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Mitsubishi Lancer sedã é opção ousada aos grisalhos Corolla e Civic

Pense no esportivo Lancer Evolution X sem o excesso de testosterona -- esse é o Lancer sedã - Murilo Góes/UOL
Pense no esportivo Lancer Evolution X sem o excesso de testosterona -- esse é o Lancer sedã Imagem: Murilo Góes/UOL

Eugênio Augusto Brito

Do UOL, em São Paulo (SP)

27/10/2011 14h25

Há um ano, a Mitsubishi resolveu trazer de volta ao Brasil (por importação) um de seus modelos mais icônicos, o Lancer Evolution X, esportivo que mostramos em detalhes quatro meses atrás (releia o texto e veja novamente a vídeo-avaliação aqui). Arisco e caro (quase R$ 210 mil), é um carro para poucos. Mas e se o "atleta" da marca japonesa vestisse terno e gravata, controlasse o ímpeto quase ignorante e passasse a disputar espaço com os bem-sucedidos, mas já grisalhos e flácidos, Toyota Corolla e Honda Civic? Essa é a ideia do Lancer sedã, integrante da família que desembarca no país agora em novembro vindo também do Japão. E, melhor, com preço inicial abaixo dos R$ 70 mil.

Sportback Ralliart é opção intermediária

  • Murilo Góes/UOL

    Quando se pensa na família Lancer, a primeira associação feita é com a rivalidade mantida com o conterrâneo Subaru Impreza, que tem versões capazes de dominar curvas como o Evo X (alguns dirão que até com mais primazia) e também opção hatch.

    Até então indisponível no Brasil, o Lancer Sportback é a resposta da Mitsubishi ao dois-volumes da Subaru. Importado em sua versão topo de linha, a Ralliart, ele tem uma pegadinha estrutural, porém: embora pareça um hatch à primeira vista, é na verdade um fastback, a exemplo do Passat brasileiro da década de 1980.

    Em termos mecânicos e tecnológicos, está a meio caminho entre o Lancer sedã e o Evo X. As importações começam agora em novembro, junto com o sedã, com preço de R$ 149.990 (com mais R$ 3.500 pelo teto solar opcional). UOL Carros voltará a falar dele, com detalhes, em breve.

Primeiro, vamos esclarecer: o Lancer Evolution (esportivo) também é um três-volumes e é dele que o novo modelo ("urbano e feito para o uso diário", nas palavras da fabricante) deriva. Numa jogada de marketing, a Mitsubishi resolveu tratar o novo carro pelo apelido Lancer sedã, que deve pegar entre concessionários e compradores, para deixar bem claro em qual faixa do mercado ele competirá. Na verdade, os nomes e valores a serem cobrados são os seguintes:

- Lancer 2.0 M/T: R$ 67.990
Traz de série o pacote fundamental para a categoria, com algumas restrições: rodas de liga-leve aro 18 de oito raios (215/45), ponteiras de escape e pedaleiras cromadas, direção hidráulica, ar condicionado automático, mas de controle analógico (a temperatura é escolhida num botão giratório), volante com ajuste de altura (mas não de profundidade) e comandos dos sistema multimídia e do controle de cruzeiro, computador de bordo com visor digital e colorido, acionamento automático dos faróis e dos limpadores de para-brisa, entre outros. 

Lancer 2.0 CVT: R$ 73.990
Acrescenta revestimento de couro para volante e manopla de câmbio.

- Lancer 2.0 GT: R$ 85.990
Com visual externo mais arrojado, traz ainda detalhes cromados na moldura da grade frontal e dos vidros laterais, rodas de dez raios, saias laterais, central multimídia com Bluetooth e GPS e teto solar.

- Lancer 2.0 GT com opcionais: R$ 89.990
É complementada com faróis de xênon e retrovisor eletrocrômico.

Para situá-lo num segmento extremamente competitivo, a Mitsubishi divulga ainda o valor de extras fundamentais como seguro por corretora própria a R$ 2.380 (para o perfil de homem casado, mais de 35 anos e morador de São Paulo, capital), ou o preço fixo para revisões, que começam a R$ 325 aos 10 mil quilômetros e terão, no final do ciclo de vida do carro, custado um total de R$ 3.710.

O QUE MAIS ELE TEM
Inspirado num esportivo de altíssima performance, o Lancer sedã faz um segmento dominado por modelos de linhas conservadoras, que pouco se renovam ao longo de anos e gerações, tremer. Basta acompanhar a sequência de fotos de Murilo Góes, abaixo, para entender: 

Mecanicamente, o três-volumes japonês também se vale do DNA privilegiado para impressionar. De cara, basta citar a potência nominal para esbugalhar os olhos do interlocutor: são 160 cavalos a 6.000 rpm produzidos pelo motor de 2 litros a gasolina, 16 válvulas, com bloco e cabeçotes de alumínio (só para lembrar, o mesmo motor com turbo e outros acertos gera 295 cavalos no Lancer esportivo). O torque é ainda mais impressionante: com 20,1 kgfm a 4.200 giros, o Lancer superior empurra mais que o Civic Si (o mais potente esportivo nacional tem pouco mais de 19 kgfm).

O câmbio é manual na versão de entrada, com cinco marchas. Nas versões mais caras, incluindo a GT, a transmissão é do tipo CVT (polia de variação infinita), que tem programação para emular seis marchas quando utilizado no modo manual, permitindo trocas sequenciais feitas na alavanca ou nos paddle-shifters instalados na coluna de direção, que são gigantes e feitos de magnésio.

