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Criado em 1901, Lohner-Porsche Mixte foi o primeiro carro híbrido da história

Acima, reprodução de imagem do híbrido Lohner-Porsche Semper Vivus original, de 1901 - Reprodução
Acima, reprodução de imagem do híbrido Lohner-Porsche Semper Vivus original, de 1901 Imagem: Reprodução

FERNANDO CALMON

Colunista de UOL Carros

20/05/2011 20h44Atualizada em 23/05/2011 10h24

A história dos automóveis está repleta de surpresas. A máquina que mudou o mundo completou 125 anos no último dia 29 de janeiro e acompanhar sua evolução é tarefa difícil para os pesquisadores. Muitas experiências e primazias anunciadas não entraram em produção por diversos motivos, desde o custo elevado até a inutilidade dos materiais conhecidos à época. Várias novidades nasceram nas pistas de competição. Anos ou mesmo décadas depois se viabilizariam para as linhas de montagem.

Um dos episódios marcantes dessa história remonta a 1900. O início da era do automóvel foi coberto de percalços. Apenas na última década do século 19 nasceu uma incipiente indústria automotiva. Três alternativas de propulsão surgiram: combustão, vapor e eletricidade.

Justamente aí aparece um dos grandes gênios do Século 20. Ferdinand Porsche, de família de língua alemã, nasceu na antiga Boêmia, parte da Áustria-Hungria, em 1875. Precisamente na cidade de Maffersdorf, hoje território da República Checa. Portanto, não era alemão, nem austríaco ou húngaro, mas sim checo.

Porsche focou interesse inicial na eletricidade e ainda jovem se associou ao austríaco Ludwig Lohner. A Feira Mundial de Paris, visitada por cinco milhões de pessoas em 1900, exibiu os grandes avanços do Lohner-Porsche. Suprimindo eixos, correntes de transmissão e câmbio, o carro era propulsionado por dois motores elétricos nos cubos das rodas dianteiras e, apesar de baterias pesadas, alcançava autonomia de 50 quilômetros. Uma versão de corridas do Lohner-Porsche possuía quatro motores nos cubos das rodas (primeiro automóvel 4x4) e freios também nas quatro rodas, duas primazias históricas.

Um ano antes, no Salão do Automóvel de Berlim, a empresa belga Pieper apresentou o que seria hoje considerado um híbrido em paralelo: motor elétrico central conectado por embreagem a um motor a combustão que movia as rodas por uma transmissão convencional. Porém, esse carro nunca chegou a funcionar de forma satisfatória.

  • Divulgação

    Acima, réplica do primeiro carro híbrido da história. Reconstrução foi baseada no projeto original do Semper Vivus e pesquisas do departamento de engenharia da Porsche e da fábrica alemã Karosseriebau Drescher. Exemplar foi exibido no Salão de Nova York há um mês

CEM ANOS DE SOLIDÃO
Porsche começou a desenvolver, no outono de 1900 -- há 111 anos --, o híbrido em série a fim de aumentar a autonomia de seu carro elétrico. No Salão do Automóvel de Paris, de 1901, mostrou o protótipo batizado de Semper Vivus (Sempre Vivo), ainda sem carroceria, do primeiro automóvel funcional desse tipo. O Semper Vivus tinha baterias menores para abrir espaço a dois pequenos motores a gasolina de 3,5 cv, acoplados a dois geradores de 2,5 cv. Esse conjunto era colocado no centro do chassi, entre os bancos dianteiro e traseiro. Os motores trabalhavam separadamente e o excesso de corrente, após passar pelos motores elétricos nos cubos dianteiros, era armazenado nas baterias.

No final de 1901, a versão definitiva -- Lohner-Porsche Mixte -- ficou pronta e cinco unidades foram vendidas. Já apresentava aspecto convencional: motor dianteiro de 25 cv e árvore de transmissão até o gerador sob o banco.

Incrível nesse relato é que a solução hibernou, esquecida por 97 anos, até a Toyota lançar o Prius no Japão, em 1997, primeiro híbrido fabricado em grande escala. Carros puramente elétricos tentaram lugar ao sol, mas fracassaram ou se tornaram aplicações de nicho. Apenas no ano passado, automóveis elétricos recomeçaram a trajetória, convivendo com híbridos.