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Mitsubishi ASX vira nacional para "urbanizar" a marca

Claudio Luís de Souza

Do UOL, em Catalão (GO)

02/07/2013 07h00Atualizada em 26/09/2016 13h23

Na aparência, a Mitsubishi do Brasil vive de TR4, Pajero e L200, modelos que defendem o DNA off-road e 4x4 da marca japonesa. Mas sua essência começa a se transformar. O comprador de carros mais caros está nas grandes cidades e quer modelos bons de guiar no pesado trânsito urbano, e não na eventual estradinha de terra do final de semana. Traduzindo: quer crossovers e sedãs.

Por isso, o grupo licenciado pela marca no país (Souza Ramos, o mesmo da Suzuki) decidiu nacionalizar a produção do ASX, que desde 2010 era importado do Japão. É um passo crucial para enquadrá-lo no regime Inovar-Auto, que exige aumento no índice de nacionalização dos carros vendidos no Brasil. E, claro, o jipinho urbano de porte médio até tem opção de tração integral, mas sua verdadeira vocação é o asfalto.

Confirmando a "urbanização" da Mitsubishi, o próximo modelo a ser nacionalizado na fábrica de Catalão (GO) é o sedã médio Lancer, cuja versão GT, rival de Honda Civic e Toyota Corolla, vem obtendo bons resultados nas lojas (2.772 unidades no acumulado até maio, à frente do Peugeot 408), mesmo sem grande alarde publicitário.

A ampliação da unidade goiana da Mitsubishi é resultado de um investimento de cerca de R$ 1,1 bilhão. Em 1998, a marca vendeu 9.300 carros no Brasil; em 2012 foram 60,6 mil. A meta é chegar a uma capacidade de produção de cerca de 100 mil carros/ano. Numa recente visita à unidade, UOL Carros encontrou uma linha de montagem vagarosa, com baixo índice de automatização (até mesmo a soldagem de pontos da carroceria é feita sem ajuda de robôs). Por isso, não é exagero dizer que, por um bom tempo, os ASX que saírem de Catalão terão sido feitos quase artesanalmente.

O que, diga-se, não é uma crítica: o trabalho na fábrica é meticuloso e todos os carros que vão para as lojas, sem exceção, passam por testes de qualidade específicos.

QUE CARRO É ESSE
ASX é a sigla para "Active Smart Crossover", nome que nem precisa ser traduzido para que se perceba sua vacuidade (vale notar, apenas, que a letra X, em inglês, pode significar "cross"). Por trás dessas letras está um carro de passeio com características de SUV, já alinhado com o Japão e os Estados Unidos no visual (houve facelift para 2013) e bastante recheado para encarar uma gama de rivais que inclui Hyundai ix35, Kia Sportage, Honda CR-V e Chevrolet Captiva.

As versões e preços são as seguintes:

ASX 4x2 Manual -- R$ 83.490
ASX 4x2 CVT -- R$ 89.490
ASX AWD CVT -- R$ 99.990
ASX AWD CVT + teto e xênon -- R$ 105.990

A fabricante acredita que as versões AWD responderão por 50% dos emplacamentos; a outra metade ficaria com os ASX de tração dianteira (45% o CVT, apenas 5% o manual). Ou seja, a Mitsubishi aposta num comprador de conta bancária mais recheada, capaz de gastar R$ 100 mil  para ter um carro exatamente a seu gosto. Segundo a marca, em 2012 foram emplacadas 11.010 unidades do ASX; com a virada na produção, este ano as vendas devem andar de lado, chegando a 11.200, mas em 2014 já saltariam para 15,6 mil.

  • O ASX até serve para isso, mas sua vocação é urbana; tração integral ajuda na chuva

A nacionalização do crossover não melhorou seu preço de modo significativo: como apontou o site Carpress, a versão de entrada ficou apenas R$ 1.000 mais em conta. A Mitsubishi afirma que o ASX importado já vinha sendo vendido com preços subsidiados desde a elevação do IPI, determinada pelo regime automotivo Inovar-Auto para carros oriundos de fora do Mercosul. Mesmíssimo argumento usado pela Suzuki para o Jimny nacionalizado.

A lista de equipamentos do ASX só é interessante nas versões AWD. Os carros 4x2 entregam o mínimo: ar-condicionado automático, direção com assistência eletrônica, freios com ABS/EBD, comandos no volante (revestido em couro), sistema de som com Bluetooth. Ao optar pelo crossover "traçado", o comprador leva um pacotaço que inclui revestimento dos bancos em couro, aquecimento dos bancos dianteiros (com ajuste elétrico no do motorista), sistema de entretenimento com DVD, sensores de chuva, luminosidade e estacionamento, controles de estabilidade e tração, assistência de partida em rampas, nove airbags (um para o joelho do motorista) etc.

