segura nas arrancadas feitas em aclives. O simpático técnico inglês que acompanhou UOL Carros no test-drive explicou-nos o funcionamento do sistema como se no Brasil guiássemos patinetes. E ainda acrescentou: "It's good for the ladies".
O Indica Vista elétrico parece quase pronto para fazer barulho no mercado automotivo. Mostrando que não rasga dinheiro, a Tata Motors optou por eletrificar um modelo previamente consagrado na Ásia, em vez de apostar numa versão plug-in do relativamente malsucedido e inconfiável Nano (a qual virá, um dia). Design agradável e autonomia (quase) decente ajudam nessa interessante aposta para a Europa dos próximos anos -- a própria Índia é um alvo secundário.
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