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Bom de asfalto, Mitsubishi ASX com tração integral não nega DNA jipeiro

<b>ASX: com tração integral e a menos de R$ 100 mil, marca pontos para a Mitsubishi</b>  - Murilo Góes/UOL
<b>ASX: com tração integral e a menos de R$ 100 mil, marca pontos para a Mitsubishi</b> Imagem: Murilo Góes/UOL

Rodrigo Lara

Do UOL, em São Paulo (SP)

23/05/2011 10h53Atualizada em 23/05/2011 12h47

O que esperar de um carro que é vendido como um "4x4 urbano"? Formas compactas, agilidade e conforto são as primeiras características que vem à mente. Lembremos, contudo, que existe um 4x4 nessa fórmula -- e o modelo, inevitavelmente, incluirá alguma disposição off-road no pacote.

Essa poderia ser a síntese para a versão AWD do Mitsubishi ASX, cujo nome é a sigla para Active Smart X-over, sendo X-over uma maneira esperta de escrever crossover. Apresentado no Brasil durante o Salão do Automóvel de 2010, o modelo começou a ser vendido em novembro último, logo após o evento. Com ele, a aposta da Mitsubishi era brigar de frente com os dois principais representantes do segmento: Kia Sportage e Hyundai ix35. E também ser uma opção aos clientes que gostam do visual do Outlander (não seria exagero chamar o ASX de mini-Outlander), porém acham o veículo grande demais.

Delimitado o território, era hora de ver como o ASX se comportaria no mercado. O desempenho não foi animador em seus primeiros meses de vendas: o carro fechou 2010 com 332 unidades emplacadas, segundo a Fenabrave (associação dos revendedores de automóveis). Mas o crossover começou 2011 em alta. De fevereiro até o final de março, vendeu entre 700 e 800 veículos a cada mês. Em abril foram 840 unidades, número que deverá ser superado em maio.

Quanto aos concorrentes do ASX eleitos pela própria Mitsubishi, a alta nas vendas garantiu a ultrapassagem sobre o Sportage e o colocou na cola do ix35. Em números acumulados, até a primeira quinzena de maio, o Kia vendeu 2.024 unidades, o Mitsubishi, 3.404, e o Hyundai, 4.662.

O ASX é vendido no Brasil em em três versões, sendo que a 4x4 possui dois grupos de opcionais. Veja os preços:

ASX 4x2 Manual -- R$ 79.990
ASX 4x2 A/T -- R$ 86.900
ASX AWD -- R$ 96.990
(com teto solar, mais R$ 3.000; com teto e xênon, mais R$ 6.000)

Como dito no início deste texto, a proposta do ASX é reunir características de diferentes tipos de veículos. Um crossover por definição, enfim, ainda que esse termo seja nebuloso -- e, até certo ponto, genérico. O problema de ser uma verdadeira salada de propostas é justamente não ser realmente bom em nenhuma delas.

Deste mal o ASX não padece. A ideia é transportar cinco passageiros? O carro acomoda, com direito a cinto de três pontos no centro do banco traseiro. Precisa levar bagagem? Os 416 litros não são exatamente um latifúndio, mas dá para rebater os bancos em casos extremos. A estrada tem curvas? O ASX oferece uma ótima dirigibilidade e, com ajuda do controle de estabilidade, se mantém no rumo. Vai encarar um trecho de terra? Se quiser tranquilidade, a tração 4x4 mostra porque está lá. Se quiser diversão, desligue os controles eletrônicos e constate que o crossover compacto não nega fogo quando provocado, como pode ser visto abaixo nas belas fotos de Murilo Góes.

CARA DE BRAVO, ALMA GENTIL
O visual do ASX é equilibrado. Ainda que não tenha exageros, ele se mantém longe de mesmices. Na frente, a referência imediata é o Lancer Evolution X, graças aos faróis e ao grande trapézio que ocupa a grade do capô e a porção central do parachoques, dando um aspecto invocado ao carro. A linha de cintura alta é marcada por um vinco que sai dos paralamas dianteiros e segue até a ponta das lanternas traseiras. Estas adotam um formato oblongo, invadem tanto a tampa do porta-malas quanto a lateral do veículo, e contam com seções definidas para cada tipo de luz (freio, lanterna, ré e seta).