O motor é sempre o 2.0 MIVEC de 160 cv (a 6.000 rpm) e 20,1 kgfm de torque (a 4.200); apesar de fabricado no Brasil, por ora bebe somente gasolina (o sistema flex ficou para depois). A transmissão é manual de cinco marchas na versão 2WD, e sempre a CVT (variação contínua) com simulação de seis marchas sequenciais (acionáveis na alavanca ou nas hastes atrás do volante). Também não mudam, entre as versões, as rodas e os pneus: aro 18, medidas 225/55 (que privilegiam o conforto na rodagem). O carro importado tinha rodas aro 17.

Embora seja relativamente curto (4,3 metros), o Mitsubishi ASX entrega uma cabine distribuída sobre bons 2,67 metros de entre-eixos. Ele é "altinho", mas nem tanto: 1,61 metro, sem contar o rack. A altura livre do solo é de 19,5 cm, e o porta-malas comporta 605 litros (contando o compartimento abaixo do nível do assoalho).

A garantia é de três anos, sem limite de quilometragem, e as revisões, que acontecem a cada seis meses, têm preço médio na faixa dos R$ 400. 

PRIMEIRAS IMPRESSÕES
UOL Carros participou de um test-drive do ASX nos arredores de Catalão, em estradas de asfalto e terra. A versão escolhida foi a AWD com teto panorâmico, topo de gama.

A cabine do crossover é sóbria e bem montada. O preto é a cor principal, enquanto a iluminação dos instrumentos é predominantemente branca, numa combinação simples e elegante. Os bancos revestidos em couro, dotados de aquecimento e, no caso do motorista, ajuste elétrico de posição, são os únicos luxos mais conspícuos. O espaço é adequado para quatro adultos. Faz falta, e muita, um sistema de navegação integrado. Algo já quase inadmissível num carro na faixa dos R$ 100 mil.

Em movimento, a aprovação ao ASX depende do que se espera do câmbio CVT. O sistema -- que dispensa as engrenagens específicas de cada marcha em favor da variação infinita de velocidades dentro da faixa de trabalho do motor -- deveria entregar um funcionamento suave, quase imperceptível devido à total ausência de trancos. Ainda mais porque, segundo a Mitsubishi, e aqui a citamos literalmente, "o câmbio possui o exclusivo INVECS III, que analisa o modo de dirigir de cada motorista, tornando as trocas de marcha muito mais suaves".

Na prática, porém, a teoria é outra: o software do tal INVECS III talvez só deslanche depois de uma convivência mais longa com o motorista, pois nosso test-drive teve alguns momentos em que o ASX parecia fora de sintonia com a estrada, apresentando giro baixo ou alto demais.

Potência e torque do propulsor de 2 litros são perfeitamente adequados ao porte do modelo, diga-se, mas seriam muito melhor aproveitados por uma transmissão automática ou automatizada de seis ou sete marchas. Prova disso é que, no modo Sport, é possível explorar manualmente seis velocidades virtuais no CVT, tornando a condução mais prazerosa e suave.

  • Lá vem o ASX, descendo a ladeira: motor 2.0 a gasolina é forte, câmbio CVT é chato

Nos trechos off-road encarados pelo ASX havia apenas obstáculos suaves, mas ligamos e travamos a tração nas quatro rodas. Ele teve bom comportamento, mas durante o teste cruzamos com diversos carros infinitamente mais baratos e menos sofisticados que ele -- todos trafegando numa boa, todos desprovidos dessa "frescura" de AWD...

Na verdade, o motorista que pretenda usar o carro apenas em vias pavimentadas também poderá se beneficiar do sistema de tração integral. Ele ajuda a manter o ASX "no trilho" em estradas sinuosas e/ou com piso molhado; em conjunto com os controles eletrônicos de tração e estabilidade, forma um respeitável aparato de segurança ativa (aquela que trabalha para evitar acidentes).

O ASX 2013, importado do Japão, obteve desempenho fraco no programa de etiquetagem energética (Conpet-PBE Veicular): notas C (4x2 M/T), C (4x2 CVT) e D (4x4 CVT) na comparação com todos os tipos de carros, e D, C e A, respectivamente, na categoria específica. Consumo: 8,5/11 km/l, 8,9/10,7 km/l e 8,4/10,4 km/l (urbano/rodoviário). O nacional ainda será avaliado.

A conclusão é que o ASX é uma opção interessante na faixa de preços de R$ 80 mil a R$ 110 mil, caso haja interesse num modelo robusto e imponente, mas perfeitamente adequado ao uso urbano. Traços simples e fortes, grade frontal agressiva, rodas marcantes e silhueta musculosa podem decidir uma compra na comparação com rivais plácidos e "gorduchos" (pense no ix35 e, principalmente, no Captiva). Pena que a Mitsubishi não quis ceder no preço -- ou alguém aí acredita na explicação da empresa para manter a tabela praticamente inalterada?

É um (mau) sinal de que o novo regime automotivo talvez não mude muita coisa no bolso do consumidor.

VÍDEO OFICIAL DO NOVO ASX

Viagem a convite da Mitsubishi