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Chineses e governo francês vão dividir controle de Peugeot e Citroën

Carlos Tavares (esq.) e Philippe Varin, atual e futuro chefões da PSA, anunciam "sim" a chineses e governo - Eric Piermont/AFP
Carlos Tavares (esq.) e Philippe Varin, atual e futuro chefões da PSA, anunciam "sim" a chineses e governo Imagem: Eric Piermont/AFP

Fernando Calmon<br>Colunista do UOL

Com Redação de UOL Carros, em São Paulo (SP)

19/02/2014 11h40Atualizada em 19/02/2014 14h00

A direção do grupo PSA Peugeot Citroën chegou a um acordo, nesta quarta-feira (19) em Paris (França), com a fabricante chinesa Dongfeng e com o governo francês. Com o término da longa negociação, a família Peugeot -- até então principal acionista da aliança francesa -- aceitou dividir o controle da companhia com os outros dois sócios. Chineses, governo francês e família Peugeot terão 14% das ações, cada.

De acordo com a imprensa internacional, Dongfeng (que é uma companhia estatal conhecida localmente pela fabricação de modelos aventureiros e veículos comericias) e o governo francês vão pagar, cada um, 800 milhões de euros pela fatia de 14%. No total, o investimento dos novos sócios será equivalente a R$ 5,3 bilhões (1,6 bilhão de euros, pelo câmbio desta quarta-feira). Além disso, a própria PSA e seus atuais investidores precisam conseguir outros R$ 5 bilhões para acertar as finanças, segundo cálculos.

  • Divulgação

    Entre os modelos da Dongfeng estão um hatch aventureiro e um SUV que imita os Hummer 

  • Newspress

O anúncio do acordo -- que será formalizado em março -- foi feito por Philippe Varin e Carlos Tavares, respectivamente o atual e o futuro presidente-executivo da companhia. Até lá, a nova estrutura acionária deverá ser definida. Até 2013, a família Peugeot e empresas associadas detinham 25,5% das ações, mas com predominância no direito a voto; instituições estrangeiras, 29,2%; investidores particulares, 16,7%; instituições francesas, 14,7%; GM, 7%; Tesouro francês, 3,6%; e associação de funcionários, 3,2%.

SÓ TRADIÇÃO NÃO BASTA

  • DIVULGAÇÃO

    Fábrica da PSA em Sochaux, em 1951. Unidade francesa fez cem anos em 2012.

  • A situação da PSA é emblemática, mas não surpreendente. É mais um sinal de que o mercado automotivo mudou radicalmente nos últimos anos e de que velhas ideias não funcionam mais.

  • Uma das pioneiras no setor automotivo, a Peugeot (marca mãe do grupo PSA) tentou se manter sob influência dos controladores originais -- a família que dá nome à marca --, em vão.

  • A imprensa europeia lembra que após a definição deste caso, apenas duas marcas fortes europeias seguem sob controle dos acionistas familiares originais: a alemã BMW (na mão dos Quandt) e a italiana Fiat (com os Agnelli).

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  • Fato é que a Peugeot segue a mesma estrada apertada e esburacada pela qual já passaram também a sueca Volvo, comprada em 2010 pela Geely, outra montadora chinesa (que detém também os direitos sobre a marca que fabrica os tradicionais táxis de Londres), e Jaguar-Land Rover, adquirida em 2008 pela então pouco conhecida indiana Tata Motors.

  • Há também uma curiosa profecia -- misto de observação do mercado e fortes análises econômicas -- que aponta um futuro ideal com apenas seis grupos fabricando carros. No momento, temos 13 grandes alianças: Toyota, General Motors, Volkswagen, Ford, Fiat-Chrysler, Renault-Nissan, Daimler-Mercedes, BMW, Honda, Hyundai-Kia, Tata-Jaguar-Land Rover, Geely e agora Dongfeng-PSA.

  • Quem vai sobreviver e como? (EAB)

Em comunicado, a Dongfeng afirmou que o objetivo das companhias é "fortalecer a cooperação intercontinental e vender 1,5 milhão de carros das marcas Dongfeng, Peugeot e Citroën por ano, a partir de 2020".

Os chineses e a PSA já formam joint-venture na China, mas com baixos resultados.O governo francês detém também 15% de participação na Renault, rival da Peugeot Citroën.

LONGO CAMINHO
Com a queda do mercado europeu, baixa presença fora do Velho Continente e questões cambiais, a PSA enfrenta deficit financeiro que a levou a perder vendas, cortar empregos e fechar fábricas no último ano. Recentemente, a Peugeot afirmou que teve prejuízo líquido de 2,3 bilhões de euros (R$ 7,6 bilhões) em 2013 e que deve seguir no vermelho até 2016.

No Brasil, as marcas Peugeot e Citroën venderam juntas 123.600 carros em 2013. São números bons para as empresas em seu histórico recente, mas no geral é uma soma ainda tímida e inferior, por exemplo, aos emplacamentos da Honda, oitava colocada no mercado nacional (quase 140 mil unidades). A líder Fiat emplacou mais de 760 mil carros no país no último ano.

Segundo analistas europeus, o esperado acordo ajuda, mas não facilita a tarefa de reestruturação da companhia, que é uma das mais tradicionais do setor automotivo global. A Peugeot foi fundada em 1810 por uma das mais antigas famílias francesas e começou no ramo de alimentos e ferramentas, antes de apostar em transportes.

Em 2012, a empresa anunciou cooperação com a americana GM, que previa troca de tecnologia e compartilhamento de plataformas (a base de fabricação dos carros), mas a parceria sequer deu frutos e foi encerrada em dezembro.

Desta vez, o plano tem de funcionar. A partir de março próximo, o português Carlos Tavares, que era o segundo na hierarquia da concorrente Renault-Nissan, assumirá como principal executivo da nova PSA.

Segundo outro executivo da companhia, o diretor financeiro Jean-Baptiste de Chatillon, a PSA deverá usar o capital novo para desenvolver carros de baixo custo e também investir em tecnologia híbrida. O objetivo é se recuperar no mercado europeu, onde foi deixada para trás pela rival francesa, mas também se expandir em mercados importantes, como a China, onde ainda é incipiente. (Com agências internacionais)