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Compass, de futuro incerto, é porta de entrada para a Jeep no Brasil

Compass: carro lembra Grand Cherokee encolhido e é aposta da Jeep por <b>R$ 99.900</b> - Divulgação
Compass: carro lembra Grand Cherokee encolhido e é aposta da Jeep por <b>R$ 99.900</b> Imagem: Divulgação

Claudio Luis de Souza

Do UOL, em Barueri (SP)

28/02/2012 19h14

A Jeep lança esta semana no Brasil o Compass, utilitário esportivo com tração 4x2, vocação urbana e preço para ser a porta de entrada da marca para o consumidor brasileiro: a versão única custa R$ 99.900 (valor conhecido, mais honestamente, como R$ 100 mil).

O visual do Compass é uma espécie de miniaturização do Grand Cherokee, que na versão mais barata já é R$ 55 mil mais caro que o novo SUV. O conjunto óptico e a grade frontal com sete vãos são, a rigor, os mesmos nos dois carros.

O IRMÃO MAIOR

  • Divulgação

    Grand Cherokee, inspiração do Compass, é quase meio metro maior e R$ 55 mil mais caro

Lançado em 2007 e renovado em 2011, quando ganhou as linhas que o deixaram com cara de irmãozinho do Grand Cherokee, o Compass experimenta vendas mornas nos Estados Unidos, embora no ano passado os números tenham sido os melhores de sua história (47.709 unidades, ante 39.491 em 2007).

O principal problema do Compass é que ele pode estar a caminho do patíbulo, condenado pela Fiat -- nova controladora de Chrysler e suas marcas -- a ser substituído por um novo utilitário com habilidades off-road, que usaria a plataforma do Dodge Dart e mataria também o Jeep Patriot. Tais informações saíram da insuspeita boca de Sergio Marchionne, chefão da aliança Fiat-Chrysler, e não constituem um bom prognóstico para o futuro do Compass.

De acordo com a assessoria da Jeep, a expectativa é que sejam emplacadas, até o final do ano, cerca de 2.000 unidades do Compass no Brasil. Seus alvos são SUVs e crossovers de porte compacto-médio, como Hyundai ix35 e Mitsubishi ASX. Vale lembrar que a plataforma atual do modelo da Jeep é a mesma usada no carro japonês -- e também nos "gêmeos franceses" Citroën C4 Aircross e Peugeot 4008.

CACIFE
Além da pose de Cherokeezeenho, a principal cartada do Compass no jogo do mercado brasileiro é oferecer um suculento recheio de equipamentos, que à primeira vista disfarçam algumas lacunas bobas.

O carro traz de série, para a segurança: seis airbags; freios a disco com ABS (antitravamento), EBD e BAS (distribuição de força e auxílio em frenagem de urgência); controles eletrônicos de estabilidade, tração e anticapotamento; apoios de cabeça dianteiros ativos; e monitor de pressão dos pneus. Uma lista pouco usual no Brasil, mas que não evitou medíocres duas estrelas no teste de segurança do Euro NCAP.

Em conforto e estilo, oferece: teto solar elétrico; volante revestido em couro com multicomandos;  cruise control; ar-condicionado com regulagem automática; ajuste de altura no banco do motorista e no volante (neste, falta o de profundidade); sistema de som com conectividade auxiliar e USB, além de Bluetooth e comando por voz; racks no teto; e rodas esportivas de 17 polegadas.

É um pacotão respeitável, mas faz muita falta um sensor de estacionamento traseiro (item com custo desprezível, diga-se), e também seriam bem-vindos a opção de revestimento de couro para os bancos e um sistema de navegação por GPS.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Se o exterior do Compass não causa maior impacto, talvez por ser uma espécie de miniatura de um carro já conhecido (são 4,45 metros de comprimento, ante 4,82 metros do Grand Cherokee) e que também não prima pelo vanguardismo de design, por dentro ele agrada com uma cabine sóbria, de peças e comandos elegantes (especialmente os mostradores digitais, com certo toque retrô) e a cor preta dominando o ambiente. O acabamento interno, por sinal, é mais caprichado que o externo -- basta reparar no interior das caixas de roda, que têm parafusos aparentes.