O interior do ASX acomoda bem os passageiros. A unidade avaliada por UOL Carros, uma 4x4 top de linha, contava com bancos de couro que apoiam bem o corpo nas curvas e são firmes, porém confortáveis. O acabamento do painel é simples, mas com materiais de boa qualidade e que transmitem a sensação de solidez. Os instrumentos são de fácil visualização e contam com uma tela central, que abriga as informações do computador de bordo.

Volante multifucional, partida por meio de um botão (a chave pode ficar no bolso do condutor), bancos dianteiros com aquecimento e regulagem elétrica e sistema de som que reproduz arquivos MP3, mas que peca por não ter uma entrada USB, além de teto solar panorâmico compõem os principais itens de conforto da unidade avaliada.

  • Murilo Góes/UOL

    Grade trapezoidal garante ar esportivo ao ASX

IMPRESSÕES AO DIRIGIR
Encontrar a melhor posição ao volante do ASX é tarefa fácil, não importa se você prefira uma posição de dirigir elevada (como num SUV) ou baixa (como numa station wagon). Com poucos ajustes no banco e na coluna de direção, o condutor se acomoda com conforto em seu posto. Dentro da cabine, os comandos podem ser alcançados com movimentos os braços. Ponto para a ergonomia.

No test-drive realizado por UOL Carros (exclusivo e inédito, já que a Mitsubishi não costuma ceder carros para testes) foi possível avaliar o ASX em diversas condições: no trânsito pesado, em rodovia asfaltada e na terra. Equipado com um motor 2 litros -- que bebe apenas gasolina e gera 160 cv de potência e torque de 20,1 kgfm -- e câmbio CVT (continuamente variável), o crossover não mostrou apetite de devorador de asfalto. Com a alavanca em D, fica claro que o compromisso da transmissão é com a economia e com o conforto. Isso se traduz no bom consumo apresentado pelo carro: o computador de bordo marcou por volta de 11 km/l em ciclo rodoviário. No ciclo misto, que incluiu trãnsito pesado e estradas de terra, a média ficou em 7 km/l. Se a transmissão não torna o ASX um veículo moroso, ela aparenta não aproveitar tão bem a força do motor quando o assunto é desempenho.

Essa sensação é parcialmente deixada de lado ao se usar o câmbio no modo sequencial. Nele, a caixa simula seis marchas com relações fixas, tornando o ASX um carro mais divertido de acelerar. As trocas podem ser feitas tanto pela alavanca de câmbio quanto por meio de hastes atrás do volante. E impressionam pela velocidade com que ocorrem, digna de transmissões de carros esportivos. O motorista também pode escolher entre três modos de tração: 4x2, 4x4 sob demanda e 4x4. Na primeira, a força do motor vai para as rodas dianteiras. Na segunda, o carro traciona as rodas traseiras de acordo com a necessidade. Na última, todas as rodas são tracionadas.

Encarar o trânsito pesado não é exatamente divertido. O ASX, entretanto, tenta aliviar um pouco essa tarefa incômoda demonstrando agilidade. Mas mantenha-se longe de buracos: ainda que filtre bem as irregularidades do asfalto, a suspensão possui calibragem firme. Ou seja, qualquer abuso se transforma em solavanco.

Deixando as filas de carros para trás, o ASX não decepciona na estrada. A cabine isola bem o som do motor, que, em velocidade de cruzeiro, se mantém girando baixo. O comportamento do carro em curvas também merece destaque. Em situações extremas, o controle de estabilidade e de tração cumpre o seu papel e garante que ele mantenha seu rumo. A tração 4x4 sob demanda e a suspensão firme também são responsáveis pelo bom desempenho do ASX nessa situação.

Na hora de encarar a terra, vale um aviso. Ter uma tração 4x4 não significa que o ASX possa escalar paredes ou encarar lamaçais mais radicais. Ainda que não seja um legítimo off-road, ele não decepciona na hora de encarar trilhas mais comportadas e estradas de terra. Como credenciais de suas capacidades, em nossa avaliação o ASX superou buracos, ladeiras e até subiu um barranco de quase três metros de altura -- respeitando o ângulo de entrada do veículo, logicamente.

Se a Mitsubishi queria fazer um carro completo a marca conseguiu isso com o ASX. Com bom desempenho na cidade, na estrada e na terra e características reais de veículos de categorias distintas, faz jus ao título de crossover e desponta como uma boa opção para quem quer um carro versátil com valor-base abaixo de R$ 100 mil.