A suspensão é do tipo McPherson com barra estabilizadora nas rodas dianteiras e do tipo Multilink, também com barra estabilizadora, nas traseiras. Com 4,57 metros de comprimento, 1,76 m de largura e espaço entre-eixos de 2,63 m, oferece porta-malas tem 413 litros.

A segurança fica a cargo de freios com ABS (antiblocante com quatro canais e quatro sensores, um para cada roda) e EBD (distribuição eletrônica da carga de frenagem), BAS (que aumenta a força da frenagem em situações de pânico), airbag duplo frontal (complementado por airbags laterais de cortina e de cabeça e airbag de joelho para o motorista na versão GT) e reforço estrutural da carroceria (chamado de Rise pela fabricante), outra herança do Lancer Evo.

NA BATALHA
Embora tenha predicados e até preço para avançar sobre os demais concorrentes, a Mitsubishi preferiu adotar uma estratégia inicial extremamente cautelosa. Tímidas 500 unidades serão importadas por mês, ao menos num primeiro momento.

Esta cota inicial é até risível perto do que vendem os líderes -- o modelo da Toyota entrega entre 3.500 e 5.000 unidades por mês (até este momento do ano, já são quase 40 mil carros vendidos); o da Honda, emplaca ao menos 2.500 exemplares. Assim, mesmo esgotando nas lojas, o Lancer ficará bem (mas bem mesmo) atrás de outros bons competidores como Kia Cerato, Renault Fluence, Nissan Sentra e Volkswagen Jetta (de 1.500 a 2.000 unidades/mês) e até mesmo dos incompreendidos (por falhas próprias) Fiat Linea e Ford Focus (média de 900 unidades mensais) e do premium Mercedes-Benz Classe C (700 ao mês).  

Segundo um representante da marca japonesa, se tudo correr bem, a cota brasileira pode ser aumentada. Mas as coisas devem esquentar, mesmo, em algum momento a partir do ano que vem ou de 2013 (apostamos mais neste segundo prazo), já que a Mitsubishi adiantou a UOL Carros que o Lancer sedã está na lista de modelos que serão nacionalizados (o primeiro será o crossover ASX) com direito a motor flex.

  • Murilo Góes/UOL

    Na rotina urbana, este dado nem seria tão útil: 0-100 km/h é feito em 9,8 segundos; já o consumo, bem-vindo, é estimado em 9,2 km/l na cidade e 12,4 na estrada

E COMO ANDA O LANCER?
UOL Carros testou, em primeira mão na internet brasileira, a versão topo de linha do Lancer sedã, a 2.0 GT com todos os equipamentos por cerca de 200 quilômetros entre rodovias na Grande São Paulo e uma pista de teste no interior do Estado. A primeira impressão é avassaladora.

O visual mal-encarado e o perfil dinâmico do Lancer (com sua grade do tipo nariz de tubarão, rodas grandes, linhas laterias ascendentes e traseira curta, mas bem definida), idênticos ao da versão esportiva, mexem com quem está acostumado à mesmice do segmento (infelizmente, a maioria). Faz bem ver um sedã sair do lugar comum: longe da receita trivial mostrada pelo líder Toyota Corolla e copiada por muitos, o Lancer impressiona muito mais que o Civic (vale lembrar que este vai chegar mais conservador na próxima geração, que estreia em breve por aqui) e até que o Jetta, atual paradigma em termos de renovação visual neste nicho.

Quem gostar do estilo, vai sentir-se satisfeito também ao acelerar o Lancer. Ele não é excessivamente agressivo como o Evolution (ou mesmo como o intermediário Sportback), mas também não é pacato como o recém-chagado Chevrolet Cruze, por exemplo. E talvez esta seja a grande virtude do Lancer. A um comando do pé direito, o motorista não terá sua cabeça arremessada contra o encosto do banco, mas ainda assim será capaz de saltar à frente em saídas de semáforo, retomadas e ultrapassagens. O torque generoso é pleno por volta de 4.000 rpm, mas boa parte de sua força se faz presente desde 2.700 rotações, fazendo com que o motor gire sempre manso, mas com gana.

E graças ao regime "infinito" do câmbio CVT, isso não vai soar barulhento. Aliás, o Lancer sedã anda quase sempre sem se fazer notar para os ocupantes da cabine e, neste quesito, dá uma aula a alguns rivais, sobretudo ao novo modelo da GM. Este jeito de ser pode refletir também em economia de combustível, mas não pudemos avaliar esta característica. A fábrica afirma que o Lancer sedã faz pouco mais de 9 km/litro de gasolina na cidade, subindo para quase 13 na estrada.

Claro, há tropeços, também herdados da versão esportiva Evolution. Num carro de performance, qualquer firula pode e até deve ser dispensável. Invertendo o raciocínio, um modelo tipicamente urbano precisa de todos os mimos disponíveis. Assim, faz falta um acabamento mais refinado aos painéis internos, todos de plástico rígido, embora de boa qualidade. O acolhimento de bancos também não é o melhor, embora o Lancer GT conte com revestimento de couro; à frente, o problema está na regulagem, que tem de ser feita "no braço", bem como na ausência de três ou quatro dedos a mais na medida do assento, algo que faria bem ao posicionamento do motorista; atrás, o pecado vem da moleza do assento, da curvatura do teto, que vai incomodar quem tem mais de 1,80 m de altura e do túnel central, que impede um quinto passageiro de repousar os pés no assoalho.

No cômputo geral, o Lancer é uma grata surpresa e nos faz aguardar pelo momento em que começará a ser fabricado (ou ao menos montado) por aqui. A partir de então, terá mais que o rugido do motor ou a cara de mau para afugentar os rivais molengas.