"Dodge Dart custaria R$ 130 mil", lamenta Chrysler; leia impressões
Era uma vez o Salão de Detroit de 2012. Há um ano e meio, uma Chrysler recém-salva da crise financeira fazia sobrancelhas se erguerem em seu estande no Cobo Center (local onde o "auto show" norte-americano é realizado) ao mostrar o primeiro fruto real da aliança com a italiana Fiat (nada de simples troca de emblemas, como no caso do crossover Dodge Journey convertido em Fiat Freemont). Nascia ali o novo Dodge Dart.
Executivos americanos e europeus afinaram o discurso, mas ainda assim soaram falsos como vilões de contos de fada a alguns ouvidos ao negar a possibilidade de vender o sedã no Brasil, fosse com o emblema da Dodge ou com o escudo da Fiat: "Este sedã é premium demais, recheado demais, grande demais para ser um novo Linea".
Arautos da mídia, os primeiros a não acreditarem no que havia sido dito, cravaram à época que o três-volumes construído sobre a plataforma do Alfa Romeo Giulietta seria, sim, o herdeiro do Fiat Linea em terras brasileiras. Mas, de fato, o carro nunca fez seus 184 cavalos (da versão mais poderosa) "cavalgarem" pelo país. Nem mesmo a versão chinesa do modelo, o simplificado Viaggio (este sim ostentando o brasão italiano), é confirmada para desfilar no asfalto local... ainda que se acredite que até 2015 ela virá. Fim da história?
Você compraria o sedã Dodge Dart por R$ 130 mil?
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"Há apenas um problema: o Dart custaria R$ 130 mil no Brasil, mais ou menos o preço do Volvo V40". UOL Carros ouviu esta explicação de um executivo da marca mais de uma vez -- a repetição foi para ter certeza de que a mensagem seria entendida -- na última semana, durante o "What's New".
Realizado anualmente pela Chrysler, o evento mostra (como diz o nome em inglês) o que há de novo em todas as linha do grupo americano (agora sob comando total da Fiat) e pela primeira vez contou com membros da imprensa especializada de fora dos Estados Unidos.
Também para termos certeza de que tudo ficou claro, questionamos novamente sobre a possibilidade do Dart ser vendido no Brasil. A justificativa dada parece ser definitiva: o Dart seria tão caro, que jogaria por terra qualquer estratégia comercial da empresa no país. Em resumo, venderia pouco, prejudicaria outros modelos da empresa e impediria todos de serem felizes para sempre.
"Outras empresas podem achar viável vender um carro deste tamanho neste preço, mas a Chrysler acredita que inviabiliza a venda e ainda nos atrapalha, pois fica perto demais do patamar dos Jeep", completou, antes de desafiar: "É um carro com diferenciais, mas você pagaria tão caro para ter um carro dessa categoria?"
De fato, a Volvo acaba de lançar no Brasil o hatch V40 por iniciais R$ 116 mil. A estratégia sueca é vendê-lo como carro premium de entrada e brigar com os alemães Mercedes-Benz Classe A, Audi A3 e BMW Série 1. O atrativo está na tecnologia (o carro é tão conectado como um smartphone) e segurança (é considerado o modelo "mais seguro do mundo", segundo testes da Euro NCAP), ainda que isso só possa ser aproveitado com pacotes opcionais, que jogam o preço para algo entre R$ 130 mil (bingo!) e R$ 153 mil.
Isso não serve para a Chrysler: "Premium o Dart, mas não queremos vendê-lo como um rival de [Volvo] S60 e dos alemães", afirmou a mesma fonte. UOL Carros fez algumas contas e chegou a esta conclusão: com tamanho de sedã médio (são 4,67 metros de comprimento com 2,70 m de entre-eixos, 1,83 m de largura e 1,46 m de altura), o Dart deveria custar entre R$ 80 e R$ 90 mil, no máximo, para competir com rivais mexicanos, japoneses e coreanos, não interferir com o restante da gama Chrysler (iniciada em R$ 99 mil pelo Jeep Compass) e ter uma história verossímil no país.