A posição de dirigir é boa, ressalvando o pedal do freio muito à esquerda, quase onde estaria a embragem se o câmbio fosse manual. Além do motorista, mais três adultos de estatura normal viajam muito bem no Compass, beneficiados pelo total aproveitamento do entre-eixos de 2,63 metros. No entanto, se o banco traseiro receber um terceiro passageiro, este não terá cinto de segurança de três pontos (mas há apoio de cabeça) e viajará com o apoio de braço dianteiro quase entre seus joelhos.

UOL Carros dirigiu o Compass num test-drive na calorenta tarde desta terça-feira (28), em trechos urbanos e rodoviários nos arredores de Alphaville, na Grande São Paulo.

São elogiáveis no Compass o silêncio a bordo; a solicitude da direção, que tem acerto direto e transmite as ordens do motorista às rodas de modo quase imediato; e a suspensão independente nas quatro rodas, herdada da variação 4x4 do modelo vendida no exterior -- a configuração é MacPherson à frente e multibraços na traseira. O afinamento do sistema garante a rodagem suave que se espera de um SUV voltado para o uso urbano, mas sem sustos nas curvas.

No entanto, o trem de força decepcionou. O motor a gasolina de 2 litros, quatro cilindros e 16 válvulas, feito em alumínio, entrega números normais para uma unidade aspirada de seu porte: são 156 cavalos de potência e 19,4 kgfm de torque, ambos em rotações relativamente elevadas (6.300 rpm e 5.100 rpm). Dá para empurrar com dignidade um SUV de cerca de 1.400 kg?

Daria, sem dúvida, não fosse o mau casamento com um câmbio automático do tipo CVT (continuamente variável, também descrito como de marchas "infinitas"). Embalado, no plano e em velocidade constante, o Compass vai bem. No entanto, ao negociar aclives (mesmo suaves) ou solicitações de retomada (como em ultrapassagens), o conjunto se mostra apático, sem pegada, indigno de um carro que em tudo mais é tão correto.

O sistema Autostick do câmbio permite que sejam feitas trocas sequenciais, nas quais são criadas seis marchas virtuais -- e motoristas de sangue quente certamente vão preferir o gerenciamento manual, deslocando a alavanca para os lados. Mesmo assim, o Compass é decepcionante para quem gosta de dirigir. Um câmbio mecânico de cinco marchas resolveria o problema, mas qual mãe-urbana-de-dois-filhos-que-fazem-inglês-e-natação vai querer trocar marchas em seu SUV importado dos Estados Unidos?

Outro preço dessa incongruência entre motor e câmbio é pago no consumo de combustível mais elevado. Embora a Jeep afirme que o sistema é econômico, a ponto de obter uma média urbano/rodoviária de 13,2 km/litro, o melhor que conseguimos foi 7,4 km/litro. Ainda que descontemos o tráfego intenso encontrado no test-drive, é um valor pior que os 9,8 km/litro anunciados como consumo urbano do Compass.

Jeep Compass consegue só 2 estrelas em teste de segurança na Europa

  • Para o Euro NCAP, o Compass ganhou pontos por contar com equipamentos como o controle de estabilidade e tração, mas falhou:

    1. Em proteger tronco, joelho e pés do motorista;

    2. Na proteção dos ocupantes em impactos laterais, mesmo com airbag de tórax (lateral);

    3. Ao fornecer risco a crianças instaladas em cadeirinhas no banco do passageiro, uma vez que o airbag frontal direito não pode ser desativado;

    4. Ao trazer grandes riscos a pedestres por conta do capô elevado;

    5. Por fim, com falhas nas lâmpadas de avisos sobre cinto de segurança desafivelado para motorista e passageiro, algo que parece bobo para muitos, mas que é considerada falta grave no teste de segurança europeu.

Viagem a convite da Jeep do Brasil