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Segurança no trânsito depende de educação, carro novo e dedo do governo

Em um cenário que se aproxima do caos, é necessário envolvimento de todas as partes da sociedade para que os bons planos para aumentar a segurança viária se tornem reais - Guilherme Lara Campos/Fotoarena/Agência O Globo
Em um cenário que se aproxima do caos, é necessário envolvimento de todas as partes da sociedade para que os bons planos para aumentar a segurança viária se tornem reais Imagem: Guilherme Lara Campos/Fotoarena/Agência O Globo

FERNANDO CALMON

Colunista de UOL Carros

06/09/2011 19h22

O governo, por meio do Ministério das Cidades, pretende vencer o imobilismo e, de fato, integrar o Brasil nos esforços liderados pela Organização das Nações Unidas (ONU) que institui o período de 2011 a 2020 como a Década de Ações para Segurança Viária. A recomendação é para todos os 192 países-membros. Em seminário recente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), o plano foi apresentado com o habitual detalhamento excessivo, incluindo um comitê com 20 entidades, além de outras 32 convidadas.

Nada contra abrir o debate à sociedade, mas com tal leque de abrangência há grande risco de se perder o foco e muito pouco ser efetivamente implantado. A ideia do Observatório Nacional de Trânsito é boa. O problema, como sempre, está em passar do mero diagnóstico às medidas efetivas. Exemplo: mais uma vez vai se tentar implantar a educação para o trânsito nas escolas, a melhor maneira de criar uma geração consciente dos riscos envolvidos.

Também é bom ter metas. Na proposta pretende-se implantar a vital Inspeção Técnica Veicular (ITV) até 2013, vistoriar 100% dos veículos até 2016, iniciar um programa de renovação da frota de 2014 a 2020 e até criar um instituto de pesquisa sobre segurança veicular. Pelo histórico dessa verdadeira novela trata-se de um plano ambicioso. Se metade for cumprido, estaremos frente quase a um milagre.

No entanto, iniciar o processo de ITV -- importante para diminuição dos acidentes, congestionamentos e poluição do ar -- sem uma devida regulamentação de desmontagem e reciclagem dos veículos torna-se apenas meia solução. Essa é outra discussão que se arrasta há anos. Enquanto no Japão e nos EUA existem leis para reutilização e reciclagem de autopeças e, na Europa, os próprios fabricantes de veículos são responsáveis ao final de vida dos seus produtos, aqui até hoje falta uma lei específica para o setor automobilístico, bem mais complexo do que resíduos sólidos convencionais.

SOLUÇÕES SIMPLES
No seminário, a empresa Chris demonstrou como é possível ganhar até uma estrela nos testes de colisão contra barreira, apenas com a adoção de pretensionador e limitador de carga nos cintos de segurança. Dispensa mudança estrutural no veiculo, utiliza o mesmo módulo de controle do airbag (aumentando claramente sua eficiência) e tem custo baixo. Pretensionador, por falha da legislação, ainda não é exigido, porém deveria sê-lo.

A apresentação da ONG Criança Segura listou alguns dos desafios a vencer: dispositivos de retenção adaptáveis para cintos de dois pontos, utilizados em boa parte da frota, mais antiga; sistema isofix (prático e caro); cintos de três pontos na posição central do banco traseiro, localização de maior segurança para banco infantil e assento de elevação; além de regulamentação do transporte escolar e em táxis.

O Plano Nacional de Redução de Acidentes e Segurança Viária 2011-2020 está previsto de ser apresentado na Semana Nacional do Trânsito, ainda em setembro. Se vai extensamente sair do papel, ninguém pode assegurar. Pior seria deixar tudo como está com ações descoordenadas, entraves políticos e pouca vontade de atacar os problemas.

Siga o colunista: www.twitter.com/fernandocalmon
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RECORDE DE VENDAS
Mês passado foi o melhor agosto da história com 313.000 veículos vendidos, segundo a Fenabrave. Apesar de apontar aumento nos estoques nas concessionárias, manteve a previsão de crescimento de 6,4% ao final de 2011. Estatística da entidade mostra que, excluindo Mercosul e México com os quais o Brasil tem acordo comercial, os maiores volumes de importação são da Coreia do Sul e China.

PEQUENO ALEMÃO
Audi A1, modelo de entrada da marca alemã, mantém a tradição de bom acabamento, estilo marcante e alto nível de equipamentos. O hatch de duas portas impressiona pelo motor de 122 cv, brilhante desde baixas rotações, e ainda pelo câmbio robotizado de sete marchas, de dupla embreagem. Direção responde de forma direta e precisa. Espaço atrás, limitado.

NOVA AVENTUREIRA
Station que segue a moda aventureira sem exagerar. É o caso da VW Space Cross (R$ 57.990,00) que dispensou o estepe na tampa do porta-malas e apliques de plástico em demasia ou rebuscados. Suspensão elevada em cerca de 3 cm não compromete a dirigibilidade graças a pneus e bitolas mais largos. Motor de 1,6 litro/104 cv é inferior ao de concorrentes diretos.

RIO AQUI
Conforme antecipado pela coluna, a Kia completará sua linha com o compacto Rio. No entanto, o lançamento foi adiado para 2012. O modelo dispõe de motor de 1,4 litro e o Grupo Gandini, representante da marca sul-coreana, preferiu esperar até a versão flex ficar pronta. Será a terceira oferta, depois dos motores de 1 litro e 1,6 litro já desenvolvidos.

MEMÓRIA SOBRE RODAS
Ministério da Cultura aprovou projeto de um livro sobre os modelos fora de série já construídos no Brasil. Editado pela Alaúde, terá 260 páginas e envolveu quatro anos de pesquisas do engenheiro José Fonseca e do jornalista Fabiano de Souza. Objetivo é registrar a memória do estilo brasileiro com fotos, ilustrações e dados históricos.