Tecnologia para atrair compradores e mecânica para satisfazer motoristas, ele tem. Mas a origem do Dart "mancha" seus predicados tanto quanto a fuligem no rosto da Cinderela no começo do conto infantil: fabricado apenas em Belvidere (Estados Unidos), teria de pagar imposto cheio de importação (o que, aliás, os sul-coreanos fazem), pesando na conta e tirando toda a competitividade.
DART GT É BOM E ANDA BEM
Quase sem esperanças de circular pelas ruas brasileiras num Dart, UOL Carros aproveitou a chance de pilotar o Dart GT numa das pistas de testes da Chrysler em Chelsea (EUA), onde o grupo mantém seu campo de provas. No mercado americano, a linha tem cinco versões versões (SE, SXT, Rallye, Limited e a esportiva GT) com preço mínimo de US$ 15.995 (R$ 35 mil, limpos) e teto de US$ 24.625 (quase R$ 54 mil).
Este Dart mais caro é recheado com todos os recursos disponíveis nos grupos Chrysler e Fiat e magnético ao olhar: grade preta brilhante, faróis e rodas de cinco raios e 18 polegadas de aro com acabamento escurecido, dupla saída de escape, design atual e instigante e cores que farão corar qualquer um com índole mais conservadora -- exemplo vivo é o laranja Header Orange Clear.
"Príncipe" moderno, Dart GT tem cores como o laranja acima, ousado demais para o Brasil. Além disso, alguns dos "mágicos" recursos tecnológicos não poderiam ser usados no país.
Tecnologia de gente grande: nada de colocar a mão na maçaneta (e nem na chave, que pode ficar no bolso) para entrar ou dar partida no motor. Você é conectado? Sinta-se em casa, então, com as duas telas do Dart. A menor, de 7 polegadas em arco em feita em TFT, substitui o painel de instrumentos atrás do volante e leva além a ideia explorada pela Ford em seu Fusion ao permitir que o condutor escolha não só a ordem, mas também a forma e a cor das informações ali exibidas. A maior, central e retangular de 8,4 polegadas, abriga a central multitarefas e controla praticamente tudo no carro, do sistema de som ao ar-condicionado (de duas zonas). Permite ainda usar a telefonia básica e também a conexão pela internet que, aqui nos Estados Unidos, permite localizar restaurantes, postos de gasolina, cinemas, hospitais, receber informações de trânsito e acidentes em tempo real e ainda ficar de olho no histórico do carro -- esta função é curiosa e pode, por exemplo, mostrar aonde seu filho foi com o carro na noite anterior.
Tudo, absolutamente tudo, ao alcance de mãos e olhos é recoberto por material suave e de ótima qualidade: plástico emborrachado, couro Nappa ou tecido aveludado. E há espaço suficiente para que nenhum ocupante encoste em outro, se assim desejar (quem vai atrás e tem mais de 1,80 m pode ficar aflito com a pouca área livre acima da cabeça, culpa do teto arqueado). Um porém: na ânsia de abrir alas para passageiros, com bancos que parecem poltronas de tão amplos, o Dart peca por oferecer poucos porta-objetos é fazer a alavanca do freio de mão (que poderia ter sido trocada por botão de freio elétrico) encostar no assento do condutor.
Pacote completo também em segurança: dez airbags, freios com ABS (antiblocante), BA (assistência de frenagem emergencial), controles de estabilidade, de tração e de rolagem da carroceria são o básico; além disso, há ainda câmera e sensores de ré, de veículo no ponto cego, de movimento no sentido cruzado (útil quando se sai de ré de uma garagem) e sistema Latch para prender cadeirinhas de bebê no GT.
Mas e andando, alguém menos "nerd" vai perguntar? O Dart GT dá espetáculo também: o trem-de-força italiano tem motor 2.4, com receita diferente de downsizing ao trocar o turbo pelo sistema MultiAir, que pode ser resumido como uma injeção eletrônica para regular a quantidade de ar que entra na câmara de combustão. São 184 cavalos e 20,4 kgfm de torque de disposição geridos com suavidade pelo câmbio automático de seis marchas, num comportamento jamais visto em carro algum da Fiat. Pena tudo isso ser (ainda) inacessível.
Esportivo GT aposta em dupla saída de escape, apesar do motor ser um 4-cilindros em linha
Viagem a convite da Chrysler
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